06/10/2014
Americano-britânico e casal de noruegueses dividirão prêmio. Eles identificaram estruturas cerebrais que formam um sistema de posicionamento, permitindo nos localizarmos
John O'Keefe, May-Britt e Edvar Moser, ganhadores do Nobel de Medicina de 2014 (Foto: Divulgação/Prêmio Nobel)
O Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 2014 foi oferecido nesta segunda-feira (6) pelo Instituto Karolinska, em Estocolmo, aos pesquisadores John O'Keefe, May-Britt Moser e Edvard Moser por sua descoberta de células que formam um sistema de posicionamento no cérebro humano, uma espécie de "GPS" interno. O prêmio será dividido: metade é do britânico-americano O'Keefe e o restante é do casal de noruegueses May-Britt e Edvard Moser. Os agraciados compartilharão um prêmio de 8 milhões de coroas suecas (US$ 1,1 milhão).
Como é comum ocorrer no Nobel, os trabalhos premiados se complementam ao longo de um amplo espaço de tempo. A pesquisa de John O'Keefe começou na década de 1970. Em 1971, ele descobriu o primeiro componente do sistema de posicionamento -- um tipo de célula nervosa no hipocampo que era sempre ativada quando um roedor se encontrava num determinado local de um ambiente. Ele concluiu que essas "células de lugar" formavam um tipo de mapa de localização no cérebro.
Mais de três décadas depois, o casal Moser identificou outro tipo de célula nervosa que forma um sistema de coordenadas no nosso cérebro, permitindo-nos encontrar caminhos e saber nosso posicionamento de forma precisa.
A importância dos trabalhos dos pesquisadores, segundo o Instituto Karolinska, é que eles resolveram dúvidas que cientistas e filósofos discutiam há séculos: como sabemos onde estamos e por onde nos deslocaremos?
A descoberta de que o cérebro é capaz de trabalhar com "mapas" internos pode ajudar a compreender o que ocorre na mente de pessoas com o mal de Alzheimer, por exemplo, que comumente perdem seu senso de orientação. A compreensão do "GPS cerebral" também é importante porque pode servir de paralelo para entender outras funções cognitivas complexas.
Trajetórias
O’Keefe nasceu em 1939 em Nova York e, além de americano, é também britânico. É doutor formado pela Universidade McGill, no Canadá, e, desde a década de 1960, trabalha no Univrisity College de Londres, onde atualmente é diretor de um centro de estudos de circuitos neurais e comportamento.
May‐Britt Moser nasceu em Fosnavåg, na Noruega, em 1963. Formada em psicologia na Universidade de Oslo, onde estudou com seu marido, também ganhador, ela concluiu o doutorado em 1995. Ela passou pela Universidade de Edimburgo, na Escócia, e também no University College,e em Londres, até retornar à Noruega em 1996, na Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia de Trondheim.
Edvard Moser nasceu em 1962 em Ålesund, também na Noruega, e obteve o PhD em neuropsicologia na Universidade de Oslo, em 1995. Trabalhou com May-Britt na Universidade de Edimburgo e foi cientista visitante no laboratório de O'Keefe, em Londres.
Nobel de Medicina
O Nobel de Medicina é oferecido desde 1901 e já reconheceu o trabalho de mais de 200 pessoas – entre elas, onze mulheres. Não há premiações póstumas.
O pesquisador mais novo a receber esse Nobel foi Frederick G. Banting, que tinha 32 anos em 1923, pela descoberta da insulina.
Por nove vezes, o prêmio – que ganhou esse nome em homenagem ao inventor da dinamite, Alfred Nobel – não foi anunciado: em 1915, 1916, 1917, 1918, 1921, 1925, 1940, 1941 e 1942.
Medicina é sempre a primeira área valorizada com o Nobel a cada ano. Nesta terça-feira (7), será anunciado o de Física, na quarta (8) o de Química, na quinta (9) o de Literatura, e na sexta (10) o da Paz. O de Economia será anunciado na segunda-feira da próxima semana (13).
Os vencedores são geralmente informados pelo júri no dia do anúncio oficial e não há uma lista de concorrentes disponível previamente, o que torna a divulgação sempre uma surpresa – embora haja favoritos.
Veja os últimos ganhadores do Nobel de Medicina
2013: James Rothman (EUA), Randy Schekman (EUA) e Thomas Südhof (Alemanha)
2012: Shinya Yamanaka (Japão) e John B. Gurdon (Reino Unido), por trabalhos com células-tronco
2011: Bruce Beutler (EUA), Jules Hoffmann (França) e Ralph Steinman (Canadá), por descobertas sobre o sistema de defesa do corpo humano
2010: Robert Edwards (Reino Unido), pelo desenvolvimento da fertilização in vitro
2009: Elizabeth Blackburn (Austrália-EUA), Carol Greider e Jack Szostak (EUA), pela descoberta de uma enzima que protege as extremidades dos cromossomos
2008: Harald zur Hausen (Alemanha), pela descoberta do vírus do papiloma humano (HPV), causador do câncer de colo do útero; Françoise Barré-Sinoussi e Luc Montagnier (França), por descobertas sobre o vírus da imunodeficiência humana (HIV), que causa a Aids
2007: Mario Capecchi (EUA), Oliver Smithies (EUA) e Martin Evans (Reino Unido), por trabalhos com células-tronco e manipulação genética em modelos animais
2006: Andrew Z. Fire (EUA) e Craig C. Mello (EUA), pela descoberta da ribointerferência, um mecanismo exercido por moléculas de RNA
2005: Barry J. Marshall (Austrália) e J. Robin Warren (Austrália), pela dascoberta da bactéria Helicobacter pylori e seu papel na gastrite e úlcera estomacal
2004: Richard Axel (EUA) e Linda B. Buck (EUA), por descobrir os receptores de cheiro e a organização do sistema olfativo
2003: Paul C. Lauterbur (EUA) e Peter Mansfield (Reino Unido), pela invenção da ressonância magnética nuclear