17/11/2014
Editor da revista Iátrico do CRM faleceu nesta terça, em Curitiba. Deixa legado de saber e exemplo ético. O velório tem início às 13h desta terça na Capela Diamante, do Vaticano, na capital. A cerimônia de cremação será às 20h
O Conselho Regional de Medicina do Paraná comunica com grande pesar o falecimento do Prof. Dr. João Manuel Cardoso Martins, ocorrido na madrugada desta terça-feira (18 de novembro) no Hospital Santa Cruz, em Curitiba. Professor, médico, escritor e poeta, construiu e disponibilizou enorme acervo de conhecimento e cultura em prol da sociedade, em especial profissionais ou estudantes de Medicina. Há mais de uma década era colaborador do CFM e do CRM-PR, produzindo várias obras, incluindo a revista Iátrico, da qual era o idealizador e editor.
O Prof. João Manuel (CRM-PR 3.092) tinha 67 anos e deixa esposa, a médica Maria Isabel da Fonseca Martins, quatro filhos – dois deles médicos – e netos. O velório será a partir das 13h desta terça na Capela Diamante, no Vaticano, em Curitiba. A cerimônia de cremação terá início às 20h. (Des. Hugo Simas, 26, esquina com a Rua Albino Silva. Atrás do Cemitério Municipal do São Francisco - Estacionamento próprio na Rua Albino Silva.)
HOMENAGENS
Professor de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná há mais de 40 anos e membro da Academia Paranaense de Medicina, o médico tinha recebido as principais condecorações do Conselho do Paraná e do Conselho Federal em reconhecimento ao seu trabalho. Pelo CRM-PR, ele recebeu em 2010 a Medalha de Lucas – Tributo ao Mérito Médico. Em outubro do ano passado, durante o III Congresso Brasileiro de Humanidades em Medicina, realizado na Bahia, ele foi homenageado pelo CFM, que lhe conferiu a Comenda Moacyr Scliar de Medicina, Literatura e Artes.
Ainda durante o Congresso de Humanidades, o CFM lançou a obra “Primeiras Impressões – Iátrico em perspectiva”, de autoria do Prof. João Manuel. O livro, com 14 capítulos em 406 páginas, reúne coletânea de artigos publicados na revista Iátrico, do Conselho do Paraná. Em 2009, o Conselho Federal tinha lançado outro livro de autoria do eminente professor: “Jaculatórias, sugestões para o dia a dia do médico”. São 168 páginas com muitas lições. Com sua vasta cultura, ele gostava da provocação com palavras como instrumento de reflexão. O título da obra tinha esse propósito, como jatos de ideias médicas arremessadas à reflexão e à crítica. Para se aprender ou reaprender a pensar.
Assinala o autor em um trecho do prefácio da obra: “Quem reflete a respeito de sua prática médica, sem medo de encarar inconveniências, tem melhores condições de avaliar o equilíbrio de seus direitos e deveres, verdadeiro apanágio da cidadania. Esperamos que as jaculatórias sirvam a esse propósito. Mortos e vivos associados a uma profissão que é de curar, reparar, mitigar, mas também de trazer esperança a quem não a tem e que, portanto, necessita de palavras e atos pertinentes”.
PERSEVERANÇA
Nascido em junho de 1947 num pequeno vilarejo de Portugal, ele emigrou para o Brasil ainda criança, no início dos anos 50. Os pais José e Maria do Carmo Martins radicaram-se na região de Londrina, no Norte do Paraná. A origem humilde e as dificuldades financeiras não o impediram de realizar o sonho de se tornar médico. Estudou em Curitiba, onde estavam as duas únicas escolas de graduação do Estado na época. Ele se graduou em 1971 e logo foi convidado para integrar o corpo docente da Católica, atual PUCPR, onde permaneceu até recentemente, afastando-se por problemas de saúde. Era especialista em reumatologia e clínica médica.
As incursões na arte das palavras começaram ainda na fase acadêmica, quando fez circular entre os estudantes o jornalzinho “O Crânio”, que tinha seu viés político num momento em que o País vivia sob o regime militar. Em 2002, convidado pelos conselheiros Luiz Salim Emed e Gerson Zafalon Martins, o Prof. João Manuel aceitou o desafio de criar um canal de interação com os médicos, em especial os mais jovens. Primeiro, produziu um livreto com “dicas” para os profissionais, depois passou a produzir um encarte no Jornal do CRM-PR, que ganhou o sugestivo nome de “Iátrico”. “Mais que focar na cultura, nas artes e na profissão, o espaço pretendia estimular o médico e o estudante de Medicina a ler, a exercer seu senso crítico, a formular ideias, a pensar num futuro, o seu, o de seus pacientes, e o da atividade médica. A coluna ganhou corpo, virou encarte e repercutiu tanto, positivamente, que foi transformada em revista, que este ano chegou a 34 edições nos meios físico, eletrônico e científico, completando trajetória de 12 anos”, relembra Gerson Zafalon.
REPERCUSSÃO
“Uma grande perda para ciência, para cultura. O Prof. João Manuel era uma referência de ética e conhecimento, um colaborador entusiasta da Medicina. Ajudou a formar gerações de médicos sob orientação destra, humanista. As nossas condolências à família e amigos neste momento de dor e tristeza”, manifestou o presidente do CRM-PR, Mauricio Marcondes Ribas.
Colega desde os tempos de graduação em Medicina, o ex-presidente do CRM, Hélcio Bertolozzi Soares, lamentou a morte do Prof. João Manuel, mas destacou a importância de seu legado à Medicina. “Que este semeio do saber e da ética cumpra o seu propósito, fazendo luz aos que se lançam à missão hipocrática.
Também ex-presidente do Conselho e atual representante do Paraná no CFM, Donizetti Giamberardino Filho recorda que “as mensagens do Iátrico aos médicos, elaboradas pelo professor de Medicina e de vida Dr. João Manuel sempre transmitiram o equilíbrio da arte e ciência. No cenário do Iátrico existe a elegância da serenidade e o brilho da lucidez, um trabalho tão árduo como de um pescador de pérolas, apresentado como uma pedra preciosa de joalheiro. Um conteúdo com a rigidez da evidência científica, mas com o sabor do conhecer da prática médica. O caminho deve prosseguir com os exemplos. A tecnologia da Medicina não é suficiente para o ser médico; há a necessidade de uma dimensão cultural, reflexiva, contemporânea, sobre a sociedade ocidental secular.”
Gerson Zafalon Martins, ex-presidente do CRM-PR, também destaca: “Ele fazia do exercício ético da Medicina um objetivo diário. Fazia questão de compartilhar o seu saber. Mais que tudo, ainda, foi um grande lutador. Enfrentou a doença com coragem e serenidade. Esperança para ele era uma palavra sagrada e que devemos carregar como sentido na realização do melhor que podemos oferecer. Foi esse o ensinamento do João e que ajuda a confortar”. Sobre as obras do colega médico, reitera o conteúdo como “estrato dos muitos sabores do conhecimento, da experiência e da sabedoria a serem degustados. Esta é uma fome que está na alma e cabe a cada um suprir a seu modo. Às vezes, até, em verso e prosa, num balanço de harmonia de crônicas, poemas, músicas, contos e das artes plásticas”.