08/02/2022
Dos imigrantes poloneses Julio Szymanski e José Czaki aos cidadãos-natos como os Drs. Amur Ferreira, Álvaro Cantador e Valério Sobania, todos com atuação marcante no século passado, a homenagem aos que contribuíram e contribuem para o desenvolvimento do município metropolitano
Um dos municípios com maior PIB (5°) e mais populosos do Paraná (o 11° com seus mais de 148 mil habitantes), Araucária está completando 132 anos de fundação neste 11 de fevereiro. Na passagem desta data, as congratulações a todos os médicos que atuam na cidade da Região Metropolitana, munícipes, gestores e servidores públicos, bem como a homenagem a todos que ajudaram a escrever esta longa história. O Conselho de Medicina rende também sua homenagem às famílias dos cidadãos araucarianos que foram vitimados pela Covid-19, que, de acordo com estatísticas oficiais somam aproximadamente 560 desde o início da pandemia.
Na reverência aos médicos pioneiros de Araucária, merece menção a trajetória dos poloneses Julio Szymanski (1870-1958) e José Czaki (1857-1946), que também foram cientistas e estiveram exilados no Brasil. Nas primeiras duas décadas dos anos 1900, a população de Araucária passou de 6.870 para 11.280 habitantes e foi nesse período que se tem a notícia da atuação dos primeiros médicos e da presença dos ilustres imigrantes, que hoje nomeiam logradouros públicos locais. Em 1970, na passagem do centenário de nascimento do Dr. Julio, ele foi homenageado pela UFPR, instituição da qual foi docente. Recentemente, ainda, foi destacado na exposição “Juliusz Szymański: um polonês entre dois continentes”.
Médicos araucarianos
Outros destacados personagens fazem parte da história da Medicina de Araucária, dentre eles os Drs. Amur Ferreira (CRM-PR 735), Álvaro Cantador (1.516), Valério Sobania (2.386) e Silvio Roberto Skraba (7.318), já falecidos, e ainda o Dr. Rogério Donato Kampa (4.063), que inclusive foi prefeito da cidade, feito precedido por seu pai, Sr. Ignácio Kampa, que hoje nomeia o Paço Municipal, inaugurado em 1987.
O Dr. Amur, cidadão-nato, nasceu em 13 de abril de 1917. Foi responsável pelo nascimento de várias centenas de crianças araucarianas (ou araucarienses, gentílico também aceito), inclusive dos quatro filhos, um deles, Cid Claiton Ferreira, que seguiu seus passos na Medicina, como outros descendentes. Formado em 1945 pela UFPR, em 1996 recebeu do CRM-PR o Diploma de Mérito Ético pelo Jubileu de Ouro e trajetória exemplar. Em vida, recebeu outros inúmeros títulos e homenagens, como o de Cidadão Benemérito de Araucária e de Benfeitor da Comunidade, concedido pela Associação Beneficente São Vicente de Paulo. Entre meados dos anos 1940 até o início de 1980, foi chefe do Distrito Sanitário de Araucária, o Postão, e hoje nomeia o Núcleo Integrado de Saúde (NISS III). Encerrou as atividades em 1999, tendo falecido na Capital em 14 de janeiro de 2009, aos 91 anos.
Como abordado em homenagens póstumas ao ilustre médico, enquanto chefe do Posto de Puericultura de Curitiba e Araucária, frequentemente comprava leite e tecidos para as voluntárias fazerem fraldas para serem doados para as crianças carentes dos dois municípios. O prédio antigo e tombado pelo patrimônio histórico, localizado na praça central de Araucária, funcionou como casa e consultório da família Ferreira. Hoje, serve de local para o trabalho do filho mais novo, médico. Confira AQUI reportagem do jornal O Popular.
