28/03/2007
Medicamentos sobem acima do custo de vida
Fundação Getúlio Vargas revela que analgésicos e antitérmicos tiveram reajuste de 47,8%, entre 2003 e 2006, contra inflação
de 24%
Embora o país venha se acostumando a índices de inflação cada vez menores, um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV)
divulgado ontem mostra que algumas categorias de medicamentos tiveram aumentos acima da variação média dos preços nos últimos
anos. Em especial, analgésicos e antitérmicos - que não figuram entre os medicamentos com preços controlados -, tiveram reajustes
de 47,8% entre 2003 e 2006. No mesmo período, o índice de inflação da FGV (IPC-DI) variou 24%. Considerado o período de 1999
a 2006, os analgésicos e antitérmicos tiveram alta de 104,99%, contra um IPC-DI de 73,96%.
Vitaminas e homeopáticos também registraram alta de preço superior à variação da inflação em ambas as comparações. Entre
2003 e 2006, a alta das vitaminas ficou em 33,26%, enquanto os homeopáticos subiram 35,53%. De 1999 a 2006, as elevações de
preços médios desses grupos de produtos foram de 75,21% e de 82,54%, respectivamente.
No grupo que reúne antigripais e antitussígenos, os aumentos foram acima da inflação no período 2003 a 2006, quando a
FGV mediu variação de 29,55% (como dito, a inflação foi de 24%). Já a variação em oito anos, entre 1999 e 2006, ficou em 68,29%,
abaixo, portanto, do IPC-DI (73,96%). O mesmo estudo indica que a categoria de remédios com menores aumentos foi a dos calmantes
e antidepressivos, com alta de 52,88% desde 1999.
A indústria de medicamentos, no entanto, diz que a variação de preços de remédios tem sido "absolutamente normal" e contesta
as conclusões da pesquisa da FGV. "A variação de preços em nada difere do comportamento de preços das mercadorias de uma maneira
geral, inclusive dos chamados itens essenciais", disse ontem, em nota, a Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Febrafarma).
Para a entidade, no acumulado dos últimos seis anos, o preço médio dos medicamentos subiu menos do que a inflação geral
do período. Pelos dados, os produtos farmacêuticos subiram 49,48% entre janeiro de 2001 e fevereiro de 2007, ante inflação
de 56,71% pelo IPCA, do IBGE.
Acumulado
Segundo outro índice citado pela Febrafarma, o INPC, os produtos farmacêuticos aumentaram 52,24%, enquanto a inflação
geral somou 60,33%, no mesmo período. Usando, ainda, outro indicador, o IPC-Fipe, entre 2001 e fevereiro de 2007, os medicamentos
tiveram um reajuste acumulado de 41,62%, para uma inflação geral de 46,93%.
Enquanto os medicamentos com preços liberados causam polêmica entre a FGV e a Febrafarma, os produtos de uso contínuo
- que têm preços controlados pelo governo - sofrerão reajuste de até 3,02% no próximo sábado. O índice foi a autorizado pela
Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (Cmed), com base na variação anual do Índice de Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA), e autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Os preços vão aumentar de acordo com três faixas pré-definidas para os reajustes anuais do setor farmacêutico: até 1%;
até 2,01%; e até 3,02%. O Ministério da Saúde aponta que aproximadamente dois em cada três remédios serão enquadrados na faixa
menor de reajuste. Segundo cálculos da Febrafarma, o reajuste médio será de 1,49% (caso todos os remédios sejam reajustados
no limite máximo). A entidade defende que esse índice é inferior à inflação geral de 2007, projetada em 3,87% pelo Banco Central.
Confiança está menor
A avaliação dos consumidores sobre a situação econômica atual do país sinaliza, em março, para uma desaceleração do crescimento
econômico. A avaliação é do coordenador das sondagens conjunturais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Aloisio Campelo, que
divulgou ontem a Sondagem de Expectativas do Consumidor. Entre fevereiro e março o Índice de Confiança do Consumidor (ICC)
caiu 2,8%. No mês anterior a queda foi menor, de 1,3%.
Campelo mostrou que a avaliação sobre a "situação econômica local atual" dos consumidores entrevistados foi a pior captada
pela série da sondagem, iniciada em setembro de 2005. Apenas 7,1% dos consumidores disseram que a situação é boa, enquanto
45,9% a consideraram ruim. Segundo ele, esse diagnóstico dos entrevistados não é motivado por fatores não econômicos e sim
pela oscilação nos indicadores de desempenho da economia.
A FGV acredita, porém, que há um componente sazonal nessa piora da avaliação dos consumidores, uma vez que tradicionalmente
março é um mês em que já esfriaram as projeções otimistas do início do ano. Ainda assim, as expectativas para os próximos
seis meses permanecem positivas, embora com queda em relação a sondagens recentes. Apenas 6,4% dos entrevistados acreditam
que a situação econômica vai piorar nos próximos seis meses, o que é o melhor indicador da série, enquanto 31,5% avaliam que
vai melhorar.
Fonte: Correio Braziliense