11/12/2007
Médicos do Rio recorrem à PM para garantir segurança no trabalho
Plantonistas sofreram agressões em hospitais que enfrentam sérios problemas de estrutura no pronto-socorro
Médicos do Hospital Municipal Salgado Filho, no Rio, recorreram à Polícia Militar para garantir segurança no trabalho.
Apenas em novembro, três plantonistas foram agredidos por familiares de pacientes revoltados com as condições no atendimento
do pronto-socorro. Em um desses casos, uma médica foi chutada no chão após ser agredida.
No dia 28 de novembro, o Sindicato dos Médicos do Rio enviou um ofício ao 3º Batalhão da Polícia Militar, relatando as
condições de trabalho dos plantonistas e alertando para possíveis tumultos.
No documento, assinado pelo diretor jurídico do sindicato, Julio Moreira Noronha, a entidade denuncia que 15 clínicos
se dividem em sete plantões, cabendo a eles o atendimento dos pacientes já internados e dos novos casos que chegam.
Anteontem, o Estado revelou a situação dos hospitais da cidade que sofrem com problemas como a superlotação, falta de
higiene, de médicos e de insumos básicos. No Salgado Filho, as unidades de observação masculina e feminina abrigam cerca de
50 pacientes onde deveriam existir apenas 14 leitos.
O diretor do hospital, Yvo Perrone, confirma a situação e o déficit de clínicos gerais. Segundo ele, os plantões contam
com até quatro profissionais dessa área, quando seriam necessários sete. Médicos do hospital afirmam que por muitas vezes
apenas um clínico é obrigado a fazer esse trabalho.
Problemas como os baixos salários fizeram com que cerca de 60% dos aprovados em 2001 em concurso público da prefeitura
abandonassem seus postos. "Eles não ficam", diz o secretário municipal de Saúde, Jacob Klingerman. "Quando ficam, passam dois
ou três anos e arranjam coisa melhor." Klingerman culpa o sucateamento da rede estadual e a baixa remuneração por procedimentos
do Sistema Único de Saúde (SUS). "Só recebemos do SUS cerca de 15% do que gastamos", afirma. "Com uma gestão muito boa, o
máximo que se consegue é cerca de 30%."
Ainda segundo o ofício enviado à PM, "as autoridades competentes já foram comunicadas, sem que providências fossem tomadas".
Um mandado de segurança de 2006 obriga a direção e a Secretaria Municipal de Saúde a garantirem número mínimo de profissionais
no setor de emergência, com fornecimento de medicamentos e insumos indispensáveis, o que torna o quadro mais grave.
Para o presidente do corpo clínico do Salgado Filho, Ivan Arbex, os médicos no Rio se dividem em um dilema. "A rede particular
não nos paga e o setor público não nos dá condições nem segurança para trabalhar", afirma.
O temor dos médicos é que a população se volte contra eles ao não encontrar condições de atendimento. "Por um tempo, esses
casos pararam, agora a população está perdendo a paciência de novo", diz Arbex.
O prefeito César Maia enfrenta a questão com uma pergunta: "Faltam médicos por efetivo ou por faltas e baixa produtividade
?" O presidente do corpo clínico do Salgado Filho desafia: "Convido o senhor César Maia e o secretário de Saúde a passarem
uma noite com os plantonistas. Se atestarem que a situação é normal, nos calamos."
Fonte: O Estado de S.Paulo