30/03/2023

Ministro da Educação defende criar critérios para disciplinar abertura de escolas médicas

Grupo de trabalho será criado e vai envolver representantes das entidades médicas, incluindo CFM, AMB e Abem, que expõem riscos decorrentes da proliferação desenfreada de cursos descompromissados com qualidade formadora

O ministro da Educação, Camilo Santana, se comprometeu com o Conselho Federal de Medicina (CFM) e outras entidades de classe a trabalhar pela criação de parâmetros objetivos para serem usados na avaliação de pedidos de abertura de escolas médicas no País. Em encontro na terça-feira (28), em Brasília (DF), ele informou que será criado um Grupo de Trabalho (GT) específico para cuidar do tema.

clique para ampliarclique para ampliarReunião com o ministro da Educação. (Foto: CFM)

Desse GT, devem participar representantes do Ministério da Educação, do CFM e de outras entidades, como a Associação Médica Brasileira (AMB), Associação Brasileira de Educação Médica (Abem) e Academia Nacional de Medicina (ANM). A decisão foi tomada após exposição feita ao Ministro, na qual foi ressaltado o risco da abertura desenfreada de cursos desse tipo.

Em reunião anterior que teve com a professora Helena Sampaio, secretaria de Regulação e Supervisão do Ensino Superior do MEC, o CFM já havia entregue ofício onde destaca os pontos que considera prioritários para regulamentar esse processo.

 Leitos

 Para a autarquia, é necessário que os municípios candidatos a receber cursos de medicina contem com leitos de internação (cinco para cada aluno); equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF) – uma para cada três estudantes de graduação; e hospital com mais de 100 leitos exclusivos para o ensino.

“Mostramos aos dirigentes do Ministério da Educação que o País precisa de médicos bem capacitados para cuidar das necessidades da população. A questão não é quantitativa, mas qualitativa: ou seja, o paciente precisa que o profissional que o acolhe ofereça segurança e conhecimento técnico no atendimento”, disse o presidente do CFM, José Hiran Gallo, após a reunião.

Camilo Santana expressou preocupação com o cenário descrito. Ele entende que medidas rígidas deverão ser tomadas no futuro para assegurar que o País conte com médicos bem qualificados. Durante a reunião, as entidades médicas mostraram aos técnicos do Governo suas preocupações em detalhes.

Limite

Segundo as lideranças da categoria, a abertura de mais escolas de medicina ou de vagas nos cursos já existentes está estrangulando o processo de ensino-aprendizagem no Brasil. Na avaliação do grupo, chegou-se ao limite, pois faltam docentes para formar os futuros médicos e não há infraestrutura de assistência na maioria dos municípios que abrigam escolas médicas.

“Sem leitos, sem equipes de saúde da família e sem hospitais de ensino fica comprometido o aprendizado. Medicina é uma profissão e uma arte que se aprende no contato com o paciente. Não se pode substituir essa relação, pois é durante esse encontro que o médico aprende a entender queixas e a oferecer respostas”, lembrou Gallo.

As entidades médicas têm mostrado ao Governo os riscos que afetam o ensino médico. De acordo com dados oficiais, o Brasil possui 389 escolas, distribuídas em 250 municípios. Cerca de 60% desses cursos foram abertos entre 2010 e 2023, ou seja, mais em 13 anos do que em todo o século passado.

Vagas – Do total de vagas em cursos de medicina, mais da metade são de instituições privadas de ensino. Outro número preocupante é que 83% dessas escolas que oferecem vagas para medicina não atendem pelo menos um dos três parâmetros considerados ideais para o funcionamento dos cursos.

Dentre os 250 municípios que abrigam essas instituições, 80% das localidades estão sem disponibilidade suficiente de leitos SUS; 70% não têm hospital de ensino; e 46% não contam com disponibilidade suficiente de equipes de saúde da família.

Além de José Hiran Gallo, participaram da reunião os conselheiros Jeancarlo Cavalcante (1º vice-presidente do CFM), Júlio Braga (coordenador da Comissão de Ensino Médico) e Tatiana Bragança (representante do Rio Grande do Sul no CFM).

Pelo Ministério da Educação, estiveram Izolda Cela (secretaria Executiva), Helena Sampaio (secretaria de Regulação e Supervisão do Ensino Superior) e Denise Carvalho (secretaria de Educação Superior). De outras entidades, participaram Raul Cutait (ANM), Francisco José Barcellos (presidente da ANM), Luciano Gonçalves (diretor de Assuntos Parlamentares da AMB), e Antônio José Gonçalves (secretário-geral da AMB).

Fonte: CFM

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