18/06/2019

Médica neurologista nascida em P. Grossa atua no Canadá em pesquisa genética aplicada à epilepsia

Dra. Danielle Molinari de Andrade, formada pela UFPR, é diretora médica do Programa de Epilepsia do Toronto Western Hospital e diretora e fundadora do Programa de Epilepsia Genética do Krembil Research Institute, da Universidade de Toronto

clique para ampliarclique para ampliarFormada pela UFPR com especialidade em Neurologia, Dra. Danielle atua em Toronto há 20 anos (Foto: Arquivo pessoal)
Desde que saiu do Brasil há exatos 20 anos, a médica neurologista Danielle Molinari de Andrade (CRM-PR 15.273) tinha em mente trabalhar em duas áreas específicas: a genética e a neurologia. Com este objetivo, ela se mudou para o Canadá, onde construiu carreira em ambas as áreas, unindo pesquisa, clínica e ensino dentro da Universidade de Toronto. Assim, atualmente, é diretora médica do Programa de Epilepsia do Toronto Western Hospital, diretora e fundadora do Programa de Epilepsia Genética do Krembil Research Institute, diretora do Programa de Transição de pacientes pediátricos para adultos do Hospital for Sick Children e professora catedrática de Neurologia do curso de Medicina.

"Sempre gostei muito dessas áreas", ela lembra. Por esse motivo, logo após se formar pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), em 1995, Dra. Danielle iniciou a residência em Neurologia no Hospital Nossa Senhora das Graças, também em Curitiba. Ao finalizar o programa, decidiu que era o momento de buscar seu sonho em uma das maiores cidades da América do Norte, a multicultural Toronto. Planos definidos, em maio de 1999, ela iniciou a nova fase no Hospital for Sick Children, onde desenvolveu seu mestrado sobre tratamento genético de epilepsia mioclônica progressiva.

clique para ampliarclique para ampliarA genética da epilepsia é a área de interesse da médica-cientista (Foto: Arquivo pessoal)
"Interessei-me desde o início pela genética da epilepsia, que era uma área nova, ainda pouco estudada", ela conta. O trabalho desenvolvido chamou a atenção da instituição, que lhe ofereceu uma oportunidade de permanecer. "Nessa época, meu trabalho era no laboratório mesmo, com ratinho e tudo mais", brinca. Em 2004, a complementação de sua formação veio com um programa de estudos (fellowship) em epilepsia de adultos no Toronto Western Hospital. Logo depois, iniciou também na área de ensino, como professora assistente da Universidade de Toronto.


Médica-cientista

A partir de então, seu trabalho passou a se dar tanto com a pesquisa quanto com os pacientes. Isso porque Dra. Danielle percebeu que são atividades complementares: "Os pacientes que chegavam à nossa clínica forneciam o DNA para que pudéssemos pesquisar e eventualmente descobrir os genes associados às condições analisadas." Dessa forma, ela explica, foi possível, por exemplo, descobrir a genética associada a uma condição rara que acarreta a morte súbita de pacientes com epilepsia, além de outros genes que causam diferentes formas da doença.


clique para ampliarclique para ampliarEquipe de Epilepsia do Toronto Western Hospital (Foto: Arquivo pessoal)
"A epilepsia genética em adultos é uma condição ainda pouco familiar aos neurologistas que atendem pacientes adultos; até hoje, essa é uma área em que os neurologistas pediátricos têm mais familiaridade", pontua. Assim, sua investigação naturalmente evoluiu para a genética desses pacientes. "Uma coisa muito interessante que descobrimos é que muitos pacientes que na infância apresentavam apenas epilepsia, à medida que ficavam adultos, desenvolviam outros tipos de doença dependentes de mutação genética", conta.

clique para ampliarclique para ampliarDra. Danielle e neurocientistas de oito países reunidos na Universidade de Oxford (Foto: Arquivo pessoal)
Dessa forma, surgiu o programa de transição de pacientes pediátricos com epilepsia para a vida adulta, que se tornou referência mundial. "Já ajudei médicos de vários lugares do Canadá e até de Harvard que gostariam de usar nosso programa como modelo", informa. Com base nessa expertise, Dra. Danielle foi convidada a liderar o desenvolvimento de diretrizes para o Programa de Transição da Epilepsia na província de Ontário.

Além disso, é, atualmente, líder da força-tarefa "Transição no cuidado da infância à idade adulta", da International League Against Epilepsy (ILAE), que avaliará a questão em nível mundial, indicando medidas de melhoria. "São diretrizes para que se tenha certeza de que o paciente receberá o melhor cuidado possível quando deixar a pediatria", afirma, explicando que isso inclui desde uma equipe multiprofissional – como assistentes sociais e psiquiatras -, até o tratamento de novos sintomas que podem surgir com o envelhecimento do paciente.

