28/04/2022

Na passagem dos 251 anos de Guaratuba, a homenagem aos médicos que fazem parte dessa trajetória

Drs. João Cândido Ferreira e Heitor Borges de Macedo estão inseridos na história de uma das primeiras vilas do Estado. CRM-PR reverencia também a memória das vítimas da Covid, incluindo dois médicos da cidade

clique para ampliarclique para ampliarVista aérea de Guaratuba. (Foto: Valterci Santos)

Guaratuba, a segunda cidade mais populosa do litoral e o principal balneário do Paraná, está completando 251 anos em 29 de abril. Como parte das atividades comemorativas, no dia 25 a administração municipal prestou homenagem aos ex-prefeitos, entregando aos seus representantes as comendas do marco de 250 anos, honraria criada no ano passado com o objetivo de reverenciar cidadãos notórios ou instituições que cumpriram relevante papel no desenvolvimento e na história de Guaratuba. Desde o ano passado, várias homenagens já foram prestadas.

A solenidade foi realizada no Casarão Marcílio Dias, sede da Secretaria Municipal da Cultura e Turismo, tendo à frente o vice-prefeito Edison Camargo face ao isolamento, por causa de Covid-19, do chefe do executivo, Roberto Justos. Dez ex-dirigentes maiores da cidade foram homenageados, dentre eles o coronel Alexandre Mafra, o primeiro prefeito da então Vila de Guaratuba. Foi nomeado em 16 de outubro de 1906 pelo primeiro vice-presidente da Província do Paraná, o médico e político João Cândido Ferreira, que viria a ser um dos fundadores da UFPR.

Alexandre Mafra, que nomeia a Praça Central de Guaratuba, exerceu o cargo de prefeito até 1908 e depois cumpriu mandatos de 1918 a 1920, de 1924 a 1928 e ainda 1932. O engenheiro Wilson Mafra Meiler, neto do ex-prefeito, fez visita à cidade em novembro do ano passado, mas acabou falecendo apenas um mês depois. Na entrega da Comenda dos 250 Anos, a família foi representada pela esposa do Sr. Wilson, a médica endocrinologista Mônica de Biase Wright Kastrup (CRM-PR 6.281), residente em Curitiba e que foi conselheira do CRM por 20 anos. Confira AQUI outros homenageados de 2022.

clique para ampliarclique para ampliarDra. Mônica Kastrup e o vice-prefeito. (Foto: Divulgação)

O Conselho Regional de Medicina do Paraná congratula-se com todos os cidadãos guaratubanos na passagem do aniversário da cidade, em especial os médicos e demais profissionais de saúde que tanto contribuem para o desenvolvimento da região. De acordo com estimativas da administração municipal, hoje são aproximadamente meia centena de médicos atuando em Guaratuba, sendo que pelo menos 31 deles com domicílio na municipalidade confirmado em seus registros.

O CRM-PR também se solidariza com os familiares das vítimas da Covid-19. Foram pelo menos 198 óbitos na cidade, incluindo os dos médicos Marcos Petyk Sereja, cardiologista de 34 anos que faleceu em setembro de 2020, e Hildeberto Gonçalves, generalista de 81 anos que não resistiu à doença apenas três meses depois. Guaratuba criou o seu Memorial para homenagear as vítimas da Covid. Um monumento foi erguido na Praça da Paz. Com população residente estimada em 38 mil habitantes (a flutuante se multiplica na temporada e determinado períodos), o município registrou aproximadamente 10,5 mil casos do novo coronavírus.

Médicos em Guaratuba

O Conselho conta com a sua Representação Regional em Guaratuba, que tem como diretor o pediatra e médico do trabalho Acemar Silva (CRM-PR 5.698). O Dr. Acemar, que já foi vereador e secretário municipal de saúde da cidade, recebeu em agosto do ano passado o título de cidadão honorário e, agora, também a Comenda dos 250 Anos, em solenidade que ocorreu no dia 26 (terça-feira). Formado na segunda metade dos anos 1970 pela PUCPR, concentrou quase toda a sua carreira profissional em Guaratuba. A vice-diretora da Repreg é a Dra. Renadi Datsch Gerhard (CRM-PR 22.373), atuando como secretário o Dr. Carlos Eduardo da Silva Santos (7.996), médico do trabalho e que tem mais de 40 anos de exercício da Medicina.

clique para ampliarclique para ampliarDr. Izidro e conselheiro Donizetti Giamberardino Filho, na solenidade do Dia do Médico de 2012. (Foto: CRM-PR)

