04/01/2018

Motivação e trabalho efetivo, lições de um jovem médico

Destacado formando da UFPR revalida diploma na Alemanha e agora fará residência em neurocirurgia; ele incentiva colegas a realizar seus sonhos

 “Parecia um plano impossível aprender alemão em seis meses e se candidatar para uma vaga de residência em uma Universidade da Alemanha. Recebi a coroação de toda essa trajetória, a Approbation als Arzt, que revalida meu diploma brasileiro e me permite exercer a medicina sem restrições em toda a Alemanha e, com pouquíssima burocracia, em toda a União Europeia, Espaço Econômico Europeu e Suíça. Se por um lado me sinto ainda mais confiante na formação que o curso de Medicina da Universidade Federal do Paraná me deu, por outro sei que conhecimento e inteligência não significam nada quando não existem motivação e trabalho efetivo. Afinal, ninguém cruza um oceano sem um objetivo em mente; nenhuma grande conquista acontece por acaso. É a diferença que existe entre um plano impossível e um plano realizado”.

A manifestação comemorativa e de estímulo às pessoas para que não desistam de seus objetivos foi postada nas redes sociais, há algumas semanas, pelo médico Guilherme Santos Piedade (CRM-PR 37.435), um curitibano de 23 anos que se formou em janeiro do ano passado e que em março próximo começa a realizar outro sonho: o de se tornar neurocirugião. Superou outros 12 postulantes para ficar com a única vaga da residência em neurocirurgia do Hospital Universitário de Düsseldorf (Universitätsklinikum Düsseldorf/UKD), um dos mais conceituados da Alemanha e importante polo da assistência pública. Serão seis anos de formação, um a mais que no Brasil, tendo como diferenciais a maior flexibilidade e a contratação na condição de médico, que assegura uma remuneração digna e ainda progressiva.

clique para ampliarclique para ampliarRoberto Yosida e Guilherme. Ao fundo, a galeria dos pioneiros da medicina. (Foto: CRM-PR.)

O médico retornou a Curitiba em meados de dezembro, depois de ajustar os detalhes do local onde vai morar na Alemanha, numa tarefa que contou com a ajuda do pai, engenheiro mecânico da Volvo e experimentado em viagens para Europa, e do avô materno, Carlos Barbosa. No dia 3 de janeiro ele esteve na sede do Conselho Regional de Medicina do Paraná para regularizar sua documentação, já que vai interromper suas atividades no Brasil. Ele foi recepcionado pelo presidente em exercício do CRM, Roberto Issamu Yosida, quando reiterou com orgulho a qualidade da formação médica que teve à sua disposição na UFPR e que, sabendo aproveitar, abriu-lhe as portas para os novos desafios. Embarca novamente para Europa no dia 14, com disponibilidade de tempo para fazer uma das coisas que mais gosta: conhecer novos lugares e pessoas. Seus outros hobbies,diz, são ler e assistir a filmes antigos.

Guilherme diz que é prematuro traçar planos para o futuro, mas tem convicção de que está nele oferecer o seu melhor na atenção à saúde das pessoas e compartilhar conhecimento e experiências. Acentua que jovens recém-formados, como ele, não devem desistir de seus sonhos de aperfeiçoamento profissional no exterior, pois não é uma missão impossível, dependendo de força de vontade, de iniciativa. Dentre os amigos que incentivou estão Cleiton Aquino de Freitas (CRM 37.424) e Stephanie Senna da Silva (37.425), que se formaram na mesma turma da UFPR e acabam de revalidar seus diplomas em Portugal, tratando logo de aprender outros idiomas para tentar residência médica país europeu. Bruno Leonardo Laverde (37.449), outro colega de turma, está iniciando a sua residência em Frankfurt, também na Alemanha.

De seus contatos que concluíram ou estão concluindo estudos no exterior, Guilherme cita o “xará” Guilherme Ramina Montibeller (22.876), também curitibano, formado em 2006 pela UFPR e que fez residência em neurocirurgia. A esposa dele, Regine (25.185), que é pediatra, também teve formação complementar fora. Guilherme Montibeller é sobrinho do também neurocirurgião curitibano Ricardo Ramina (4.735), presidente da Academia Brasileira de Neurocirurgia (2017/2019) e editor-chefe do Jornal Brasileiro de Neurocirurgia (JBNC). O Prof. Dr. Ramina completou residência médica no serviço de neurocirurgia do Prof. Dr. Madjid Samii, em Hannover, na Alemanha. Tornou-se médico-chefe antes de retornar ao Brasil, em 1986.

