05/04/2012
Médicos fazem campanha contra excesso de exames
Em um ato contra o excesso de exames e o sobrediagnóstico, nove sociedades médicas americanas lançaram uma lista com 45 testes
que deveriam ser pedidos com menor frequência. As recomendações são dirigidas também aos pacientes, para que questionem seus
médicos.
Outras oito comissões de especialistas também se preparam para anunciar suas listas de procedimentos que devem ser menos
frequentes.
A mudança representa um reconhecimento por parte dos médicos de que muitos testes e procedimentos rentáveis são realizados
de forma desnecessária e podem prejudicar os pacientes.
Segundo Gustavo Gusso, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família, é importante que as pessoas saibam que
o excesso de exames traz mais problemas do que benefícios.
"Muitos acabam descobrindo e tratando doenças desnecessariamente para que a redução da mortalidade seja só um pouquinho
maior. Sem contar os falsos-positivos de câncer", afirma.
Essa mudança de opinião nos EUA também reflete alterações nos planos de de saúde, que estão tentando reduzir incentivos
financeiros para os médicos pedirem mais exames e procedimentos.
TESTES DEMAIS?
Campanha de médicos americanos lista procedimento e exames que têm sido prescritos em excesso:
Tomografia e antibióticos para sinusite - A maioria das sinusites se resolve sozinha e não requer tomografia para
o diagnóstico. Antibióticos só devem ser usados se os sintomas durarem mais de sete dias.
Densitometria óssea para osteoporose - O exame para ver a densidade dos ossos não deve ser pedido como rotina para
mulheres abaixo dos 65 anos e homem abaixo dos 70 sem sintomas ou fatores de risco.
Papanicolau em jovens - O teste para rastrear o câncer de colo do útero não deve ser recomendado para mulheres
com menos de 21 anos.
Eletrocardiograma e testes de esforço sem sintomas - Exames de rastreamento para procurar problemas cardíacos não
devem ser feitos como rotina para pessoas sem sintomas. Nos EUA, jovens assintomáticos respondem por 45% dos exames de rotina.
Exames de imagem para dor nas costas - Melhor não fazer testes de imagem, como radiografias, em quem apresenta
dor nas costas, a não ser que haja algum fator de risco.
Exames de imagem para dor de cabeça - Se a pessoa tem cefaléia sem outros problemas associados é melhor não pedir
testes como ressonância ou tomografia do cérebro. Isso pode levar a tratamentos desnecessários.
Colonoscopia sem sintomas - Não é preciso repetir o exame do intestino por dez anos se o último teve um resultado
bom e se não houver sintomas ou fatores de risco.
Procura de metástase óssea - Tomografia e outros exames nos ossos de pessoas com câncer de mama ou próstata em
estágio inicial e com baixo risco de metástase não reduzem o risco de problemas futuros.
GASTOS
Tratamentos desnecessários são uma importante fonte de gastos entre as despesas médicas nos EUA.
"Mas o sistema privado de lá não é muito diferente da situação no Brasil. Aqui também há excesso de especialistas e exagero
de exames e intervenções", diz Gusso.
A campanha das sociedades médicas foi batizada de "Choosing Wisely" (escolhendo sabiamente).
A lista de exames inclui recomendações para procedimentos rotineiros, como eletrocardiogramas, hoje feitos mesmo quando
não há sinal de problemas cardíacos, e ressonâncias magnéticas.
O American College of Radiology solicitou que os radiologistas não realizem exames de imagem em pacientes com uma simples
dor de cabeça. Até os oncologistas estão recebendo a recomendação de pedir menos exames em pacientes com câncer de mama ou
de próstata em estágio inicial com poucas chances de metástase.
"O uso excessivo de cuidados representa uma das mais sérias crises na medicina norte-americana", afirma Lawrence Smith,
chefe do North Shore-Long Island Jewish Health System, em Nova York. "Muitos pensaram que as organizações mais resistentes
seriam as sociedades de especialistas, então essa é uma mensagem importante."
DIFICULDADES
Em 2009, novas diretrizes para mamografias nos EUA recomendavam que as mulheres fizessem o exame com menos frequência,
o que trouxe medo entre as pacientes sobre o aumento do controle do governo sobre decisões relacionadas à saúde e limitações
ao tratamento.
"Infelizmente, as pessoas preferem o exagero, mesmo que tenham um prejuízo por causa de um tratamento sem necessidade",
diz Gusso. "Não é por causa dos exames que elas vão viver mais. Alimentação saudável, atividade física e parar de fumar são
mais importantes."
Os médicos, por sua vez, muitas vezes não seguem as diretrizes. Segundo Gusso, como o tempo das consultas é curto, o médico
logo pede um exame e o paciente sai mais satisfeito.
"As pessoas acham que o dinheiro gasto com o convênio só vale a pena se usarem ao máximo. Mas deveriam pensar que é como
um seguro de carro: ninguém quer um acidente para receber o dinheiro das mensalidades."
Com o "New York Times"
Fonte: Folha de São Paulo