Dos médicos mais antigos da cidade ‑ e em sua maioria falecidos ‑ constam os Drs. Mário Eduardo Rossi (CRM-PR 1.409), de Monte Alto (SP), formado pela UFPR e inscrito no Conselho desde março de 1964; Isidro Tribulato (1.618), natural de Jaú (SP) e que se inscreveu no Conselho ainda em abril de 1965; Victor Dechandt Bacilla (2.018), inscrito em maio de 1967; João Eudes Parente de Alencar (3.023), inscrito desde janeiro de 1972; Luiz Sérgio dos Santos Marques (4.198), registrado em fevereiro de 1975; Percio Iararence Cavalheiro Garcia (4.499), ortopedista que estava inscrito desde outubro de 1975; e Elizabet do Rocio Perch Garbin (6.697), gineco-obstetra com registro de janeiro de 1980. O Dr. Mário Eduardo recebeu o Diploma de Mérito Ético pelo Jubileu de Ouro em 2011, enquanto o Dr. Isidro recebeu no ano seguinte. O Dr. João Eudes foi homenageado em 2019.

clique para ampliarclique para ampliarDr. Acemar também foi distinguido com a Comenda de 250 Anos. (Foto: Divulgação)

De acordo com os registros do Conselho, os médicos com mais tempo de registro e que estão em atividade na comunidade guaratubana, além dos Drs. Acimar e Carlos Eduardo, são a pediatra Regina Maria Saparolli Vianna (CRM-PR 5.327), psiquiatra Francisco Paschoal Faro Neto (5.540), generalista Ruy Macedo (5.622), neurologista Emílio José Scheer Neto (6.143), gineco-obstetras Angela Maria Moser (7.291) e Alvanir Ambrosio (8.967) e Dr. Tadeu José Resnauer (6.532), especialista em medicina do trabalho e medicina preventiva e social. A gineco-obstetra Sibeli Colaço Vaz (13.933) e o anestesiologista Romano Onyskiewicz (13.963), ambos com 30 anos de Medicina, também figuram no rol de homenageados com a Comenda dos 250 Anos.

Guaratuba foi a primeira cidade do litoral a instituir a sua comissão de ética no âmbito do serviço público municipal, que tem o papel de intermediar as demandas junto ao CRM. Os primeiros integrantes foram empossados no início de 2018, após eleição que envolveu todos os médicos contratados pela prefeitura. Os titulares eleitos na ocasião foram os Drs. Marlon Bozzo, William Fernandes e Renadi Gerhard, ficando a suplência o Dr. Evandro Tonatto.

clique para ampliarclique para ampliarIgreja bicentenária. (Foto: Arquivo)

História

De acordo com registros históricos, por volta do ano 1000 chegaram à região tribos do tronco linguístico tupi procedentes da Amazônia, que expulsaram para o interior do continente os povos que a habitavam, os tapuias. Quando da chegada dos primeiros navegadores europeus, eram os índios carijós que ocupavam a região. O nome Guaratuba deriva da língua tupi, que significa ajuntamento de guarás, menção à ave de plumagem vermelha que existia em abundância na área dos mangues.

A fundação da Vila de São Luiz de Guaratuba da Marinha data de 29 de abril de 1771, pelo tenente-coronel Afonso Botelho de São Payo e Souza. A primeira missa foi celebrada no dia 28 de abril de 1771, um dia antes de sua fundação.

Após a fundação da Vila de São Luiz da Marinha de Guaratuba, na enseada que fazia a divisa das Vilas de São Francisco do Sul e Paranaguá, já no dia seguinte foi eleita a primeira câmara municipal, com aprovação do Fundador da Vila e do Ouvidor Geral. A Vila de Guaratuba permaneceu dirigida pelos vereadores e assistida pelo Presidente da Província até a Proclamação da República, quando passou a eleger o seu prefeito, o que prosseguiu até 20 de outubro de 1838, quando foi extinto o município, passando a constituir um distrito de Paranaguá. Pela lei nº 02, de 10 de outubro de 1947, foi restaurada a autonomia política do município de Guaratuba, quando então passou a ter eleição para prefeito e vereadores.

clique para ampliarclique para ampliarCasarão do Porto. (Foto: Arquivo)

Patrimônio cultural

Guaratuba possui quatro patrimônios históricos e culturais registrados, sendo dois prédios tombados e dois patrimônios imateriais. A igreja bicentenária Nossa Senhora do Bom Sucesso, construída entre 1766 e 1771, foi tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1938; seu acervo foi tombado em 1972. O Casarão do Porto foi tombado pelo Patrimônio Histórico Estadual em 1960. Remanescente da arquitetura colonial, construído em pedras, conchas, areia e óleo de baleia. Em 1837, foi registrado numa aquarela pelo pintor francês Debret, o que permite situar a construção entre o final do século XVIII e as primeiras décadas do século XIX.

