18/11/2007
Medicamentos para obesos combatem riscos, diz estudo
Três medicamentos para emagrecimento, recomendados para uso a longo prazo, resultam numa perda mínima de peso e trazem efeitos
colaterais importantes (tanto bons quanto ruins), segundo pesquisadores que analisaram vários estudos sobre eles. Apesar de
a maioria dos usuários continuar acima do peso, os especialistas afirmaram que os remédios podem ajudar a conter os perigos
da obesidade, reduzindo os riscos de doenças cardíacas, diabetes e outros problemas de saúde.
Num estudo publicado hoje no "British Medical Journal", pesquisadores do Canadá e do Brasil analisaram pesquisas sobre
três drogas para redução de peso: orlistat (Xenical), sibutramina (princípio ativo de alguns medicamentos) e rimonabanto (Acomplia).
Os cientistas descobriram que os pacientes homens e mulheres de 45 a 50 anos com cerca de 100 kg e índice de massa corporal
35 que as usaram por um a quatro anos perderam menos de 5 kg em média.
"Drogas não são a cura mágica e não são para todos", disse Raj Padwal, da Universidade de Alberta, no Canadá, um dos
autores do estudo. "Mas, em alguns pacientes específicos, elas trazem grandes benefícios."
O Xenical e a sibutramina são vendidos no Brasil. Já o Acomplia recebeu uma recomendação para veto de um comitê de especialistas
do FDA, agência que regula os medicamentos nos EUA. No Brasil, ele teve a comercialização aprovada pela Anvisa (Agência Nacional
de Vigilância Sanitária), mas ainda não está nas farmácias porque seu fabricante, a Sanofi Aventis, apresentará novos estudos
buscando uma alteração no preço, segundo a agência.
Os pesquisadores analisaram 16 estudos com Xenical que envolveram 10.631 pessoas. O medicamento, que impede a absorção
de gordura, ajudou os pacientes a perderem 3 kg, em média. Mas também reduziu o diabetes e melhorou os níveis de colesterol
e pressão sangüínea. Mais de 30% tiveram problemas de digestão e intestinais, como incontinência.
Nos dez estudos com sibutramina, os 2.623 participantes perderam em média 4 kg e tiveram melhoras nos níveis de colesterol.
Em mais de 20%, houve efeitos colaterais como elevação da pressão sangüínea, insônia e náuseas.
E em quatro estudos com o Acomplia, as 6.365 pessoas perderam em média 5 kg. O medicamento também melhorou a pressão
sangüínea e os níveis de colesterol, mas os riscos de distúrbios de humor aumentaram em 6% dos pacientes.
Outro estudo também publicado hoje, na revista científica "The Lancet" mostrou ainda que o Acomplia aumenta os riscos
de problemas psiquiátricos, como depressão e ansiedade.
Relatório do FDA em junho apontou que 26% dos usuários do remédio desenvolveram sintomas como depressão, ansiedade e,
em alguns casos, tendências suicidas.
Ganhos
Alguns especialistas afirmam que os poucos quilos que os medicamentos ajudaram os pacientes a perder compensam. "Não
estamos apenas combatendo a obesidade, mas os problemas que vêm com ela", disse Susan Jebb, do Conselho de Pesquisa Médica
Britânico.
Para Bruno Geloneze, endocrinologista e pesquisador da Unicamp, há benefícios adicionais. Todos ajudam a melhorar o diabetes,
por exemplo.
Quanto aos efeitos colaterais, ele afirma que os resultados de pesquisas clínicas devem ser pensados "na vida real".
"Em pesquisas, os participantes têm que tomar o remédio por um tempo específico. Já em um consultório, o médico pode retirar
a substância do tratamento se perceber que o efeito negativo é maior que o positivo."
Ele diz também que o medicamento deve vir acompanhado de uma dieta e de exercícios físicos. "Os participantes das pesquisas
perdem 4 kg ou 5 kg pelo uso de remédios, mas também há os quilos perdidos em razão da dieta e dos exercícios." Segundo ele,
os resultados da pesquisa não devem fazer com que os medicamentos sejam vistos como algo negativo.
Facilidade enganosa
Outros experts se preocupam que o acesso fácil a drogas para emagrecer dê às pessoas um falso sentimento de segurança.
"Vender remédios anti obesidade além da conta vai perpetuar o mito de que a obesidade pode ser resolvida simplesmente com
uma pílula", diz Gareth Williams, da Universidade de Bristol, na Inglaterra.
Fonte: Folha de S.Paulo