Diretor e médico do Hospital São Vicente de Paulo, durante muitos anos atuou ao lado de outro pioneiro até mais antigo, o Dr. Álvaro Cantador, nascido em novembro de 1911 e que se formou em 1936 pela mesma UFPR. O médico também nomeia hoje uma unidade municipal de apoio de diagnose e terapia. O Dr. Silvio Skraba, também descendente de família tradicional da cidade, foi pupilo dos Drs. Amur e Álvaro. Formado em 1980, era especialista em Cardiologia e detinha grande prestígio na comunidade local, que muito lamentou sua morte prematura. Hoje é homenageado com nome de rua e de unidade básica de saúde. Também é distinguido com nome em via pública o Dr. Valério Sobania, nascido em dezembro de 1916 e que se formou pela UFPR em 1945. Ele faleceu em 1971, tendo atuado em Curitiba e Araucária.
Também cidadão-nato, o Dr. Rogério Donato Kampa foi prefeito de Araucária no período de 1883-1988), sendo reverenciado pela comunidade local pela administração modernista que implementou. Funcionário público federal aposentado (Inamps), foi diretor-geral da Sesa no governo Alvaro Dias. Formado em dezembro de 1974, pela Universidade Federal do Paraná, ele é o atual diretor do Hospital Evangélico Mackenzie de Curitiba. É pai da geriatra Amanda Valim Kampa Cassab (CRM-PR 24.874), irmão da também médica Dra. Suiany Loyola Kampa (11.671) e tio da Dra. Katia Cristina Kampa (26.579), gastroenterologista que exerce a atividade em Araucária.
Médicos atuantes
Araucária tem atualmente 50 médicos ativos residentes, além de outros com domicílio em Curitiba ou cidades vizinhas. Conta com uma Representação Regional do CRM-PR, que é integrada pelos médicos Araré Gonçalves Cordeiro Junior (diretor), Isaque Mitsugui Kaieda (vice-diretor), Patricia Beleski Carvalho de Oliveira (secretária), Claudio Bednarczuk e Sandra Lira Medeiros. O atual secretário de Saúde é o médico Adilson Seidi Suguiura, especialista em ortopedia e traumatologia e cirurgia de mão. O prefeito da cidade é Hissam Hussein Dehaini, empresário, que tem mandato até 2024. A vice é Hilda Lukalski Seima.
O cardiologista Araré Cordeiro Junior, que enquanto membro da Delegacia Metropolitana e do Litoral e agora da Representação Regional de Araucária desempenhou importe papel em defesa da profissão médica, em meados de 2021 mereceu homenagem especial de colegas ao se despedir do serviço público pela aposentadoria. Ele deixou Centro de Especialidades Médicas (CEMO) depois de relevantes serviços à comunidade de Araucária, tendo inclusive sido secretário municipal de saúde de 1989 a 1996 e ainda presidiu a Associação de Secretários Municipais de Saúde do Paraná (Apasems, hoje Cosems). Também preside a Associação Médica de Araucária. Veja mais AQUI.
História da cidade
As primeiras movimentações do homem branco no atual município de Araucária remontam ao ano de 1668, período em que Domingos Rodrigues da Cunha recebeu uma sesmaria doada pelo capitão povoador Gabriel de Lara, o homem forte do Paraná daquele período. O município foi criado em 11 de fevereiro de 1890, pelo Decreto Estadual n° 40, sancionado pelo governador José Marques Guimarães. Foi desmembrado dos municípios de Curitiba e São José dos Pinhais e teve a denominação alterada de Tindiquera para Araucária (referência à espécie também conhecida como pinheiro-do-paraná). A instalação oficial deu-se 1° de março daquele ano. O primeiro prefeito eleito do município teria sido Manuel Gonçalves Ferreira.
Em 1972, com a instalação da Refinaria Presidente Getúlio Vargas e, no ano seguinte, com a criação do Centro Industrial de Araucária, houve crescimento bastante acentuado e uma inversão no quadro populacional, econômico e social do município, em que a população urbana passou a superar a rural com a vinda de um contingente populacional de vários pontos do país. Assim, a economia que se baseava na agricultura e pecuária, passou a ser predominantemente industrial/urbana. A partir daquela década (1970), ocorreu uma acentuada industrialização da cidade, totalizando um dos maiores parques fabris do Estado, além de se transformar em referência em inovação.
