03/06/2006
Não fumar, opção de vida!
Em 31 de maio é comemorado o Dia Mundial do Combate ao Fumo, mal que ajuda a matar 200 mil brasileiros todos os anos.
Desde 9 de agosto de 2005 sem fumar um cigarro. Essa é a nova rotina de Toni. Fumante desde os 14 anos, conseguiu largar
pela primeira vez o cigarro no dia 13 de fevereiro de 2000 e manteve a abstêmia até 14 de abril de 2003, quando teve uma recaída
e se deixou seduzir pelo antigo hábito do tabaco.
A nicotina é a substância química geradora de dependência mais importante na fumaça do cigarro. Ela é estimulante, com
efeitos semelhantes àqueles encontrados nas anfetaminas, cocaína e outros estimulantes. É ela que faz o usuário se sentir
com mais energia, alerta, e fornece um real incremento no ânimo e uma pausa breve para a depressão. Quando o fumante inala
a fumaça do cigarro, a nicotina e outras substâncias químicas na fumaça chegam em seu cérebro dentro de dez segundos após
a primeira tragada, experienciando imediatamente os efeitos agradáveis da substância química, que incluem excitação, relaxamento
e uma diminuição dos sintomas da abstinência.
Atualmente existe 1,2 bilhão de pessoas fumantes no mundo, sendo que sua prevalência na população adulta é de cerca de
24%. Segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA), no Brasil ocorrem 200 mil mortes/ano associadas ao tabagismo,
o que significa que 23 pessoas morrem a cada hora.
Fumar cigarros aumenta a vulnerabilidade a câncer de pulmão, doença do coração, ataque cardíaco e enfisema pulmonar. Em
1990, havia cerca de 157 mil novos casos de câncer de pulmão nos Estados Unidos, 90% deles foram causados pelo fumo. Doenças
cardíacas mataram 390.912 americanos em 1986; o fumar contribuiu para a morte de cerca de metade delas. Durante aquele mesmo
ano, derrames (AVC) mataram 59.164 americanos e o enfisema pulmonar matou 47.058.
Em 90% dos casos, o início do consumo de cigarros ocorre na adolescência e geralmente os fatores motivantes são sociais.
Além disso, o uso do tabaco pelos pais, colegas mais velhos e a influência da mídia são considerados fatores preditores do
consumo. Estima-se que 1/3 das pessoas que chegam a fumar um cigarro venham a se tornar dependentes e, destes, poucos conseguem
largar o cigarro em definitivo - apenas entre 1 a 5% conseguem manter-se abstinentes após uma tentativa sem tratamento; e
25% dos que abandonaram os cigarros tiveram sucesso definitivo em sua primeira tentativa.
"Eu voltei a fumar mas sabia que isso não tava certo. Quando vi eu já estava fumando havia mais de um ano e dizendo que
ia parar. Foi aí, então, que tomei a decisão de parar de novo, tentando usar alguns medicamentos. Nessa situação passei mais
um ano sofrendo, gastando com medicamentos e não parava de fumar. Fiquei nisso mais dois anos, usando esses medicamentos e
sem conseguir parar", diz Toni, personificado para retratar o drama presente de forma marcante no nosso cotidiano.
A escolha do melhor tratamento depende de uma boa avaliação inicial, tanto condições socioeconômicas, motivação do paciente
e diagnóstico devem ser levados em conta.
Há cerca de 10 anos a Clínica Quinta do Sol vem trabalhando no combate ao tabagismo. O PAAF, programa de avaliação e atendimento
ao fumante, vem auxiliando pessoas que desejam parar de fumar promovendo a abstinência do fumo e manutenção da mesma. Entendendo
este problema como uma doença que afeta não só a parte clínica mas também a psicológica, o programa enfoca três aspectos principais,
sendo eles: informações a respeito da dependência, atendimento clínico e tratamento farmacológico (uso de nicotina de reposição
e/ou antidepressivos) e suporte psicológico. "Com o programa eu tive o apoio fundamental para parar de fumar, porque já estava
entregue. Por mim mesmo eu já não parava mais. No programa você acaba assumindo uma responsabilidade, porque entram terceiros
no meio, já não é um compromisso só com você", afirma Toni.
O PAAF tem duração média de cinco semanas e os atendimentos podem ser individuais ou em grupo. Inicia-se o programa com
uma avaliação tendo por objetivo a apresentação do programa, bem como o estabelecimento do grau de dependência do fumante,
passando por estratégias para o abandono do fumo e mudanças no estilo de vida, seguida pela manutenção da abstinência e situações
potenciais de recaída. "Depois que parei de fumar minha saúde melhorou muito, tenho me sentido muito melhor do que quando
fumava. Tenho tido até mais prazer em praticar esportes. Além disso, vai chegando a idade e você vai pensando em algumas coisas,
como agora o cigarro só vai ajudar a me acabar mais rápido. Então resolvi parar", conta ele com orgulho.
Através do reconhecimento dos motivos pelos quais o fumante continua utilizando a nicotina, trabalha-se a capacitação
de enfrentamentos, desenvolvimento de habilidades e apoio social.
Franciane Veiga Cazella e Tamara Carnevali Marussig são psicólogas e especialistas em dependência química.