18/11/2018
Marco Aurélio Freitas Rodrigues
Na participação dos médicos cubanos, que representam quase de 50% dos integrantes do programa, ignorou-se ‑ e ainda ignora-se ‑ três pontos fundamentais, os quais já foram amplamente divulgados. O primeiro: salvo em regiões de conflitos ou de catástrofes, profissionais liberais de qualquer área requerem revalidação de diploma para atuarem em outros países. Exemplifique-se que todos os refugiados acolhidos no Brasil têm que revalidar seus diplomas se aqui desejarem exercer suas respectivas profissões.
Na área médica não é diferente. É particularmente importante, dada a natureza dos serviços a serem prestados. A formação médica no Brasil, com exceções, é precária. Em Cuba é muito ruim. Alarmante mesmo se levarmos em conta a escassez de recursos e o assombroso número de profissionais formados anualmente naquele país. Então, definimos que existirão brasileiros de segunda linha, que ou não terão atendimento ou deverão ser consultados por médicos sem certificação?
Nossos vizinhos, bolivianos, argentinos, paraguaios, enfim todos, precisam revalidar seus diplomas para atuarem no Brasil. Médicos brasileiros não querem atuar em áreas remotas? Em geral, profissionais de qualquer área, que atuam em centros maiores, não têm esse interesse. As razões são varias, desde aquelas de cunho pessoal ou familiar, até mesmo de infraestrutura. Um plano de carreira talvez represente um estímulo. Programas locais de qualificação de outros profissionais da área da saúde também poderiam ajudar.
O segundo ponto: organizações de direitos trabalhistas e o próprio Ministério do Trabalho (até agora) combatem vigorosamente a ocorrência de “trabalho escravo ou análogos”, mas fecham os olhos para o caso dos médicos cubanos que têm quase oitenta por cento dos seus salários confiscados pela ditadura socialista. O dinheiro brasileiro que é transferido para o governo de Cuba (que não é pouco!) poderia ser empregado para, por exemplo, criar-se a carreira médica ou programas equivalentes
O terceiro ponto: médicos cubanos têm cerceados seus direitos de ir vir, bem como o direito de terem consigo suas famílias. Tive contato com duas médicas, que deixaram seus filhos menores em seu país. Mesmo se quisessem, não poderiam trazê-los para cá. Pelo lado brasileiro, desde que tenhamos o atendimento, ainda que precário, não importa o que se impõe a esses profissionais? Poder-se-ia argumentar que é opção vir e seria ato de bondade ou solidariedade. A bem da verdade, sabemos que não é, caso contrário, não voltariam coletivamente para casa por decisão superior.
Em realidade, os médicos cubanos transformaram-se em uma rentável commodity, lamentavelmente explorada por novos mercadores de escravos disfarçados de governo, o qual não foi sequer eleito pela população.
*Dr. Marco Aurélio Freitas Rodrigues (CRM-PR 77010 é médico urologista, com atuação em Londrina (PR).