Os médicos poloneses
De acordo com depoimento concedido pelo pioneiro Reynaldo Alves Pinto, em 1989, o Dr. Czaki atuou como clínico geral, porém também atendia a partos. Citou que o médico teve consultórios em dois locais na área central da cidade, sendo que o segundo era de sua propriedade e se localizava nas proximidades do atual Sindicato Rural de Araucária, na Rua Diógenes Brasil Lobato. O professor e historiador Romão Wachowicz registrou em 1975: “O Dr. Czaki possuía uma farmácia e um laboratório. Ele próprio preparava os remédios para alguns pacientes. Antigamente, os médicos receitavam produtos químicos em miligramas, e os farmacêuticos preparavam as receitas prescritas em seus laboratórios, concentrando módulos em pílulas ou líquidos”. Atualmente, valiosas lembranças sobre o Dr. Czaki compõem o acervo particular da família de Mário Gondek.
Pesquisas sobre o Dr. Julio Szymanski indicam que “ele foi considerado um profissional inteligente, generoso e interessado nos avanços da Medicina. Foi um dos primeiros professores da Universidade do Paraná, tendo seu manual de oftalmologia publicado em 1919, em português, e posteriormente traduzido para o polonês. Em 1970, Araucária soube reconhecer os trabalhos do professor universitário e médico dando seu nome ao Ginásio Estadual, onde mais tarde lecionou um de seus filhos, Júlio Pinior Szymanski, que hoje também nomeia via pública da cidade".
O médico também empresta o nome à rua onde, em 1919, foi instalado o Sanatório Araucária, especializado em doenças respiratórias. O Dr. Julio foi o fundador e diretor do estabelecimento.
Quem foi José Czaki
Nascido Józef Czaki em Sannik, província de Mazóvia, Polônia, em 21 de dezembro de 1857. Faleceu em Araucária (PR) em 22 de maio de 1946, nomeando logradouro público (rua) com seu nome já aportuguesado – José Czaki. Formou-se em Medicina pela Universidade de Varsóvia em 1883. De 1884 a 1886 foi médico nos hospitais São Roque e Menino Jesus, em Varsóvia. Foi coronel médico do exército imperial russo e entusiasta da geologia e zoologia, tendo se dedicado com mais atenção, embora de forma amadora, aos insetos e às serpentes.
Após 1905, trabalhou como médico na construção da ferrovia da Manchúria, em Sungari. Foi exilado polonês. Em 1906 foi preso por ter participado dos movimentos revolucionários na Manchúria. Nesse mesmo ano fugiu para o Japão, onde foi cofundador da revista Wola (Vontade). Czaki teve reconhecido o seu diploma de médico em Springfield, no ano de 1908. Dedicou-se às ciências naturais, especialmente à Zoologia e à Mineralogia. Transferiu-se para Chicago (EUA), colaborando no jornal Dziennik Ludowy e fundando a Universidade Popular Polonesa naquela cidade.
Em 1914 veio para o Brasil e residiu, no Paraná, em Curitiba, Ivaí, Cândido de Abreu, Ponta Grossa, Marechal Mallet e Araucária. Atuou como médico, desenvolveu um trabalho educacional com a comunidade polonesa e escreveu para jornais da Polônia e do Brasil. Prestou assistência médica durante a epidemia de cólera em União da Vitória e criou a escola na sociedade “Dom Ludowy” (Casa do Povo) e a sociedade “Stowarzyszenie Strzelec” (Sociedade Atirador), em Araucária.
Foi agraciado com a Cruz dos Cavaleiros da Ordem do Renascimento da Polônia pelos trabalhos comunitários. Efetuou pesquisa em herpetologia. Manteve muitos contatos com pesquisadores brasileiros do RJ e SP, principalmente com o Dr. Vital Brasil (fundador do Instituto Butantã em São Paulo). Reuniu um valioso acervo zoológico e etnográfico, que enviou ao Muzeum Przyrodnicze Panstwowe w Warszawie e que se encontra em sala batizada com seu nome. Entre suas publicações está “Co powinnismy wiedziec o wezach Poludniowej Ameryce” (Kurytyba, Naklad Wiasny, de 1929).
