05/11/2017
Dr. Paulo Gustavo exilou-se no Chile e depois ficou dois anos e três meses preso; com experiência adquirida nos anos 80 em SP, participou da construção do modelo de saúde comunitária
O Dr. Paulo Gustavo de Barros Carvalho (CRM 2131) foi um dos 67 médicos distinguidos este ano com o Diploma de Mérito Ético-Profissional, honraria concedida pelo CRM-PR na passagem do Jubileu de Ouro e com histórico sem qualquer sanção disciplinar. A solenidade para homenagem, como parte dos festejos do Dia do Médico, ocorreu na manhã de 21 de outubro e 25 dos médicos não puderam comparecer, incluindo o Dr. Paulo. Ele esteve na sede do Conselho no último dia 1.º de novembro para receber o seu Diploma e também o cristal simbolizando a Medicina.
O membro-nato Gerson Zafalon Martins, que presidiu o CRM-PR de fevereiro de 2007 a setembro de 2008, foi quem entregou as comendas ao Dr. Paulo Gustavo, seu amigo de muitos anos e com o qual se identificou na militância contra a ditadura militar. Ambos estão inseridos no Memorial da Anistia, em projeto de depoimentos para a história (a “Resistência à Ditadura Militar no Paraná”). O projeto é desenvolvido pelo DHPaz – Sociedade Direitos Humanos para Paz, em paceria com a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça e Grupo Tortura Nunca mais do Paraná.
O Dr. Paulo Gustavo nasceu em São José do Rio Preto (SP) e completa 74 anos no próximo dia 18 de novembro. Ele ingressou no curso de Medicina da Universidade Federal do Paraná em 1962 e já no ano seguinte, influenciado por um dos 10 irmãos, começou a fazer parte da Juventude Universitária Católica (JUC) e, em 1965, participou da organização da Ação Popular (AP), quando foi preso em São Paulo durante uma reunião clandestina.
Como relata em seu depoimento à DHPaz, até 1968 ele foi intensificando a militância na AP e, já com o diploma de médico, diz que resolveu “servir o povo”, partiu para Santa Catarina disposto a morar no campo. Com o codinome “Antonio”, parmaneceu na clandestinidade até setembro de 1970, quando se exilou no Chile. “Lá o meu contato era da AP era o José Serra”, relata o médico, que acabaria preso pelo exército em Santana do Livramento numa missão de retorno ao Brasil. Passou por Porto Alegre e Rio de Janeiro, submetido a todas as técnicas de tortura, até que no início de 1971 parou numa unidade da polícia repressiva em Curitiba, dividindo cela com nomes conhecidos da militância, como Edésio Passos, Luiz Alberto Manfredini, Elba Ravaglio e Walmor Marcelino.
Após dois anos e três meses de idades e vindas, foi colocado em liberdade. “Só que a falta de atestado negativo do Dops impedia a todos de arrumar emprego e assumir cargos em concursos públicos. Foram tempos difíceis aqueles”. O Dr. Paulo chegou a passar num concurso do Inamps para médico em Paranaguá, mas ficou na função por apenas dois meses, depois de ter cassado o seu atestado ideológico. O médico conta com orgulho ter sido um “pupilo” do Professor Lysandro de Paula Santos Lima, cuja herança de ensinamentos ajudou muito em sua carreira profissional. Relembra que, após o insucesso na busca por emprego em Curitiba, seguiu para Campinas, onde começava a surgir um novo modelo de saúde comunitária, no âmbito dos municípios, que acabaria no presente dando sustentação à atenção primária.
O Dr. Paulo relembra que a filiação ao PCdoB ocorreu em 1978 e foi até 1982, quando deixou o partido. “Não queria correr o risco de ser preso novamente. Apesar de não ter abandonado minhas ideias, não tinha mais coragem para militar”, destaca, contando que foi nesse período que voltou ao Paraná trazendo na “bagagem” a experiência de enfrentamento das dificuldades assistenciais em meio ao inchaço de cidades do com êxodo rural. Deu novo impulso à carreira aproximando-se de alguns colegas de Paranaguá e depois se engajando no serviço público em Curitiba, com atuação em unidades que se transformariam em modelares e contribuindo com planejamento para as inovações que hoje estão disponíveis à população.