06/06/2013
Roberto Luiz d'Avila
As entidades médicas reconhecem a importância de estender atendimento de qualidade às populações
dos pequenos municípios e das periferias dos grandes centros. Mas como resolver isso?
Para o governo, a solução
se resume na presença de um médico num posto de saúde. Esse entendimento assume proporção
ainda mais grave quando ele propõe importar médicos estrangeiros sem revalidação de títulos
para ocupar os espaços nos rincões do país. Ao trilhar esse caminho, o governo fere as normas legais,
desvaloriza os profissionais nacionais e, sobretudo, coloca a vida de milhões de brasileiros em situação
de risco.
Argumenta-se que onde há carência total de profissionais, “alguém” com um
mínimo de conhecimento faz a diferença. O problema é que esse alguém – na tentativa de fazer
a coisa certa – pode diagnosticar errado, prescrever de forma inadequada, retardar tratamentos e induzir a práticas
errôneas.
Candidatos ao exercício da medicina em território brasileiro devem ter seu conhecimento
avaliado de forma criteriosa. E o governo já tem instrumento para isso: o Exame Nacional de Revalidação
de Diplomas Médicos (Revalida), criado por ele mesmo, em 2010.
Ora, o Brasil é um país de imigrantes,
e o CFM jamais seria contra a vinda de médicos estrangeiros, como nunca foi e não é. No entanto, não
pode abrir de suas prerrogativas de exigir e defender a boa prática médica no país. Que venham seis mil
ou mais. No entanto, que todos sejam aprovados em exames justos, sem concessões.
Certamente, a crise assistencial
é urgente e, portanto, exige medidas igualmente urgentes. Inclusive, as entidades estão dispostas a negociar
termos para que o trabalho do médico se realize nesses locais, mas tendo como pressuposto a transitoriedade dessas
alternativas. Há poucos dias, o Conselho Federal de Medicina (CFM) entregou ao Palácio do Planalto um plano
de ação, com o qual podemos vislumbrar soluções para os impasses identificados.
A principal
proposta – de efeito imediato – foca na oferta da oportunidade e estímulo aos médicos formados no
Brasil para ocupação dos postos de trabalho existentes nas áreas de difícil provimento. Esse seria
o âmago do Programa Nacional de Interiorização da Medicina, que supriria a carência, especialmente,
dos municípios sem médicos ou com populações de até 50 mil habitantes.
Muito se
fala da resistência do médico a se instalar nos vazios assistenciais. Não é verdade. Se houver
oportunidades sólidas, com todo o aparato necessário para que o trabalho se realize, milhares se apresentarão.
Enquanto vigorar essa alternativa temporária , o governo teria tempo para construir e implementar carreira federal
de Estado para o médico do Sistema Único de Saúde (SUS), essa sim, uma resposta definitiva para a fixação
dos profissionais nas áreas de difícil provimento.
Onde há condições de trabalho
existem médicos, onde não há essas condições, não existem médicos. Ressaltamos
mais uma vez nossa incompreensão da tese de que a simples alocação do médico em um determinado
município tornará a população assistida. Para que esse benefício seja oferecido com efetividade
e eficácia, é necessário interiorizar o sistema de saúde, no qual o médico é um
integrante importante, mas não suficiente para que os resultados ocorram.
Certamente, essa aposta implica em
maior investimento em saúde, com alocação de recursos na proporção necessária à
demanda para bem assistir a população. Diante de tamanho desafio, os conselhos de medicina querem colaborar
com esse processo de forma ativa e estão abertos ao diálogo para dotar o país de médicos competentes,
comprometidos, bem preparados e estimulados a cumprir sua missão de levar o bem-estar e salvar vidas.
Artigo escrito por Roberto Luiz d'Avila, Cardiologista, presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM).