22/04/2009
País terá centro internacional de formação em saúde pública
Com o apoio da Fiocruz, escola vai atender médicos, enfermeiros e profissionais do setor
O Brasil será sede de um centro internacional de formação de gestores da área de saúde que vai atender bolsistas de países
da América do Sul. O objetivo é tentar reduzir desigualdades regionais na formação dos profissionais. Além disso, o País fará
parte de uma rede internacional de combate à dengue.
A decisão foi tomada ontem durante reunião do Conselho de Saúde Sul-Americano, realizada em Santiago, no Chile, com a
presença de ministros dos 12 países-membros da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), criada em 2008.
Batizado de Escola de Saúde Pública da América do Sul, o centro terá apoio da Fundação Oswaldo Cruz e deve ser instalado
no Rio. "O financiamento dos pesquisadores será compartilhado com cada país", disse o ministro da Saúde, José Gomes Temporão,
ao Estado.
A formação dos gestores prevê a concessão de cem bolsas de pós-graduação por ano para médicos, enfermeiros e profissionais
de saúde dos países sul-americanos. O projeto faz parte de um programa traçado pela Unasul com o objetivo de diminuir desigualdades
regionais na formação de gestores capacitados a promover o acesso da população aos serviços de saúde. Hoje, no Brasil, por
exemplo, 455 municípios não contam com nenhum médico. A carência de profissionais é maior nas regiões Norte, Sul e Sudeste,
onde 25,7%, 25,5% e 24,4% das cidades não têm nenhum médico.
Em alguns locais da América do Sul, a situação é ainda pior. Apesar de a região ter 650 mil médicos, 210 mil enfermeiros
e 330 mil dentistas, países como Guiana, Suriname e Bolívia não contam com a cobertura mínima de 25 trabalhadores de saúde
para cada 10 mil habitantes, segundo a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS).
"A capacitação de gestores e a dificuldade em organizar suas redes de atendimento ainda são um problema na região", disse
Temporão. A escola vai oferecer bolsas no valor de U$ 1,5 mil (cerca de R$ 3,4 mil) para profissionais brasileiros e estrangeiros,
com financiamento compartilhado entre as agências de fomento à pesquisa de cada país. O orçamento é de U$ 2,4 milhões (R$
5,37 milhões) por ano e a instalação do centro é de responsabilidade do Brasil.
AÇÕES COORDENADAS
Esta é a segunda reunião da Unasul para a definição de programas multilaterais - a primeira foi dedicada ao tema da segurança
interna e defesa. Do encontro de ontem também resultou a criação do Escudo Epidemiológico Sul-Americano.O programa consiste
no monitoramento de doenças recorrentes, como a leishmaniose, a tuberculose e a dengue.
Além da formação de profissionais e da criação de um sistema de vigilância mais sensível às possíveis epidemias, o Conselho
de Saúde Sul-Americano, da Unasul, prevê ainda a instalação de redes de atendimento universais em todos os países da região,
da mesma forma como opera no Brasil o Sistema Único de Saúde (SUS). Completam o programa a atuação em determinantes sociais,
como a pobreza e desnutrição, e o acesso universal a medicamentos.
Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), doenças transmissíveis, como a tuberculose, causam 10,6% das mortes
na América do Sul. Os cânceres, 17,1% e doenças do aparelho circulatório, 9,4% dos óbitos. No encontro, Temporão ressaltou
a necessidade de consolidar as redes locais e a importância do acesso aos serviços de saúde na fronteira. "Os sistemas são
heterogêneos e, com exceção do Brasil, é comum que os migrantes não sejam acolhidos", afirmou.
Fonte: O Estado de São Paulo