17/07/2013

Para onde caminha a Medicina?

Rui M. S. de Almeida

Uma série de medidas editadas pelo governo para “melhorar” o atendimento médico à nossa tão sofrida população tem surpreendido o País. Primeiro fomos surpreendidos pela notícia da “importação” de médicos para resolver o problema da falta de atendimento em determinadas regiões; depois, a hipótese de que exerçam a medicina sem se submeter ao exame de proficiência, o Revalida, obrigatório por lei para médicos estrangeiros em vários países do mundo. Com isso, releva-se o conhecimento dos médicos e diminui-se a qualidade de atendimento à população.

Sabemos que não há falta de médicos; o que existe é a sua má distribuição pelas diversas regiões. A pergunta a ser feita é por que faltam médicos em certos municípios e o atendimento em outros é deficiente? A resposta é simples: porque não existe uma remuneração justa para esses profissionais e, acima de tudo, não há condições para o médico desenvolver aquilo que levou anos para adquirir, que é a capacidade de diagnosticar e tratar doenças.

A remuneração que se acha justa não é algo aviltante, mas compatível com a de outras profissões que têm carreira estabelecida. O que ocorre é que, ao aceitarem condições ofertadas por alguns municípios, após algum tempo estas são trocadas por decisão arbitrária de quem contrata.

Mas talvez não seja esta a razão principal. Devemos avaliar as condições nas quais os médicos trabalham nesses municípios; devemos ver se há não só estrutura para atendimento, como aparelhagem que permita realizar o diagnóstico e o tratamento adequados. Há que se ver também que, por total ingerência, por vezes hospitais são bem equipados com verbas obtidas com dificuldades, porém a aparelhagem fica abandonada, sucateada, sem uso, privando a população mais necessitada. E o que é pior: os gestores terceirizam serviços de outros lugares, aumentando o custo.

Mas, como resolver este problema? Devemos apelar para a ciência dos números.

Quanto é investido em saúde neste País? Pelas informações obtidas de diversas fontes, menos de 5% do PIB. Com esse valor, como conseguiremos resolver os problemas da saúde?

Em países como Estados Unidos e Canadá são aplicados de 15% a 20% do PIB, em outros países da América do Sul a aplicação é mais do que o dobro se comparada ao Brasil. A resposta, portanto, é NÃO conseguiremos.

Apenas tapamos o sol com a peneira ao transpormos o problema, num raciocínio simplista, para a falta de médicos.

Primeiro devemos ter uma política séria de investimentos em saúde, com planejamento e metas prioritárias, sendo realizada não somente por órgãos governamentais, mas também por instituições representativas da classe médica, como a Associação Médica Brasileira e o Conselho Federal de Medicina. Isso deve ser realizado olhando o futuro, pois, apesar do SUS ser, em teoria, um bom sistema, não é bem gerido e, mormente, não cobre sequer os custos.

Por que os nossos hospitais do SUS estão sucateados? Por que faltam medicamentos e material básico? Talvez a razão principal seja porque o emprego de dinheiro para a compra de aparelhos é importante para quem os adquire, em função das benesses obtidas, quer sejam políticas, econômicas ou sociais. No entanto, a manutenção de um padrão de custeio e dos profissionais que, diuturnamente, trabalham para o tratamento de pacientes, não traz dividendos e pode ser esquecida.

Entendemos, assim, que os problemas que a população sofre não são decorrentes da falta de médicos, mas de dois fatores não alardeados pelo governo: falta de investimento e mau gerenciamento.

Artigo escrito por Rui. M. S. Almeida, cardiologista, cirurgião cardiovascular e professor universitário em Cascavel.

Publicado no Jornal O Paraná do dia 17/07/2013.

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