29/05/2007

Nota Técnica sobre reprocessamento de videolaparoscópicos

Comissão Estadual de Controle de Infecção em Serviços de Saúde (CECISS) e Associação Paranaense de Controle de Infecção Hospitalar (APARCIH) editam nota conjunta com recomendações técnica e preventivas.


Devido a ocorrência preocupante de infecções por micobactérias em larga escala nos estados do Pará, Rio de Janeiro, Mato Grosso, São Paulo e Distrito Federal, a CECISS, APARCIH e Vigilância Sanitária Estadual realizaram reunião técnica conjunta a fim de elaborar recomendações técnicas preventivas. A reunião ocorreu na Secretaria Estadual Sáude, no último dia 22 (maio), e contou com a participação de representantes de Hospitais Sentinela e de referência de Curitiba.

A provável causa destas infecções causadas por micobactérias é o reprocessamento inadequado dos videolaparoscópicos. Com o objetivo de alertar e orientar os profissionais de saúde que atuam nesta área, as entidades elaboraram em conjunto as informações técnicas descritas abaixo:


1) Micobactérias não tuberculosas (MNT) de crescimento rápido (MCR) - Grupo IV

- Mycobacterium abcessus

- Mycobacterium fortuitum

- Mycobacterium chelonae

Estas bactérias vivem no solo em água potável até 30graus, são resistentes a baixas concentrações de cloro e produzem biofilme que as protege.



2) Transmissão

A transmissão em estabelecimentos de saúde de MCR ocorreu associada a diversos procedimentos cirúrgicos videolaparoscópicos, endoscópios, broncoscópios, entre outros, procedimento estes, realizados sem o devido rigor de cuidados preventivos de infecção.

As infecções ocorreram principalmente associadas aos instrumentais de difícil limpeza, favorecendo a formação do biofilme. Outro dado observado, foram falhas no manuseio da solução desinfetante, mais comumente utilizada, o glutaraldeído.



3) Quando suspeitar de infecção por MCR?

 Infecções de pele e/ou tecido celular subcutâneo com sinais e sintomas como dor, nódulo e/ou abcessos com aspecto esbranquiçado, podendo evoluir com fístula, próximos aos orifícios de entrada de trocateres.

 Infecções que não respondem aos antimicrobianos usuais.

 Outro dado importante é o período de incubação, o qual pode variar entre 7dias a até 2 anos.



4) Diagnóstico

 Coletar material por punção com seringa, aspirando o maior volume possível da secreção

 Solicitação de cultura específica para micobacteria
OBS: materiais coletados por meio de swabs são inadequados devido ao ressecamento do mesmo.



5) Tratamento

A base do tratamento é o debridamento, pois reduz a carga bacteriana. Na escolha do antimicrobiano existem controvérsias sobre o melhor esquema,o ideal é realizar a escolha baseado no antibiograma.

Para o M. abcessus a droga mais eficaz é a claritromicina associada ou não a aminoglicosídeo, carbapenêmico, linezolida ou outra de ação bactericida.

O tempo de tratamento varia conforme gravidade de lesão e a espécie, em geral está em torno de 6 meses, podendo extender-se por até 1 ano.



6) Medidas preventivas

 Os estabelecimentos de saúde devem preferencialmente adquirir equipamentos próprios , com rotinas estabelecidas, profissionais treinados e local adequado para o reprocessamento destes materiais.

 Uso com cautela do glutaraldeído, uma vez que esta solução, não possui controle seguro, pois vários fatores interferem na sua eficácia , tais como: forma de diluição, presença de matéria orgânica, forma de imersão, tempo de uso, entre outros.O tempo de imersão atualmente utilizado de aproximadamente 40min, é considerado apenas desinfecção de alto nível (não elimina esporos); para a esterilização é necessário o tempo mínimo de 8 horas, porém já existem relatos de micobactérias resistentes, a este tempo ou mais, de exposição ao gluraraldeído. Portanto seu uso é muito propenso a falhas.

 Novos produtos estão surgindo no mercado com tempo de esterilização factível (30min), a base de ácido peracético, porém precisam ser devidamente validados e também estão sujeitos a falhas de manipulação.

 O ideal é realizar a esterilização do material de vídeo-laparoscópio, por tratar-se de material crítico e devido a sua característica de termossensibilidade, as opções atuais são o óxido de etileno ou plasma de peróxido de hidrogênio.


Recomendamos que todos os serviços de saúde que utilizem os equipamentos citados realizem vigilância através da busca ativa pós-alta dos pacientes submetidos a estes procedimentos, através dos respectivos Serviços /Núcleos de Controle de Infecção Hospitalar(SCIH/NCIH).Assim como, as equipes cirúrgicas, notifiquem rigorosamente os respectivos SCIH / NCIH de seus estabelecimentos, a fim de que medidas de controle sejam implantadas.



Referências:

1) Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica- Nota Técnica n°2/DEVEP/SVS/MS

2) Centro de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado da Sáude de São Paulo

3) Jornal do CREMERJ- Março 2007

4) Simpósio Internacional de Infecções Relacionadas a Assistência a Saúde- Maio/2007- RJ



Fonte: APARCIH e CECISS (www.aparcih.org.br)

Notificações: visa@sesa.pr.gov.br

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