Em comemoração ao aniversário de 250 anos de Guaratuba, foi realizado o registro de patrimônio imaterial de dois bens culturais e históricos da cidade. As leis sancionadas pelo prefeito declararam como patrimônio imaterial a Festa do Divino Espírito Santo (junto com a manifestação cultural religiosa dos foliões do Divino, Lei nº 1.878) e o cultivo e preparo da Ostra Nativa da Baía de Guaratuba (Lei nº 1.879), que faz parte da história, da identidade, da cultura e da economia da cidade. Tem origem na vila de pescadores Cabaraquara, localizada depois da travessia do ferry boat. Além do pioneirismo, as ostras de Cabaraquara possuem o título de melhor ostra do país e uma das três melhores do mundo.

clique para ampliarclique para ampliarFesta do Divino será de 8 a 17 de julho. (Foto: Divulgação)

A Festa do Divino, de origem açoriana, ocorre tradicionalmente no mês de julho de cada ano desde a fundação do município tendo engajamento e apoio de toda a comunidade local. Teve seu início no período da colonização do Brasil. Em Guaratuba é tradicionalmente organizada há mais de 117 anos por um casal festeiro nomeado anualmente pela Igreja Matriz. Em 2022, a Festa do Divino vai ocorrer de 8 a 17 de julho. O tema em destaque é “Fale com Sabedoria e Ensine com Amor”, seguindo a Campanha da Fraternidade da Igreja Católica. Batista e Djalmo será o casal festeiro.

Morro do Cristo

O Morro do Cristo é mirante natural da cidade, de 38 metros. Localizado na Praia de Brejatuba, oferece aos visitantes uma bela paisagem do Oceano Atlântico e uma visão geral de toda cidade. No cume está a imagem do Cristo Redentor, que tem um dos braços apontando para a cidade e outro com a mão no coração. A estátua teve seu custeio, em parte, pela família do Dr. João Cândido Ferreira (1864-1948). A esposa do ilustre médico e que teve quatro dos filhos na Medicina, Sra. Josefa do Amaral Ferreira, foi quem fez a doação à administração municipal, no início da década de 1950.

clique para ampliarclique para ampliarMorro do Cristo, visão de 360 graus aos visitantes. (Foto: Arquivo)

A estátua de 8,3 metros foi feita em dez anéis para que se pudesse levar com mais facilidade ao alto do morro. Durante o transporte, feito em cima de talhas de madeiras, três anéis despencaram e tiveram de ser reparados na Capital. A inauguração do Cristo acorreu no dia 23 de junho de 1953, com a participação do então prefeito Miguel Jamur, vereadores e a viúva de João C. Ferreira, seus filhos e familiares. Durante a Segunda Guerra Mundial, os soldados do Vigésimo Batalhão de Infantaria de Curitiba utilizaram o morro como posto de observação.

O acesso ao local onde está a estátua é por uma escadaria de cimento, com 197 degraus. Ali, o reservatório da Sanepar e a torre repetidora da RPC TV dividem o espaço com a estátua.

Curiosidades

» Igreja Matriz Nossa Senhora do Bom Sucesso. Começou a ser construída no ano de 1768. No dia 18 de abril de 1771, recebeu a benção do reverendo Bento Gonçalves Cordeiro, ajudado pelos padres João de Santana Flores e Francisco Borges. No dia 29 celebraram a primeira missa. Construída pela comunidade e desenhada por Afonso Botelho, é de arquitetura religiosa colonial e apresenta uma fachada bastante simples de alvenaria, como eram as demais igrejas litorâneas da época. Internamente é ornamentada por um retábulo discreto.

clique para ampliarclique para ampliarLargo Nossa Senhora de Lourdes tem origem em iniciativa do pediatra Heitor Borges de Macedo e a esposa. (Foto: Arquivo)

» Largo Nossa Senhora de Lourdes. Ou Gruta da Santa. Os antigos guaratubanos contavam que a imagem do Espírito Santo, que se encontra na igreja Matriz, foi oferecida a Guaratuba por Força Divina, que teria deixado próximo da igreja para que um devoto a encontrasse. “Depois de banhada na fonte do Itororó, a imagem foi recolhida e colocada na igreja, dando à fonte poderes miraculosos que devotos cultuam até hoje”, diz uma fomente, lembrando que a água cristalina que corre entre as pedras abasteceu a cidade até 1974. A Fonte do Itororó havia passado por grande transformação ainda em 1935, quando um casal de banhistas que frequentava Guaratuba todos os anos, em julho, construiu uma gruta em homenagem à Nossa Senhora de Lourdes. Esse casal era o professor, médico e escritor Heitor Borges de Macedo (CRM-PR 1.509) e de sua mulher Zina Borges de Macedo. O casal doou a obra que hoje abriga a imagem da santa e se localiza no Morro do Espia Barco. O Dr. Heitor, bisneto do primeiro prefeito de Curitiba (José Borges de Macedo, em julho de 1835), foi um dos fundadores da Sociedade Paranaense de Pediatria, em 25 de março de 1934.

