O dia 1.º de agosto de 2019 é uma data a ser lembrada
como aquela que marcou o início de uma nova era na atenção à saúde direcionada às populações mais longínquas e carentes do
Brasil, designadas como regiões rurais remotas, rurais adjacentes, intermediários remotos, intermediários adjacentes e urbanos.
Há três anos, em iniciativa pioneira no Brasil, o
Conselho Regional de Medicina do Paraná e a Associação Médica do Paraná deflagraram a luta em defesa da carreira de médicos
de Estado, considerando-a como a única forma de fixação de profissionais em locais remotos do nosso país. Nas eleições de
2018, essas entidades de representação dos médicos levaram a proposta a candidatos a deputado federal e senador, conseguindo
deles o entendimento e a anuência em apoiarem eventual projeto de lei que criasse a carreira de médicos de Estado extensiva
aos atuais profissionais médicos e aos futuros colegas que viessem a prestar concurso para assistência à população usuária
do Serviço Único de Saúde. Nesse trabalho de conscientização política apartidária, houve importante participação e orientações
de Luiz Henrique Mandetta, à época deputado federal pelo Mato Grosso do Sul, e que esteve sempre ao lado das entidades representativas
dos médicos nessa luta.
O programa Médicos
pelo Brasil representa o que foi possível executar para a interiorização dos médicos, considerando as circunstâncias políticas
e econômicas pelas quais no momento passa o nosso país.
São merecedoras de aplausos as decisões desse programa no que diz respeito à admissão de médicos por meio de
concurso público, regidos por leis trabalhistas que asseguram os seus direitos e deveres; à exigência de médicos formados
no Brasil ou daqueles que, formados no exterior, tenham sido aprovados no Revalida; à intenção governamental de exigir dos
municípios contemplados pelo programa uma coparticipação ao acolhimento e estrutura que permita condições dignas de trabalho
aos médicos; à disponibilidade de médico tutor (supervisor), que estará atuando como auxiliar ou interlocutor entre o profissional
do programa e outros especialistas que eventualmente possam orientar seus colegas a distância, além de também atuar como avaliador
do desempenho dos participantes; e, por fim, à remuneração condigna, com gratificações especiais na dependência do local de
trabalho.
O programa é fruto exclusivo
do Poder Executivo, por meio de medida provisória, e representa substancial avanço na necessária disponibilidade de atendimento
médico nos locais onde existe crônico vazio assistencial à saúde da população. Mesmo que em regime de bolsista ou especializando,
nenhum médico estará isento dos rigores éticos que moldam a atividade, o que fortalece a sensação de confiança e segurança
da sociedade.
Há a expectativa de que os
resultados positivos advindos desse programa determinem, na esfera do Legislativo, o entendimento de que a solução definitiva
dos problemas que envolvem a saúde pública exige a criação de efetiva carreira de Estado para médicos, nos moldes do Ministério
Público e da magistratura, além de meios que permitam aos médicos interiorizados acesso a estruturas de suporte (como exames
complementares, leitos hospitalares, medicação essencial e acesso imediato à troca de raciocínio clínico e cirúrgico com especialistas)
que lhes permitam uma atuação mais eficaz e eficiente aos doentes dos mais afastados rincões do país.
Comemoremos a medida, que, emergencialmente e no médio prazo, supre
as necessidades de atenção à saúde das populações do interior do Brasil. Assim, mais de três décadas depois da criação do
sistema público e o direito cidadão de acesso à saúde sob os princípios da universalidade, da integralidade e da equidade,
fiquemos com a expectativa da solução definitiva. Por meio de lei específica, caberá ao Congresso Nacional a determinação
da criação da carreira de médico de Estado.
*Luiz
Ernesto Pujol, ex-presidente e atual secretário-geral do Conselho Regional de Medicina do Paraná, é membro do Departamento
de Defesa Profissional da Associação Médica do Paraná.
**Artigo publicado no jornal Gazeta do Povo,
edição impressa da semana de 10 a 16 de agosto de 2019.
***As opiniões emitidas nos artigos desta
seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do CRM-PR.