06/09/2013

Países vizinhos ao Brasil temem evasão de médicos

Argentina e Uruguai demonstram preocupação com o número de profissionais interessados no programa brasileiro

clique para ampliar>clique para ampliarPaíses vizinhos temem evasão de médicos para participar do programa do governo brasileiro.

Funcionários dos governos da Argentina e do Uruguai estão preocupados com a saída de profissionais desses países para trabalhar no programa Mais Médicos. Ontem, o diário Clarín, da Argentina, divulgou a preocupação das autoridades com a perda de mão de obra em municípios de fronteira, que também sofrem deficit de profissionais. De acordo com o Ministério da Saúde brasileiro, a Argentina foi a nação que teve o maior número de inscritos - 73 médicos. O Uruguai é o quinto na lista, com 21 participantes.

A reportagem do periódico mostra que no município El Soberbio, no estado de Misiones, que faz fronteira com Santa Catarina e Rio Grande do Sul, de oito médicos que trabalhavam lá, três vieram ao Brasil pelo programa. No texto, o representante da pasta da Saúde de Misiones, Oscar Herrera Ahuad, reclama da situação. "Eles estão tomando nossos médicos, independentemente da especialidade, é algo que nos preocupa muito." Segundo o Clarín, o diretor do hospital da cidade pretende relatar o caso ao governador do estado com a intenção de fazer uma queixa formal ao Brasil.

O interesse dos argentinos pelo programa estaria relacionado a melhores condições de trabalho. Por aqui, eles receberão R$ 10 mil por 40 horas de serviço semanal. O valor é o dobro do que ganha um profissional na Argentina. A quantidade de estrangeiros desse país que vem ao Brasil tende a aumentar na medida em que outros editais de convocação da iniciativa forem abertos. A Argentina foi um dos países visitados pelo Ministério da Saúde brasileiro com a intenção de divulgar o Mais Médicos.

Em outro vizinho latino-americano, o Uruguai, preocupação semelhante foi explanada pelo presidente do país José Mujica, de acordo com o diário El Observador, na quarta-feira. O jornal informou que Mujica conversou com Dilma Rousseff para pedir a ela que não faça campanha sobre o programa no país. Os motivos para a emigração dos uruguaios são semelhantes aos dos argentinos: melhor remuneração.

O tema levou a ministra da Saúde uruguaia, Susana Muñiz, a criticar os médicos que iriam ao Brasil por "S$ 1.000 a mais" na semana passada. O Colégio Médico do Uruguai, equivalente ao Conselho Federal de Medicina (CFM), também montou um grupo para acompanhar as inscrições dos profissionais. A entidade vai analisar o impacto da medida nas cidades de fronteira brasileira.

A iniciativa foi lançada como forma de aumentar a quantidade de médicos no país, considerada insuficiente pelo governo, principalmente em cidades do interior e periferias das grandes cidades. No Brasil, a proporção é de 1,8 profissionais para cada mil habitantes. Na Argentina, a proporção dessa taxa é de 3,2 e no Uruguai, 3,7. Segundo o Ministério da Saúde, o acordo foi feito com base em orientações da Organização Mundial de Saúde, cuja lógica é permitir a inscrição de países com proporção de médicos superior a 1,8 por mil habitantes. 

Além disso, a pasta destaca que o Mais Médicos não é um programa de importação permanente, já que os profissionais vem com contrato de três ano. Aqui, eles fazem uma especialização em saúde da família e podem retornar ao país de origem com a experiência em atenção básica.

Alto número de ausências

Depois de quase uma semana, desde que os profissionais que participam do Mais Médicos começaram a se apresentar nos municípios onde foram alocados, o número de participantes selecionados na primeira etapa se mantém reduzido em relação à oferta original. Diante das ausências, o Ministério da Saúde estabeleceu uma tolerância de 10 dias. Aqueles que ainda não se prontificaram, têm até a próxima quinta-feira, dia 12, para começar os atendimentos nas unidades básicas de saúde. Os que não comparecerem até essa data serão excluídos da iniciativa.

No Distrito Federal, dos 15 orientados para trabalhar em áreas carentes de médicos, apenas nove se apresentaram. Segundo a Secretaria de Saúde do DF, o restante desistiu da participação. De acordo com a pasta, uma profissional informou que está participando de um curso e, por isso, não poderia começar a trabalhar no prazo estabelecido pela secretaria -- a próxima segunda-feira.

Em Goiânia, capital que receberia o maior número de profissionais, 40, apenas 24 se prontificaram. Lá, os selecionados para o programa já estão trabalhando. Em Fortaleza, 11 dos 26 profissionais também abriram mão da iniciativa. A situação se repetiu em outros municípios do país. Muitos médicos alegaram a falta de infraestrutura nos postos de saúde e a carga horária de 40 horas semanais para justificar as desistências e os desligamentos. De acordo com o Ministério da Saúde, ainda não foi feito um balanço total das ausências.

Demanda

Na quarta-feira, no Congresso Nacional, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, reafirmou que a situação reforça o diagnóstico de que "só a oferta de médicos brasileiros não será suficiente para atender a demanda de 17.125 médicos gerada por 4.025 municípios, inscritos na primeira e na segunda etapas". Dados do ministério mostram que, no segundo mês de adesão ao programa, 3.016 médicos se inscreveram, sendo 1.602 formados no exterior. No primeiro mês, foram 18.450 cadastros, mas com apenas 1.096 homologações de brasileiros e 282 de estrangeiros.

Fonte: Correio Braziliense

Envie para seus amigos

Verifique os campos abaixo.
    * campos obrigatórios

    Comunicar Erro

    Verifique os campos abaixo.

    * campos obrigatórios