23/01/2008
Mortalidade infantil cai, mas é desigual
Situação da infância no Brasil melhora. País avança 27 posições em ranking que avalia mortalidade até os 5 anos
A vida das crianças brasileiras melhorou. O relatório Situação Mundial da Infância 2007 do Fundo das Nações Unidas para
Infância (Unicef), divulgado ontem, mostra que a mortalidade infantil no País caiu. Entre 194 países, o Brasil melhorou 27
posições em um ano no ranking que avalia a chance de meninos e meninas chegarem aos 5 anos. Ainda assim, a possibilidade de
uma criança morrer em Alagoas é mais de três vezes maior do que uma nascida em São Paulo ou em Santa Catarina.
Entre 1990 e 2006, houve uma queda de 46,9% na taxa de mortalidade infantil no País. Nos últimos cinco anos, 20 mil crianças
brasileiras foram salvas por intervenções simples, como exames pré-natais, cuidados preventivos, vacinação e políticas de
alimentação adequada. A maioria, nas regiões mais pobres do País. É no Norte e no Nordeste que houve os maiores avanços. Mas,
como também é nesses lugares que se concentra a pobreza, ainda há muito que avançar.
"Houve uma queda de quase 50% na mortalidade no Brasil desde 1990, o que mostra um caminho correto", avalia a representante
do Unicef no Brasil, Marie-Pierre Poirier. "Agora, se podemos ter esse avanço, ele precisa ser para todos. Um País que consegue
fazer acontecer, precisa fazer para todos os grupos." Marie-Pierre lembra que a mortalidade entre crianças negras brasileiras
é 48% maior que entre as brancas. Entre as indígenas, 138% maior. Dos 3 milhões de crianças que nasceram em 2005 no Brasil,
400 mil não foram registradas. Se na região Sul o sub-registro é zero, no Nordeste uma em cada cinco crianças não é registrada.
O número de crianças em creche na região Norte é a metade da região Sudeste, apesar de o índice nesses Estados, 19,2%, também
não ser ainda dos melhores. Dos 20,5 milhões de crianças brasileiras até 6 anos de idade, 56% vivem em famílias com renda
per capita abaixo de meio salário mínimo por mês.
Ainda assim, o Unicef vê avanços significativos nas regiões mais pobres. "Há uma tendência na diminuição da desigualdade.
Se analisarmos a evolução, é onde há mais pobreza que os ganhos foram maiores. Nos Estados do Sul e do Sudeste, também houve
avanços, mas foram menores", afirma Marie-Pierre Poirier.
Um dos avanços brasileiros mereceu um texto explicativo na versão internacional do relatório do Unicef. O Programa de
Saúde da Família (PSF) e de agentes comunitários de saúde foi tratado como um exemplo. "Desde 1990, a introdução do programa
de agentes comunitários de saúde contribuiu para a redução nas mortes de bebês em todo o País, especialmente nas regiões mais
pobres", diz o relatório.
A representante do Unicef, no entanto, afirma que o governo brasileiro precisa fortalecer sua própria capacidade de atendimento
em saúde e também em educação, transformando o que hoje são campanhas em ações permanentes. "É sempre preciso acelerar. Não
se pode trabalhar com campanhas ou ações pontuais", afirma.
Fonte: O Estado de S.Paulo