03/01/2012
Morre médico que definiu a morte encefálica no Brasil
Os papos, à mesa do jantar, eram sobre cirurgia. Luiz Alcides Manreza levava fotos das operações para discuti-las em casa
com a mulher e mostrá-las aos filhos. Seu iPad era cheio das imagens.
O neurocirurgião, formado pela USP em 1968, até tentou, mas não encaminhou nenhum dos filhos na profissão.
Paulistano, era filho de um contador da GE e de uma dona de casa. A mulher, Maria Luiza, ele conheceu na faculdade e a
convenceu a fazer neuropediatria. Hoje, ela é especialista em epilepsia.
Sentia orgulho de ter chefiado o PS do Hospital das Clínicas, ajudou a implantar o resgate dos Bombeiros (recebeu homenagem
da corporação em 2011) e foi o autor do conceito de morte encefálica no país --o que possibilitou o aumento de transplantes.
Também deu aulas na USP, chefiou o setor de neurologia do hospital São Luiz e presidiu a Associação dos Neurocirurgiões
do Estado de SP.
Em 1996, uma cirurgia de oito horas que realizou ganhou repercussão: tirou uma lâmina de 13 cm da cabeça de um pintor
que passou 17 dias com uma faca enfiada no cérebro após uma briga de bar.
Adorava fotografia (seu consultório é cheio de máquinas) e barcos. Ia ao Guarujá mexer no motor da sua lancha Breeze --que
ficou conhecida como "Papo de Mãe" por causa do adesivo colado no casco. É o nome do programa que Roberta, a filha jornalista,
apresenta na TV Brasil.
Morreu no sábado (24), aos 68, após um infarto sofrido num voo a Miami, onde a família ia passar férias. Teve três filhos
e três netas. O enterro será hoje, às 14h, no cemitério do Morumbi, em SP.
Fonte: Folha de S. Paulo