Distância do Brasil e adaptação

clique para ampliarclique para ampliarChá de bebê de uma das assistentes de pesquisa, Brigid Reagan (Foto: Arquivo pessoal)
Apesar de ter nascido na cidade de Ponta Grossa, Dra. Danielle conta que sempre morou em Curitiba. Seus pais, Rubens Molinari e Valquiria Trochmann Molinari, são professores aposentados e ainda residem na capital paranaense. E é para visitá-los que a neurologista tenta retornar periodicamente, pelo menos uma vez ao ano.

"Fui em março passar minhas férias e pretendo retornar em julho", ela conta. A visita programada para o meio do ano será para participar como palestrante do II Congresso Internacional do Centro de Neuropediatria (CENEP) do Hospital de Clínicas da UFPR, que será realizado na capital paranaense.


 
clique para ampliarclique para ampliarFamília Andrade pronta para o Halloween (Foto: Arquivo pessoal)
Com relação ao processo de adaptação a uma cultura diferente, Dra. Danielle afirma não ter encontrado muitas dificuldades. "O Canadá é um país que acolhe muito bem os imigrantes, nunca senti discriminação pelo fato de ser brasileira", afirma. "Aqui em Toronto, metade da população é imigrante, por isso, o fato de se falar com sotaque não faz muita diferença", acredita, recordando-se da equipe do primeiro laboratório em que trabalhou, o qual era composto por apenas dois canadenses – os demais eram oriundos do Japão, Itália, Alemanha, Inglaterra, entre outros países.

Isso não quer dizer, no entanto, que a médica não tenha enfrentado qualquer dificuldade. Ao contrário do que se poderia imaginar, ela afirma, o país é bastante fechado no que diz respeito a médicos estrangeiros, sendo que poucos conseguem de fato permanecer e atuar na área. "Os canadenses possuem suas regras e são inflexíveis com elas; mas, uma vez que você as entende e decide participar, as coisas começam a fluir."

Trabalho e família

clique para ampliarclique para ampliarDra. Danielle e seu esposo, João Marcelo (Foto: Arquivo pessoal)
Dra. Danielle é casada com o brasileiro João Marcelo Andrade – engenheiro mecânico aeronáutico de formação e empresário no Canadá -, com quem tem dois filhos nascidos naquele país. "É um trabalho em equipe; não temos parentes próximos para nos dar apoio. Portanto, precisamos ter essa parceria", explica, sobre conciliar papeis nas vidas pessoal e profissional, sem deixar de mencionar a importância da cachorrinha da família nesse ambiente colaborativo e de harmonia.

Outro fato que ela ressalta é o de que a sociedade canadense é muito acolhedora e incentiva a vida pessoal e familiar. "As pessoas – e as empresas – entendem que os profissionais também têm família e compromissos pessoais", conta. "Mas isso não quer dizer que eu não tenha várias vezes retornado ao trabalho à noite, depois de colocar as crianças para dormir", pondera.

Medicina e o futuro

clique para ampliarclique para ampliarCom a Dra. Charlotte Dravet, que descreveu a Síndrome de Dravet (Foto: Arquivo pessoal)
O desenvolvimento da pesquisa genética, possibilitando o tratamento de pacientes de acordo com seu DNA, é fato que faz essa neurologista paranaense acreditar que a Medicina caminha em direção a grandes descobertas, a uma verdadeira revolução. "Hoje já temos tratamento para muitas doenças raras; estamos conseguindo atuar por meio da chamada medicina personalizada, de acordo com a genética de cada paciente", celebra.

Tecnologias já consagradas, como o sequenciamento do exoma e do genoma, aliam-se a novas descobertas, como os chamados "mini brains" - neurônios desenvolvidos em laboratório a partir de células do paciente -, em um ambiente efervescente. "Isso ainda está no começo; acredito que vai ficar cada vez mais comum e acessível para pacientes com doenças raras."

E ela lembra que todo esse trabalho depende - em grande medida - do consentimento do paciente em fazer parte das pesquisas desenvolvidas. Dra. Danielle conta que, ao longo de sua experiência profissional no Canadá, a maior parte de seus pacientes concordou em conceder seu material genético à pesquisa, o que foi fundamental para se chegar aos resultados obtidos. "A pesquisa sempre está um passo à frente da parte clínica", ressalta, mostrando que as duas áreas que escolheu desde o início da carreira não poderiam se mostrar mais acertadas.

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