15/08/2008
Notificação sobre infecção por micobactéria será obrigatória
A notificação de infecções por micobactérias de crescimento rápido passará a ser compulsória no Brasil, como já ocorre com
outras doenças que podem trazer grave impacto à saúde pública - caso da dengue. Micobactérias são um tipo de microorganismo
encontrado no solo e na água e que atualmente causa uma epidemia de lesões nodulares e de difícil cicatrização entre pessoas
que se submeteram a videocirurgias e procedimentos estéticos. Um total de 76 casos foram registrados neste ano, contra 851
em 2007, números sem precedentes no mundo.
A decisão de obrigar a notificação da doença, exigida por especialistas de todo o País, ocorreu nesta quinta-feira (14),
após reunião da diretoria colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e sete anos depois dos primeiros
registros do problema.
A agência também descartou que o glutaraldeído, produto utilizado na desinfecção de materiais cirúrgicos, possa estar
envolvido nos casos, suspeita levantada há uma semana pelo próprio órgão regulador. Em nota técnica, divulgada pela agência
na sexta-feira passada (8), foi apontado que a substância ativa do produto poderia estar contaminada pelas bactérias.
Também estudos da UFRJ com três marcas do produto tinham apontado, em junho, que o glutaraldeído não consegue matar grupos
das bactérias mesmo após 10 horas de exposição dos microrganismos ao produto.
Nesta quinta-feira (14), a diretoria da Anvisa informou que a legislação que determina critérios para o registro do glutaraldeído
não exige que o produto comprove ação contra as micobactérias massiliense e abcessus, envolvidas na epidemia atual. Segundo
o órgão regulador, a legislação será adequada para passar a fazer a exigência. Também já foram solicitados à Funed, laboratório
público de Minas, estudos sobre a eficiência do produto contra as bactérias.
O diretor-presidente da agência, Dirceu Raposo de Mello, também prometeu fazer visitas a todos os Estados brasileiros
para cobrar providências das vigilâncias sanitárias locais, acompanhado de um grupo de técnicos da agência.
As primeiras notícias sobre a epidemia foram divulgadas em 2001. Em setembro de 2007, após reunião em Brasília sobre o
tema, foi revelado novo surto no Rio e em outros locais do País; em junho deste ano, a Anvisa reconheceu o retorno do problema.
A agência tomou medidas mais contundentes na semana passada, quando o governo do Estado do Espírito Santo decidiu suspender
as lipoaspirações e rever todos os procedimentos de combate à infecção hospitalar nos serviços após a confirmação da infecção
em cinco pacientes. Ainda na semana passada, pacientes foram recebidos em Brasília pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão,
e pelo diretor-presidente da agência. "O exemplo do Espírito Santo contribuiu para isso tudo e deveria ser seguido", avalia
a pneumologista Margareth Dalcolmo, que vinha defendendo medidas mais contundentes da Anvisa.
Fonte: Agência Estado