15/12/2015
Alcino Lázaro da Silva
O paciente procura o médico porque necessita se curar de alguma lesão, ser acompanhado numa doença, extrair um mal que afeta a sua saúde, controlar um desequilíbrio psíquico, sustar uma psicopatia, fazer prevenção e, finalmente, confortar-se. Para a solução de qualquer uma das situações acima, existem hoje, tecnologias sob várias formas. Entretanto, os recursos empregados nesse esforço dão respostas às questões médicas, mas não satisfazem, completamente, os pacientes.
Isso ocorre quando faltam dois recursos essenciais na relação médico-paciente: o cuidado e o toque físico. No primeiro, exerci-ta-se a holística, e no segundo, a intimidade e o sigilo. Quando isso não acontece, fica fácil fazer queixas e denúncias ao Conselho Regional de Mediana, tidas como erro médico, expressão que eu substituo por infortúnio.
Não se ensina ao jovem estudante de Medicina que, na imaturidade escolar, não se deve trocar o estetoscópio por um sonar; uma radiografia de tórax por uma tomografia; uma radiografia simples de abdome por um ultrassom; uma visão clínico-endoscópica por um "petscan".
A escola não ensina mais que as mãos detectam lesões diversas e que, delicadamente, percebem irritações teciduais quando há acometimento inflamatório de qualquer natureza. Ela não ensina que a necessidade de o paciente ser ouvido dá ao médico chaves importantes para elaborar a semântica necessária à elucidação diagnóstica.
Por que ocorre o desentendimento? São vários os motivos. O que aflora no momento do encontro é, de um lado, a ansiedade do paciente e, do outro, o cansaço e a irritabilidade do médico por estar preso a acordos dos quais ele não participou, mas é obrigado a cumprir em face de seus compromissos profissionais.
O convênio, o plano de saúde, o seguro-saúde e o contrato são realizados entre interessados, mas sem a participação do elemento central que é o médico.
Não estão ensinando que o paciente não é um usuário e, sim um ser humano; que ele não é um objeto, é o sujeito da ação; que a ciência tem que ser o objetivo, mas que antes dela é o amor; que os exames complementares devem ser solicitados, mas antes deles há um nobre e humilde que se chama cuidado.
Enfim, não se ensina que o paciente é um ser humano e que deve estar acima de qualquer incompetência, fadiga, imposição social, exigência familiar e, acima de tudo, de maior ganho financeiro.
As escolas devem se modificar para colocar o paciente no centro das ações médicas, ou o enfrenta-mento, por parte do paciente, familiar e plano de saúde, se agravará.
O resultado será encher os tribunais, incluindo o Conselho Regional de Medicina (CRM). O que não se aprende na escola, adquire-se na vida diária, no sofrimento e na humilhação de, ante a um ser redivivo por ele, receber agressões, achincalhes, cobranças e desmoralizações.
Lutamos para humanizar o ensino médico, assistir o médico até nos seus sentimentos e fazer do CRM mais sala de aula e menos de tribunal.
Artigo escrito pelo médico Alcino Lázaro da Silva, conselheiro do Conselho Regional de Medicina do Estado de Minas Gerais.
*As opiniões emitidas nos artigos desta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do CRM-PR.