17/11/2008
Morte de idosa expõe falhas em hospitais
Conselho Regional de Medicina diz estar preocupado com casos de violência dentro de unidades de atendimento à saúde
Ponta Grossa - A morte de uma idosa, vítima de violência sexual e espancamento dentro de um hospital, expõe a vulnerabilidade
de unidades de saúde. O caso, ocorrido no fim de semana em Piraí do Sul, nos Campos Gerais, é apenas o mais recente. São várias
as ocorrências registradas no Paraná nos últimos meses, envolvendo pacientes e profissionais da área de saúde.
Para o presidente do Conselho Regional de Enfermagem (Coren-PR), Montgomery Pastorelo Benites, se todas as unidades de
saúde cumprissem a lei e tivessem quantidade suficiente de enfermeiros e auxiliares os pacientes estariam mais seguros. "Não
resolveria o problema da violência, mas diminuiria os casos. Sempre haveria alguém por perto, alerta, capaz de observar se
está tudo bem, se há algum estranho rondando e até de chamar ajuda", diz.
O Hospital Municipal de Piraí do Sul, por exemplo, tem apenas uma enfermeira, que trabalha oito horas diárias. No restante
do tempo, contrariando as normas técnicas, a unidade fica sem um enfermeiro responsável. Benites também salienta que o número
de auxiliares de enfermagem precisa ser proporcional à quantidade de leitos. "Se as profissionais não estão sobrecarregadas
de trabalho, podem cuidar melhor dos pacientes", afirma. No total, 23 auxiliares trabalham no hospital. À noite, somente quatro
auxiliares se revezam no atendimento às diversas áreas. O hospital é o único da cidade e atende aproximadamente 300 pessoas
por dia.
Para o Conselho Regional de Medicina (CRMPR), a sucessão de casos de violência contra profissionais de saúde em ambientes
de trabalho é motivo de preocupação. O assunto está sendo debatido em uma comissão interna, levando em consideração que muitos
casos de violência são imprevisíveis, mas também que há alternativas para melhorar a sensação de segurança. De acordo com
o CRM-PR, não é possível generalizar, já que existem estabelecimentos que controlam atentamente a circulação de pessoas.
Somente quando casos de violência acontecem é que fica evidente a falta de segurança em muitos hospitais. O diretor clínico
do Hospital Municipal de Ponta Grossa, Antônio Sobrero, reconhece que apenas depois que um caso grave de violência aconteceu
na unidade é que as preocupações com segurança foram levadas mais a sério. Em agosto de 2006, dois pacientes que estavam com
transtornos psiquiátricos foram colocados no mesmo quarto. Eram um homem e uma mulher. O homem, de 44 anos, aproveitou que
não havia ninguém por perto e que a paciente estava sedada para estuprá-la.
"Até então, tínhamos uma segurança patrimonial. E a partir daquilo passamos a nos atentar mais para o fluxo de pessoas
e para o que estava acontecendo dentro do hospital", conta Sobrero. Depois do caso, a unidade é vigiada por seis guardas municipais,
com controle na circulação de pessoas e algumas entradas são fechadas depois das 20 horas.
A Federação dos Hospitais do Paraná (Fehospar) alega que, em grandes centros, os investimentos em segurança são visíveis.
Prevenção de doenças e casos rumorosos de raptos de crianças levaram à estruturação. Já em pequenas cidades, a capacidade
de investimento é menor, dificultando a destinação de recursos para o sistema de segurança. A federação também destaca que
alguns casos de violência são imprevisíveis e praticamente impossíveis de evitar e que a recomendação é de que crianças, deficientes
mentais e idosos devem receber atenção especial. A Fehospar destaca que a estrutura pública de segurança deve ser acionada
em situações específicas, como quando estão internados pacientes vítimas de atentados e sobreviventes de chacina.
Casos recentes no PR
Pelo menos cinco histórias de agressões ligadas a atendimentos médicos foram registradas neste ano. Veja:
21 de fevereiro - Uma dona de casa, de 40 anos, foi presa por policiais militares, em Telêmaco Borba, poucas horas depois
de seqüestrar uma recém-nascida do Hospital e Maternidade Doutor Feitosa. Maria Aparecida Antunes de Miranda levou a menina,
depois de fingir visitar a mãe do bebê.
27 de fevereiro - Um vendedor de 42 anos agrediu a golpes de estilete um médico e uma atendente, no interior de uma clínica,
em Santo Antonio da Platina, no Norte Pioneiro.
7 de maio - Na tentativa de assalto a um carro-forte na porta do Hospital Infantil Pequeno Príncipe, houve tiroteio e
um dos ladrões foi morto, enquanto um segurança ficou gravemente ferido. A unidade hospitalar estava lotada, mas ninguém mais
chegou a ser atingido pelos disparos.
30 de junho - Um médico do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) foi agredido com um golpe de machado na cabeça
quando atendia um homem de 63 anos, portador de transtornos mentais. O médico teve ferimentos graves.
30 de junho - Dois homens invadiram o Hospital Cristo Rei, em Ibiporã, Norte do Estado, e após ameaçarem os funcionários,
incluindo o médico de plantão, mataram a tiros um homem que estava internado havia alguns dias após sofrer atentado.
Instituição tinha vigia até 2005
O Hospital Municipal de Piraí do Sul contava com um vigilante até 2005. Mas a prefeitura decidiu transferir o funcionário
para outro setor, deixando o único hospital da cidade sem nenhum profissional de segurança. Sem alguém para controlar o fluxo
de pessoas, um cortador de pínus aproveitou que uma idosa estava sozinha na enfermaria para abusar sexualmente dela e espancá-la,
na madrugada de sexta-feira.
Fonte: Gazeta do Povo