O governo japonês realizou a condecoração de cinco pessoas na manhã de sábado (10), em cerimônia realizada na Aliança Cultural Brasil-Japão do Paraná, em Londrina. As homenagens iniciaram com a condecoração por honra ao mérito do Cônsul Geral do Japão para os Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, Hajime Kimura, para os homenageados Toshihiko Tan, de Londrina; Cairo Koguishi, de Assaí; Denzo Komagome, de Maringá; e Kazumi Nemoto, de Foz do Iguaçu.

O ponto alto da cerimônia foi a condecoração do médico Frank Ogatta (CRM 934) com o Mérito “Ordem do Sol Nascente, Raios de Ouro e Prata”. De acordo com o próprio consulado, trata-se de uma condecoração imperial, do nível máximo do Governo do Japão, em função de seu trabalho como médico, atuando voluntariamente em exames preventivos em vários municípios. O projeto funcionou no período de 1992 a 2008, com 246 viagens realizadas, envolvendo 20 médicos de diferentes especialidades.

Diploma e medalha de Lucas

O Dr. Frank Ogatta, que tem quatro filhos, dois deles também médicos, já recebeu as duas principais honrarias concedidas pelo Conselho Regional de Medicina do Paraná: o Diploma de Mérito Ético-Profissional, que recebeu em 2005 ao completar 50 anos de formado, e a Medalha de Lucas – Tributo ao Mérito Médico, que lhe foi conferida em 2011 em reconhecimento por seu trabalho humanitário no projeto itinerante de atenção à saúde dos idosos da comunidade nipônica. Em setembro de 2008 ele também foi condecorado pelo CRM com menção honrosa por seu trabalho, em meio às comemorações do Centenário da Imigração Japonesa no Paraná.

Na homenagem ao Dr. Frank Ogata e outros pioneiros, o CRM-PR foi representado pelo conselheiro Jan Walter Stegmann, com atuação em Londrina. Natural de Paraguaçu Paulista (SP), onde nasceu em julho de 1929, o Dr. Frank graduou-se em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (então Distrito Federal) em 1955. Dois anos depois, mudou-se para a cidade de Uraí, no Norte paranaense. Optou pela Ginecologia e Obstetrícia, sendo um dos pioneiros dessa especialidade em Londrina, onde não só exerceu a profissão como se engajou em importantes trabalhos sociais. 

Em 1964, ao lado de outros diretores da Associação Médica local, participou da mobilização para implantar o curso de Medicina em Londrina. Trabalhou ainda por 25 anos na Associação Cultural e Esportiva de Londrina (Acel), que congregava os nikkeys da região, sendo inclusive presidente.

O cirurgião plástico Evaldo Yoshitomo Ogatta, um dos filhos do Dr. Frank, assinalou que a homenagem é uma grande honra para família. “Meu pai trabalhou muitos anos com a medicina e sempre em prol das outras pessoas, principalmente para a nossa comunidade. Isso é um espelho para a gente”, destacou o Dr. Evaldo, que se formou em 1984 e também participou das caravanas a outros municípios. “Eu também ajudava. É um exemplo que deve ser seguido. Todo mundo que puder deve fazer trabalho voluntário”, apontou. A outra filha médica do Dr. Frank, Evelin Ogata Muraguchi, é professora e coordenadora do curso de Medicina da PUC Londrina. A terceira filha, Evelise, é fisioterapeuta, e a quarta, Evenilde, é professora de educação física. “O mais importante é ter a família unida. Tem que ter muito amor. Nesses 88 anos, ele nunca esqueceu de cuidar da família”, reforçou o Dr. Evaldo.

“Para mim é uma honra receber essa homenagem. Não sou só eu que mereço. Quem merece é a turma que trabalhou comigo. Tínhamos uma equipe de pessoas que revezávamos para fazer o atendimento dessas pessoas. A homenagem é para esse grupo”, destacou o Dr. Frank Ogatta.

