07/05/2008
Ministério da Saúde lança campanha para incentivar parto normal
No próximo domingo (11), Dia das Mães, o Ministério da Saúde começará uma campanha para incentivar as mulheres a fazer parto
normal. A intenção é diminuir o alto número de cesarianas desnecessárias realizadas anualmente no Brasil.
Voltada para gestantes, familiares e médicos, a Campanha de Incentivo ao Parto Normal será veiculada no rádio, na televisão,
internet e outros meios de comunicação até 2010.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que apenas 15% dos partos sejam realizados com intervenção cirúrgica -
porcentagem referente aos partos de risco, aqueles em que a cesárea é indispensável. A média no Brasil é de 43% de cesarianas
e entre as mulheres que utilizam planos de saúde esse índice chega a 80%.
No lançamento da campanha, hoje (6), em Brasília, o ministro José Gomes Temporão definiu o problema como uma "epidemia"
de cesarianas. "Estamos muito distantes do que seria o razoável. Eu poderia afirmar que o Brasil é um dos países em que mais
se pratica esse tipo de cirurgia", afirmou.
Temporão disse também que o Sistema Único de Saúde (SUS) estuda como remunerar melhor os médicos pelo parto normal, para
que o fator econômico não seja empecilho para esse tipo de procedimento. No SUS, a média de cesáreas é de 26%.
O alto índice de partos realizados com intervenção cirúrgica provoca vários problemas de saúde para a mãe, porque aumenta
o risco de hemorragias e infecções. Para os bebês a situação não é diferente. O parto antecipado - como ocorre na maioria
das cesarianas - resulta em problemas respiratórios e internação em UTI neonatal.
"No parto natural o bebê pode ser imediatamente acolhido e ter vínculo com a mãe. E não há nada melhor para fortalecer
o sistema imunológico da criança que afeto e carinho", explica Adson França, diretor do Departamento de Ações Estratégicas
do Ministério da Saúde.
Segundo ele, as infecções causadas pelo parto são a terceira maior causa de morte dos recém-nascidos e elas acontecem
muito mais em partos cirúrgicos. "Com a cesariana, o bebê é separado da mãe a princípio. Quando o aleitamento é iniciado o
mais rápido possível, aumenta as defesas da criança e diminui o risco de diarréia, que é uma das causas também destacadas
de óbito", explica.
Mulheres mudam de idéia durante gravidez e preferem cesariana, diz pesquisa
Cerca de 70% das mulheres dizem querer parto normal quando estão no início da gravidez, segundo pesquisa do Ministério
da Saúde. Entretanto, no fim da gestação, cerca de 80% das mulheres que têm planos de saúde acabam fazendo cesariana. Entre
as gestantes do Sistema Único de Saúde (SUS), o número de cesarianas é de 26%.
Para confirmar os dados apontados pelo ministério, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) fez pesquisa parecida
e também concluiu que aproximadamente dois terços das mulheres que têm plano de saúde dizem querer parto normal quando estão
no começo da gravidez. Mas, na hora do parto, o número se inverte e apenas um terço realmente faz parto natural. "Isso demonstra
que alguma coisa acontece no decorrer da gravidez e que convence as mulheres que a cesariana é melhor", explica Martha Oliveira,
gerente assistencial da ANS.
Segundo ela, o problema é provocado por vários fatores. Para começar, há os mitos que envolvem o parto normal - de que
ele é dolorido e traumático - e que a cesariana é mais "segura e chique". "O que a gente sempre vê na televisão é que na cesariana
a mulher está cercada por médicos e aparelhos de última geração, super tranquila e sem dor. Já no parto normal ela aparece
descabelada, sempre sofrendo muito", ressalta.
Além disso, segundo ela, a grande diferença entre as mulheres que têm plano de saúde e as que são assistidas pelo SUS
na hora do parto normal, pode estar no acompanhamento. Segundo ela, no sistema de saúde público, o parto é feito pelo médico
plantonista, que tem tempo disponível para acompanhá-la.
A formação dos médicos, voltada para o incentivo à cesariana que é menos trabalhosa e demorada que um parto normal, é
uma das grandes questões apontadas pela gerente da ANS. Segundo ela, a mudança de idéia entre as gestantes, que acabam preferindo
a cesariana, também está associada a isso. "A gente até já ouviu dono de hospital dizer assim: 'se você diminuir o número
de cesarianas, você quebra minha UTI [Unidade de Terapia Intensiva] neonatal'", conta.
O problema também não é apenas financeiro. Segundo ela, mesmo que o médico recebesse quatro vezes mais pelo parto normal,
isso não cobriria os custos. "O parto normal é mais demorado. Para fazer um, o médico precisa deixar o consultório uma tarde
inteira, desmarcar outras cesáreas. Por isso, nós estamos buscando soluções como, por exemplo, convencê-lo a colocar uma equipe
de enfermeiros acompanhando a paciente e ele só chegaria para fazer realmente o parto".
Para discutir o assunto com os médicos, a ANS deve realizar um encontro no Conselho Federal de Medicina (CFM) esta semana.
Devido ao horário de fechamento desta matéria, não foi possível contactar o CFM.
No próximo domingo (11), Dia das Mães, o Ministério da Saúde começará uma campanha para incentivar as mulheres a fazer
parto normal. A intenção é diminuir o alto número de cesarianas desnecessárias realizadas anualmente no Brasil. Voltada para
gestantes, familiares e médicos, a Campanha de Incentivo ao Parto Normal será veiculada no rádio, na televisão, internet e
outros meios de comunicação até 2010.
Fonte: Agência Brasil