Quem foi Julio Szymanski
Nascido Julian Juliusz Szymański, em Kielce, Polônia, em 10 de maio de 1870, e falecido em 8 de junho de 1958, em Białystok, cidade polonesa próxima da divisa com a Bielorrúsia. Completou seus estudos médicos em Kiev (hoje capital da Ucrânia), onde, no período de 1891 a 1898, foi assistente em uma clínica de oftalmologia. Por sua participação na revolução de 1905, fugindo da repressão, acabou emigrando para os Estados Unidos, onde continuou seu trabalho científico. De 1914 a 1920 esteve no Brasil, tornando-se professor da Universidade Federal do Paraná, em Curitiba. Foi nesse período que ele também acabou atuando em Araucária, ao lado de seu conterrâneo e contemporâneo Dr. José Czaki.
Nessa época, organizou uma clínica ocular e publicou o primeiro livro oftalmológico em português, republicado depois em polonês. De volta ao país de origem, a partir de 1922 foi professor na Universidade Stefan Batory, em Vilnius. Ele foi criador de vários métodos inovadores no tratamento de doenças oculares, especialmente glaucoma. Nos anos de 1931 a 1935 foi presidente da Sociedade Oftalmológica Polonesa. Ainda de 1928 a 1935 foi marechal do senado da República da Polônia. Tornou-se membro do conselho principal da Associação Siberiana, tendo ainda fundado, em 1929, a Sociedade Brasil-Polonesa Rui Barbosa, em Varsóvia, sendo seu presidente até 1939.
Durante a ocupação alemã, trabalhou no Hospital Maltês, estabelecido no Palácio Miniszchów, em Varsóvia. Em 1949, emigrou com a esposa Casimira Walkiewicz Szymanski e demais familiares novamente para o Brasil. Retornou para o país de origem em 1957, um ano antes de sua morte. Recebeu inúmeras condecorações, como Cruz do Comandante com Estrela da Ordem do Renascimento do Polonês, Cruz da Independência, Cruz de Ouro do Mérito, Ordem da Cruz da Águia (Estônia), Ordem do Cruzeiro do Sul (Brasil, 1934) e Cavaleiro Magistral da Ordem de Malta.
Um dos filhos do Dr. Julio nasceu em Araucária no dia 1° de agosto de 1915. Constantino Leszek Szymanski acabou se formando em Medicina na Universidade de Varsóvia, no período em que a família esteve de retorno à Polônia. Acompanhando o pai na volta ao Brasil, o Dr. Constantino revalidou seu diploma em outubro de 1962 na Universidade Federal de Pernambuco. Obteve CRM em Santa Catarina (621) e Paraná (2.962), onde trabalhou em Araucária e depois em Cascavel, onde se estabeleceu.
Um dos filhos do Dr. Constantino também seguiu a Medicina, formado em 1976 pela Universidade Severino Sombra (RJ). Jack Szymanski (CRM-PR 5.444) é especialista em medicina de tráfego e oftalmologia, estando radicado em Cascavel juntamente com a esposa, a Dra. Ana Maria Kerr Saraiva Szymanski (CRM-PR 7017), especialista em medicina de tráfego, clínica médica e medicina do trabalho. No segundo semestre de 2018, já na condição de primeiro brasileiro na presidência da The International Traffic Medicine Association, o Dr. Jack conduziu em Curitiba o 26.º Congresso Mundial de Medicina do Tráfego da ITMA, realizado em Curitiba e tendo como foco a redução de mortes e lesões no trânsito. Em outubro daquele ano, às vésperas do evento, o Dr. Jack esteve em visita ao CRM-PR, sendo recepciomnado pelo conselheiro Wilmar Mendonça Guimarães. Na ocasião, estava acompanhado de outros integrantes da comissão organizadora do congresso, incluindo a esposa Dra. Ana e o médico de tráfego Fabiano José Alves.
Saiba mais sobre pioneiros e aspectos históricos da Cidade Símbolo do Paraná acessando a página “Araucária: uma cidade, uma saudade” no Facebook. Fotos dos Drs. Czaki e Szymanski foram cedidas por seus familiares e fazem parte do acervo do Arquivo Histórico Municipal Archelau de Almeida Torres, que reúne informações relevantes sobre a história da cidade e seus personagens. Saiba mais AQUI.
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