07/01/2016

O trote nas faculdades de Medicina

Luiz Ernesto Pujol

A malfadada e repetida recepção aos nossos futuros colegas não pode ser aceita pelo simples esquivar de responsabilidades por parte das diretorias de ensino.

O trote, nos moldes atuais, transformou-se em uma situação abusiva, na qual manifestam insanidades e incoerentes ações repletas de impulsos condenáveis com total desequilíbrio de razão, de humilhantes atitudes demonstrativas de prepotência, maculando e deturpando, perante a população, a imagem da Medicina e dos que a praticam.

Os anseios comuns de servir aos doentes por parte de veteranos e calouros, que devem professar o mesmo credo, obrigam àqueles o reconhecimento e respeitoso acolhimento dos aprovados, com aplausos e efusivas saudações pela vitória conquistada por merecimento próprio, após esforço ativo, tensões perseverantes da vontade, abnegação de propósito e sacrifícios pessoais e familiares.

Incoerente e inaceitável, ética e moralmente, é a persistência da prática atual.
Em nome do Conselho Regional de Medicina do Paraná, manifestamos a todos os estudantes de Medicina o repúdio ao trote, que tenha em sua essência resquícios de humilhações, preconceitos, assédios ou outras formas de agressões. Assim, é de se recomendar que a recepção aos ingressantes nas escolas médicas tenham conotação entusiástica e de júbilo pela conquista reservada aos vencedores.

Numa época de violência, hostilidades e atos inescrupulosos, a sociedade necessita de resiliência, conciliação e respeito, o que atrairá estabilidade, disciplina e verdadeira humanização no convívio entre as pessoas.

Nesta reflexão que deve alcançar todas as escolas formadoras, independentemente da área do saber, é preciso que os professores não se descuidem da conscientização dos alunos sobre os valores éticos inerentes à profissão que escolheram, conduzindo a uma cultura de repulsa a atitudes que incorram em desrespeito.

Assim, que sejam estimulados os chamados “trotes sociais”, despertando para condutas de solidariedade, beneficência, dignidade e justiça que se esperam daquele que vai ingressar no mercado de trabalho sob expectativa de fazer o melhor de si em prol da atenção à saúde da população, no caso dos futuros médicos.

Luiz Ernesto Pujol é presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná.

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