21/06/2008
Ministério volta a registrar infecções por bactérias de crescimento rápido
O Ministério da Saúde voltou a registrar neste ano notificação de infecções por bactérias de crescimento rápido e de difícil
tratamento em pacientes que realizaram videocirurgias. Há riscos de nova epidemia. O alerta foi dado ontem por especialistas
no 3.º Encontro Nacional de Tuberculose, realizado em Salvador (BA). As bactérias envolvidas, chamadas micobactérias, são
de diferentes tipos.
Só em 2007 foram detectados 1.573 casos de infecções graves após os procedimentos cirúrgicos no País. Neste
ano já são 31 casos, de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Pacientes que realizavam cirurgias,
como para retirada de cisto por pequeno orifício no abdome, mulheres que fizeram lipoaspiração e pessoas que reduziram o estômago
com o uso das técnicas menos invasivas desenvolveram graves infecções, resistentes aos antibióticos mais comuns, por causa
da superbactéria.
As seqüelas são feridas, abscessos com pus e perda de tecidos. Não houve registro de morte. "Estamos sob risco
de uma nova epidemia tendo em vista que não foi feito nada para melhorar o controle. Não houve uma única admoestação aos hospitais
em que isto já tinha ocorrido, os serviços não foram fechados e cirurgias continuam sendo realizadas sem o mínimo cuidado",
disse ao Estado Margareth Dalcomo, especialista do Centro de Referência Professor Helio Fraga, do Rio, órgão assessor do Ministério
da Saúde que tem auxiliado os governos a combater os casos.
Dalcomo disse que os casos no Rio no ano passado foram uma epidemia, e não um surto, como chegou a ser divulgado,
porque ocorreram de forma disseminada pelos serviços hospitalares. A falta de adequada esterilização de materiais cirúrgicos
é apontada como a principal suspeita de gerar os casos. De acordo com Leandro Santi, responsável pela gerência de investigação
e prevenção das infecções e dos eventos adversos da Anvisa, o órgão não pode punir os hospitais onde as infecções ocorreram
porque não havia norma que exigisse esterilização dos equipamentos quando os casos foram registrados. Atualmente a norma da
esterilização é aplicada, mas a agência ainda não definiu como os materiais deverão ser esterilizados, se com produto químico
ou outros processos.
Estudos coordenados por Rafael Duarte, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, indicam que um produto químico
utilizado com freqüência para limpar os materiais cirúrgicos não funciona para as micobactérias que atacaram os pacientes,
mesmo após a imersão dos instrumentos por 10 horas. Santi disse que a agência ainda estuda se o problema é com o produto.
Fonte: O Estado de S. Paulo