Os outros homenageados
“O senhor Koguishi trabalhou por 26 anos em atividades em prol do povo de Assaí, sempre divulgando a cultura japonesa, sempre visando o melhor para os assaienses e realizando um trabalho na Aliança Cultural Brasil Japão do Paraná”, ressaltou o cônsul japonês Hajime Kimura, que destacou o trabalho de Komagome em Maringá. “Ele atuou em três áreas em Maringá. Ele contribuiu para a Acema (Associação Cultural e Esportiva de Maringá) como diretor de educação; trabalhou como diretor do Centro de Ensino Kakogawa-Maringá; e contribuiu muito para o Wajunkai (asilo voltado para a comunidade nipo-brasileira). É um trabalho maravilhoso”, apontou.
O cônsul também destacou as atividades de Kazumi Nemoto em Foz do Iguaçu. “Ele trabalhou e ajudou por muito tempo o Wajunkai e foi fundador da Associação Japonesa de Foz”. Sobre Toshihiko Tan, o cônsul destacou que o londrinense atua em três áreas. “Ele ensinou alunos de Odontologia e formou muitos dentistas. O trabalho dele foi maravilhoso. Foi presidente da Acel por oito anos e continua como conselheiro do clube. Tem atuado na Aliança Cultural Brasil Japão do Paraná e participou ativamente das atividades do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil”, indicou o cônsul.

Toshihiko Tan estendeu a homenagem que recebeu à toda comunidade nipo-brasileira. “São pessoas que trabalharam anonimamente. Eu, na verdade, não gostaria de receber, porque eu não mereço mais do que muitas outras pessoas que também trabalharam como eu. Como houve uma solicitação para candidatar-me para essa homenagem eu aceitei, porque era em nome da Acel. Fiquei honrado em receber esta homenagem em nome da entidade que tenho ajudado desde 1955, quando ela foi constituída e teve o seu estatuto criado, embora a agremiação já fosse informalmente constituída há mais tempo”.

“Tenho colaborado sempre dentro de minhas limitações para o progresso dessa cidade”, disse Toshihiko Tan, que se formou em Odontologia pela UFPR (Universidade Federal do Paraná) e, quando retornou a Londrina, a cidade possuía apenas 25 dentistas formados. “Aqui em Londrina, na época, só existia o Ginásio Londrinense. Para fazer o científico (atual ensino médio) tive de ir para Curitiba e depois fiz a faculdade por lá. Desde 1953 trabalho em Londrina e agora estou aposentado; não estou mais em consultório. Mas quero contribuir até onde der. Pertenço ao Lions Club há 53 anos, que ajuda a cidade no desenvolvimento sem nenhum interesse, assim como na própria Acel”, apontou.

Tan foi um dos fundadores da Faculdade de Odontologia de Londrina, que depois veio a ser uma das faculdades que originou a UEL (Universidade Estadual de Londrina). “Foi na minha gestão como presidente da (AONP) Associação Odontológica do Norte do Paraná) que batalhamos e conseguimos trazer para Londrina a faculdade de odontologia em 1962 e 1963. Eu me sinto orgulhoso de ter contribuído para essa história, embora eu não tivesse sido formado para ser professor. Eu me formei para ser cirurgião dentista e atender os pacientes. Fui obrigado a me tornar um orientador e acabei contribuindo com os alunos da faculdade e da universidade por 38 anos”, destacou.

A família de Toshihiko Tan possui uma ligação muito forte com os primeiros anos do município de Londrina. “Vim a Londrina em 1935, mas meus pais vieram antes, em 1933. Derrubaram florestas na chamada ikko (primeira região de Londrina a abrigar membros da comunidade japonesa), na região onde fica o aeroporto de Londrina”, destacou. Sua mãe, que ficou conhecida como Maria Tan, foi a parteira do início da colonização da cidade. “Minha mãe foi uma criatura que recebeu título de cidadã honorária e fez mais de dez mil partos, sem nenhum recurso. Ela ia no meio do mato para realizar esses partos. Fico feliz por ter tido uma mãe dessa natureza”, destacou.

Por Vítor Ogawa, da Folha de Londrina, com informações do CRM-PR.