01/01/2008

Médicos criam rede de pesquisa e tratamento do aborto de repetição

Dificuldade de manter gestação após repetidas tentativas afeta 5% dos casais; fator imunológico é uma das causas



Médicos de nove cidades se uniram para criar no País uma rede de pesquisa, diagnóstico e tratamento do aborto de repetição, situação na qual a mulher sofre três ou mais perdas gestacionais seguidas, não conseguindo levar a gravidez até o fim. Estão nesse trabalho profissionais de Campinas, São Paulo, Rio, Brasília, Porto Alegre, Salvador, Recife, Fortaleza e Florianópolis. O problema ocorre em cerca de 5% dos casais em idade fértil, de acordo com estatísticas mundiais.

A proposta, liderada pelo Núcleo de Imunologia da Reprodução Humana (Nidarh), formado por especialistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pretende ampliar o conhecimento sobre os mecanismos envolvidos nesse tipo de aborto, aprimorar o tratamento, criar uma base nacional de dados e estimular o debate sobre resultados com vacinas que combatem falhas imunológicas.

"Quando o banco de dados estiver pronto, ginecologistas e obstetras de qualquer Estado poderão tirar dúvidas sobre diagnóstico, tratamento e encaminhamento de pacientes", diz o médico Ricardo Barini, coordenador do Ambulatório de Perdas Gestacionais Recorrentes da Divisão de Reprodução Humana da Unicamp. Ele explica que o grupo começará no primeiro semestre de 2008 um estudo clínico sobre o aborto recorrente em várias capitais.



FATOR IMUNOLÓGICO

O aborto espontâneo recorrente que ocorre até a 12.ª semana de gravidez é chamado de precoce, e as principais causas costumam ser genéticas, infecciosas ou imunológicas.

"Já os mais tardios estão relacionados à dificuldade de expansão e de crescimento do útero, como as malformações uterinas e a incompetência cervical, isto é, a incapacidade de manter o colo do útero fechado para levar a gravidez", diz Joji Ueno, coordenador do curso Especialização em Medicina Reprodutiva, ministrado pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.

Segundo ele, para ser considerado um problema de aborto repetitivo é preciso que a mulher tenha tido pelo menos três gestações sem sucesso - a ocorrência de um ou dois abortos é considerada natural, motivada por falhas genéticas, explica.

Estudo feito no ano passado com pacientes atendidas na Unicamp, um dos primeiros a tentar mapear as possíveis causas do aborto espontâneo recorrente, mostrou que, entre esses fatores, o mais freqüente foi o fator imunológico, principalmente o chamado aloimune (93,9%) - processo de rejeição do feto pelo sistema imunológico da mãe por falta ou baixa produção de anticorpos bloqueadores que protegem as células embrionárias.

"Há casais que formam um par inadequado do ponto de vista imunológico e produzem embriões que são interpretados pelo organismo da mulher com objetos estranhos ao seu corpo. Estes embriões são eliminados e, a cada nova tentativa de gravidez, estas alterações são agravadas", explica o médico.

Isto ocorre mesmo quando embriões são produzidos nos tubos de ensaio em fertilizações in vitro, após indução da ovulação da mulher. Inclusive, muitos casais que tentam sem sucesso as terapias de reprodução assistida podem sofrer, na verdade, de problemas com a resposta imunológica.

O estudo analisou 246 prontuários médicos de mulheres com três ou mais perdas espontâneas sucessivas atendidas pelo ambulatório da universidade entre 1994 e 2003. A maioria das mulheres tinha entre 30 e 34 anos.

O objetivo agora, com uma pesquisa nacional, é descobrir outros mecanismos ligados a este problema. Entendendo melhor a resposta do organismo da mulher, é possível tentar outras alterações imunológicas.



TRATAMENTO

O primeiro passo dos médicos para tratar um casal com dificuldades de manter uma gestação, após repetidas tentativas, é realizar uma avaliação cuidadosa para definir o diagnóstico e identificar possíveis causas do erro biológico.

Isso feito, é possível adotar a aplicação de vacinas que corrigem o fator imunológico problemático, tipo de tratamento que apresenta resultados favoráveis em 85% dos casais. Ou seja, fazer com que a resposta imunológica do corpo da mãe passe a ser normal, aceitando a presença do feto.


Fonte: O Estado de S.Paulo

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