Debater e mediar questões referentes à judicialização da Medicina. Esta é a função do Comitê Executivo de Saúde do Paraná.
O grupo, que tem entre seus integrantes magistrados, promotores e médicos, reúne-se mensalmente em Curitiba e realizará seu
próximo encontro na sexta-feira (06) das 9h ao 12h, no prédio da Justiça Federal. Mas a atuação do Comitê não se restringe
à Capital. Desde 2011, já foram realizadas reuniões com gestores de outras 22 regionais do estado, entre elas Maringá, Umuarama
e Foz do Iguaçu, onde estão sendo criados os comitês locais. Ao todo, foram 80 reuniões no período.
De acordo com Luiz Carlos Sobania, membro nato do Conselho Regional de Medicina do Paraná e seu representante no Comitê,
os principais objetivos dessa iniciativa são assegurar que a judicialização seja feita da maneira correta e estabelecer uma
relação harmoniosa entre o Judiciário, o Médico e a Gestão em Saúde. Um trabalho ostensivo, mas necessário, como reforçou
o desembargador João Pedro Gebran Neto, da 4.ª Região do TRF, em palestra que proferiu esta semana em Portugal. O magistrado,
que foi responsável pela implantação do Comitê no Paraná, estima que o governo brasileiro gaste aproximadamente R$ 7 bilhões
por ano com ações na Justiça na área da saúde.
Relação de medicamentosEx-presidente
do CRM-PR e vice do Conselho Federal de Medicina, Luiz Carlos Sobania afirma que são comuns casos em que pacientes da rede
pública de saúde entram na Justiça para conseguir acesso a medicamentos de alto custo que não são disponibilizados pelo Sistema
Único de Saúde (SUS). “A maior parte das ações é em relação a medicamentos oncológicos. Nessa área não é raro que eles sejam
muito caros ou de difícil acesso”, diz.
O representante do CRM-PR destaca que se trata um direito do cidadão, mas
que há um excesso de processos desnecessários, que poderiam ser evitados caso os médicos se informassem melhor. “O médico
não tem conhecimento dos medicamentos que o SUS já entrega (confira aqui) e, daí, acha que é só prescrever a receita e o papel
dele está pronto”, diz.
Dessa forma, muitas liminares acabam sendo aprovadas sem distinção, pois várias delas são
encaminhadas à Justiça em regime de urgência e os juízes acabam dando um parecer positivo para não prejudicar o paciente –
o que acaba custando muito aos cofres públicos. “Só no ano passado, o governo do Paraná gastou pelo menos R$192 milhões com
a judicialização”, calcula o Dr. Luiz Carlos Sobania.
Cabe a iniciativas como o Comitê Executivo de Saúde dar o suporte e orientação necessários para o bom procedimento dos médicos
e magistrados. Por isso, o médico afirma ser de suma importância a presença do CRM nessas reuniões. “O CRM é responsável por
fiscalizar e orientar os médicos para que eles façam as prescrições da maneira correta”, diz. “Além disso, se o juiz tem alguma
dúvida em relação à validade de uma liminar dessas, ele pode nos contatar para nós fazermos a ponte com os médicos”.
Uma das iniciativas promovidas pelo Comitê foi a elaboração de uma ficha que o médico deve preencher para fazer a prescrição
nesses casos. Nela deve constar qual doença está sendo tratada, quais medicamentos o paciente utilizava anteriormente e qual
está sendo solicitado, entre outras informações que comprovem a necessidade da liminar.
Reunião do dia
6 de abrilA reunião do Comitê nesta sexta-feira (6) terá a participação especial do médico ortopedista
Dr. Edmond Barras, de São Paulo. Sua abordagem será sobre a importância da segunda opinião em indicações de procedimentos
cirúrgicos para se reduzir o número de cirurgias desnecessárias, em especial as de coluna. Também vai discorrer sobre a influência
dos incentivos financeiros nas indicações cirúrgicas, comercializações aéticas das OPMEs, a responsabilidade do médico na
solicitação de liminares, urgências fabricadas e o projeto coluna implantado pelos Hospitais Albert Einstein e Beneficência
Portuguesa. Formado pela USP em 1973, foi residente estrangeiro no Hospitaux de Paris e médico assistente do Pitié-Salpetrière,
também na capital francesa. Foi o fundador do Serviço de Clínica e Cirurgia da Coluna Vertebral do Hospital da Beneficência
Portuguesa, que dirige até hoje.
Em decorrência da sua participação na reunião da Câmara Técnica de Implantes da
Associação Médica Brasileira, em São Paulo, o Dr. Sobania não poderá participar da reunião do Comitê em Curitiba, a partir
das 9 horas da manhã. O CRM-PR estará representado pela conselheira Keti Stylianos Patsis, coordenadora da Câmara Técnica
de Medicina do Trabalho. É aberta aos demais médicos interessados.
Gastos globais com judicialização“A judicialização da saúde ganhou uma proporção
sem igual no Brasil nos últimos anos”, avaliou Gebran Neto durante o VI Fórum Jurídico de Lisboa – Reforma do Estado Social
no Contexto da Globalização, realizado pelo Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP) e pela Fundação Getúlio Vargas
(FGV) na capital portuguesa. No evento, ele fez uma palestra sobre a Eficiência do Sistema de Saúde Pública, indicando que
o governo brasileiro gasta aproximadamente R$ 7 bilhões por ano com ações na Justiça na área da saúde.
No Brasil,
de acordo com o desembargador, há dois tipos de saúde: a qualificada, mas cara, para quem tem recursos, e a ampla, que atende
a 75% da população brasileira, mas com precariedade de atendimento. Segundo ele, há mais de 1,34 milhões de ações, a maioria
tratando sobre fornecimento de medicamentos. “Ou são oferecidos muito mal ou oferecidos, mas como não deveria ser. O abismo
da realidade entre saúde publica e privada é que gera judicialização”, constatou.
Outro problema, conforme Gebran
Neto, é que a judicialização nem sempre consegue enfrentar problemas da população, como a grande espera no atendimento. Apesar
das críticas, a avaliação do desembargador é a de que o Sistema Único de Saúde (SUS) é um caso de sucesso. “Está longe de
ser ideal, padece de alguns males como fato do subfinanciamento, e a judicialização não tem contribuído para o problema”,
disse.
Confira
aqui
fala do Prof. Dr. Gebran Neto sobre judicialização na saúde.