03/05/2007
Médicos propõem legislação para conter anorexia e bulimia
Ao contrário de países europeus como a Espanha, o Brasil não tem uma orientação ou regulação para o combate à doenças
como a anorexia e a bulimia, sobretudo no mercado da moda. No país, estima-se que 1,2 milhão de pessoas sofram das doenças.
Algumas perdem a vida por não se tratarem.
Inspirados no modelo europeu, especialistas da Academia Nacional de Medicina, reunidos ontem no simpósio "Prejuízos Nutricionais
das Candidatas a Modelo e Moda", elaboram um documento que apontará sugestões para o governo e a sociedade no combate à epidemia.
Os pais, modelos e patrocinadores da moda também receberão orientações especiais.
"Ano passado ficamos chocados com a notícia da morte de jovens modelos no Brasil. O fato é emblemático porque expressa
a realidade de uma tragédia global", lamenta José Carlos do Valle, membro titular da academia e organizador do evento. "Muitas
são induzidas à doença pelo padrão estético distorcido, que não leva em consideração a saúde".
Na Espanha, as modelos precisam ter um Índice de Massa Corporal (IMC) mínimo de 18 kg/m² para serem contratadas e têm
de fazer exames de saúde periódicos. Os produtores de moda já entraram em acordo com o Ministério da Saúde para não fabricarem
peças para pessoas muito magras.
Valle conta que a iniciativa já é seguida na Itália e na Alemanha. Na Espanha, as vitrines não podem exibir manequins
menores que 40. No Senado brasileiro transita um projeto de lei de Marcelo Crivella (PRB-RJ) que obedece critérios semelhantes.
"Queremos estabelecer o padrão de IMC 18 kg/m³ aqui no Brasil também. Pretendemos entregar o documento à secretaria de
saúde do Rio de Janeiro e ao Ministério", antecipa Yvon Toledo Rodrigues, também membro titular da academia.
Talita Romero, chefe do serviço de cirurgia plástica da UFRJ, conta que muitas meninas, sobretudo modelos, procuram a
cirurgia na fase pré-anoréxica ou pré-bulímica para fazer lipoaspiração.
"Os médicos devem recusar o atendimento como padrão", defende Talita. "A mídia e a sociedade exercem muita pressão sobre
a mulher, com problemas de auto-estima desde a infância".
Para Rodrigues, a família também é culpada porque muitas vezes as meninas de condição social baixa viram modelos e passam
a sustentar os parentes:
"A família precisa do dinheiro e não incentiva as meninas a comerem. Elas ficam com 38 kg e 1,70 m - o peso de um menino
de sete anos", lamenta.
Sintomas, danos e tratamento
De acordo com o médico nutrólogo Osman Gioia, as jovens com anorexia e bulimia geralmente param de menstruar e têm altas
chances de sofrer com osteoporose no futuro. Além disso, podem ter baixa de potássio, e outros componentes - o que leva uma
arritmia cardíaca e à morte - e, como ficam com baixa imunidade, sofrem com fortes pneumonias.
"Elas lutam contra o apetite. Ficam com a pele seca, as unhas quebradiças, olhos fundos e a sexualidade afetada, porque
ainda se acham gordas", descreve Adolpho Hairisch, da Associação Psicanalítica Internacional. "A família muitas vezes tem
de impor o tratamento".
As pacientes precisam ser acompanhadas de uma equipe com psiquiatra, clínico e nutrólogo. Segundo Hairisch, o perfil mais
afetado é o de meninas com neurose obsessiva, depressão, insegurança e insônia.
"A beleza representada na magreza simboliza conquista e consagração", diz o psiquiatra.
Fonte: Jornal do Brasil