30/11/2008
Micobactéria pode ter afetado 4 mil pacientes
Anvisa já verificou 100 novos casos desde agosto
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou ontem que verificou cem novos casos de infecção hospitalar
por micobactérias no País desde agosto, quando havia divulgado seu último boletim sobre a doença.
No entanto, o próprio órgão federal reconhece que os 2.122 confirmados de 2000 até agora - contra 2.032 até agosto - são
subestimados e que o número de doentes pode chegar a 4 mil pessoas.
Ainda segundo a agência, a notificação obrigatória dos casos de micobactéria, instituída também em agosto, ainda não está
ocorrendo principalmente em razão de problemas com um software que recebe os dados sobre infecções hospitalares de todo o
País.
De acordo com o gerente-geral de Tecnologias de Serviços de Saúde da agência, Heder Borba, que assumiu há dez dias, de
700 hospitais que deveriam abastecer o sistema, apenas 90 têm fornecido dados, o que coloca em xeque todas as informações
sobre infecção hospitalar.
"Não há como confiar no que recebemos", disse Borba, que promete até o fim do ano solucionar os problemas com o programa
de computador. "Temos de resolver isso definitivamente", continuou.
As micobactérias envolvidas nos casos de infecção hospitalar são microrganismos "parentes" da bactéria causadora da tuberculose
e geram feridas de difícil cicatrização e nódulos.
Desde 2007 o País vive nova epidemia dos casos, que começaram a ser
registrados em 2000. Como informou o Estado anteontem, pela primeira vez desde 2004 o Estado de São Paulo também registrou
casos da doença, neste ano.
Segundo Borba, desde agosto os dados sobre micobactérias passaram por uma revisão, por meio de visitas da própria agência.
Em relação a este ano, o número de casos é liderado por Espírito Santo, com 17 ocorrências, seguido por São Paulo, com 13.
De acordo com a revisão feita pela Anvisa e divulgada ontem, não havia casos no Estado antes de 2008, apesar de dados anteriores
da agência apontarem notificações em 2003 e 2004. "Depois da revisão, alguns casos não se confirmaram."
AINDA NO PAPEL
O gerente informou que ainda não saíram do papel medidas anunciadas neste ano contra a epidemia, como a regulação do número
de equipamentos necessários para se fazer determinada quantidade de cirurgias por dia em boas condições de higiene.
Também a necessidade de que se comprovasse a ação de desinfetantes hospitalares, como o glutaraldeído, contra micobactérias
não saiu do papel, mas sim uma portaria que determina prazo de um ano para que fabricantes comprovem a eficiência. Estudos
apontam que o glutaraldeído não mataria as micobactérias mesmo após dias em que materiais ficam mergulhados na solução.
Borba diz que o banimento do glutaraldeído será discutido em reunião com especialistas em Brasília - além de um protocolo
oficial para tratamento das vítimas.
O gerente afirmou ainda defender pessoalmente a divulgação de hospitais envolvidos na epidemia. "Mas não sei se cabe à
Anvisa."
Fonte: O Estado de São Paulo