» A baía e praias. A baía de Guaratuba é um estuário encaixado na planície costeira do litoral do Paraná. É a segunda maior do Paraná, com 48,72 km2 de extensão, e por ela é feito o acesso entre Matinhos e Guaratuba, pela travessia com o ferry boat. Rica em fauna e flora, a baía é hoje uma área de proteção ambiental. Era pela baía, o único acesso que a comunidade dispunha para chegar à "Vila", no começo da colonização. Guaratuba conta com 22 km de praias das mais variadas características. A cidade é a maior produtora de banana do Estado, contribuindo para a sua economia, assim como a agricultura e o cultivo de ostras.

» A primeira casa de veraneio. A residência de banhista em Guaratuba foi construída em 1930, iniciativa do industrial João Todeschini, que havia visitado o local pela primeira vez em 1928, hospedando-se na pensão Antonieta, a única que existia no lugar e onde ficavam as poucas famílias que tinham “coragem” de se deslocar para a Vila de Guaratuba. João e a esposa Luiza Bianchezi tiveram sua casa de madeira construída na rua principal, hoje Avenida 29 de Abril. Todo o material da construção, executada por um grupo da Capital, foi enviado por meio de trem até Paranaguá e de barco até a baía de Guaratuba. Um junho de 1930 ocorreu a inauguração festiva da moradia, incentivando o desenvolvimento como balneário. O imóvel original deu lugar a uma construção em alvenaria nos anos 1960 que, depois, foi demolida.

clique para ampliarclique para ampliarVista aérea da baía, em 1968. (Foto: Arquivo)

» O afundamento de Guaratuba no Mar. É uma história de grande repercussão. Na realidade, o que ocorreu entre o final da noite de 22 e o início da madrugada de 23 de setembro de 1968 foi o desmoronamento de parte da urbanização da baía, devido à erosão. Na Rua da Praia, o edifício da Prefeitura desmoronou e o prédio da Câmara Municipal afundou. Outras construções de até três andares ou desapareceram ou foram tragadas pelo mar. Notícias da época indicam que 15 prédios foram destruídos e outros 17 foram parcialmente atingidos e condenados, como o dos Correios, o Mercado Municipal e diversas residências. Não houve vítimas, ao contrário do que ocorreria anos mais tarde, em 28 de janeiro de 1995, com o desabamento do edifício Atlântico. Foram pelo menos 29 pessoas mortas e sete feridas.

» A Banda de Guaratuba. Foi numa segunda-feira chuvosa, há 40 anos, que nasceu uma das maiores festas carnavalescas do Paraná. O empresário Renato Trombini e amigos montaram um grupo de foliões que saiu em um jipe antigo pelas ruas da cidade, tocando tambor e pistão. Quando o veículo parou na avenida, cerca de 200 pessoas já o circularam cantando e dançando músicas de carnaval. No ano seguinte, um caminhão emprestado e músicos contratados deram impulso ao festejo, a esta altura já com camiseta personalizada da banda. Por anos, a renda obtida com doações e a venda de souvenires e camisetas ajudou creches, escolas, hospital e entidades assistenciais.

» Memorial Covid. Guaratuba tem seu Memorial Covid Online, para homenagear todas as vítimas da doença, com publicação de textos que foram enviados por familiares. Um monumento também foi erguido na Praça da Paz, na frente do Ginásio de Esportes José Richa. A artista plástica Birgitte Tumeller pintou, em azulejo, “mãos que entregam aos céus, para o voo, lindos e preciosos guarás”.

» Santa Casa de Misericórdia. O prédio histórico do primeiro hospital da cidade passou por várias reformas até ser adquirido recentemente pela administração municipal, acolhendo primeiro os serviços de hospital e maternidade da cidade para, depois, ser transformado em nova unidade básica de saúde. O novo hospital público, que está sendo construído ao lado do pronto-socorro, vai receber o nome do ex-vereador Mordecai Magalhães de Oliveira.

Na foto-montagem abaixo, sentido horário: a baía antes e depois da ressaca, a primeira casa de veraneio, o memoriam da Covid, vista da praia e a igreja em foto histórica.

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