Também é brasileiro um dos mais renomados neurocirurgiões da Alemanha, como destaca Guilherme Santos Piedade, agora admirador de seu trabalho. Natural do Espírito Santo e formado no Rio de Janeiro, o Prof. Dr. Marcos Soares Tatagiba é o diretor da clínica de cirurgia da Universidade Everardo Carlos de Tubinga, fundada em 1477 e que se constitui numa das mais antigas da Alemanha. É internacionalmente conhecida por seus cursos de Medicina, Ciências Naturais e de Humanidades, tendo pelo menos 10 laureados com o Prêmio Nobel entre seus docentes ou ex-alunos. Tubinga é umas das cinco cidades universitárias clássicas da Alemanha. O Prof. Tatagiba, como é conhecido, é autor do livro “Tumors of the Jugular Foramen”, ao lado do Prof. Ricardo Ramina.

No bate-papo de Guilherme com os jornalistas do Conselho, outros importantes nomes da neurocirurgia mundial foram lembrados, com destaque também para o norte-americano Ben Carson, autor de livros como “Mãos Talentosas” (Gifted Hands), que deu origem ao filme homônimo, e o Prof. Dr. Ricardo Alexandre Hanel (CRM-PR 15.831), natural da pequena Araruna (PR) e que se formou pela UFPR em 1997. Ele está nos Estados Unidos desde 2001 e hoje, aos 44 anos, é diretor do Baptist Neurological Institute, de Jacksonville, Flórida. O médico é uma referência no tratamento de aneurismas cerebrais e requisitado palestrante internacional.

Trajetória

Filho de Vitor Manuel, descendente de portugueses, e de Mariliany, de origem italiana, Guilherme teve a alta-habilidade reconhecida muito cedo e isso permitiu abreviar em pelo menos um ano a sua formação fundamental. Ele tinha 16 anos quando prestou cinco vestibulares para medicina em diversas faculdades, inclusive USP, tendo sido aprovado em todos. Optou pela Federal do Paraná, onde conquistou a terceira maior nota. Ao se formar, no fim de janeiro de 2017, recebeu o Prêmio Nilo Cairo, comenda que vem sendo conferida há mais de 100 anos ao aluno com a maior nota do curso de Medicina. Também foi premiado como autor do melhor TCC e o melhor aluno tanto em pediatria como em ginecologia.

clique para ampliarclique para ampliarGuilherme, na entrega de sua carteira de médico para anotação. (Foto: CRM-PR.)

Guilherme conta que a ideia inicial era fazer residência na França, tanto que fez curso para aprender o idioma, que passou a dominar juntamente com o pátrio, o inglês e também o espanhol, muito praticado por seu pai. Como não conseguiu o ingresso em residência médica na França, pois o país aceita somente graduados na Europa, o médico curitibano teve de mudar os planos, fazendo a opção pela Alemanha. Para fazer a revalidação do diploma, contudo, precisou aprender o idioma, o que conseguiu em apenas seis meses, somente os últimos três assistido por uma professora. Habilitado para atuar no território alemão, teve experiência de três meses em unidade médica de uma cidade quase na fronteira com a França.

O desafio seguinte era conquistar uma vaga em residência na especialidade que escolheu. Ele conseguiu encaminhar as suas credenciais para o Hospital Universitário de Düsseldorf quando já estavam preenchidos os nomes dos 12 candidatos para a única vaga. O histórico escolar teria chamado a atenção e Guilherme diz ter sido autorizado a participar das entrevistas, como exceção. O seu desempenho qualificou-o à vaga. A dedicação ainda mais intensa nos dois últimos anos da graduação teria contribuído de forma decisão para se destacar entre os demais candidatos. Guilherme é o primeiro médico da família, mas não será o único. A irmã Giovanna, de 21 anos, vai iniciar o 8.º período na Faculdade de Medicina da Evangélica. Pretende seguir carreira na especialidade de otorrinolaringologia.

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