06/07/2009
Manobra pode reduzir investimento em Saúde
Relator da Lei das Diretrizes Orçamentárias abre brecha para que governo deixa de alocar R$ 480 milhões no setor
O relatório final sobre a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), apresentado à Comissão Mista de Orçamento do Congresso,
abriu uma brecha para que governo deixe de investir em 2010 até R$ 480 milhões a mais na área de Saúde. Recorrendo a manobra
contábil, um dos artigos do documento autoriza a transferência dos gastos públicos com hospitais universitários, tradicionalmente
computados como despesas do Ministério da Educação, para área da Saúde.
Dessa forma, ficará mais fácil para a União cumprir o dispositivo legal que prevê reajuste para o orçamento
do setor, sem precisar desembolsar quase meio bilhão a mais.
Até deputado da base governista critica desvio
No texto, divulgado sextafeira, o relator Wellington Roberto (PR-PB) deu parecer favorável à mudança, que
terá impacto no cumprimento da chamada Emenda 29. Esta obriga o governo federal a repassar à Saúde o total investido no ano
anterior, acrescido da variação do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas os bens e serviços produzidos no país).
Se o Brasil crescer 1% este ano, segundo as previsões mais otimistas de especialistas, o governo teria que
adicionar ao orçamento da Saúde em 2010 pouco mais de R$ 500 milhões, considerando que em 2008 os gastos federais para o setor
somam R$ 59 bilhões.
Só que, em vez de acrescentar, a LDO está transferindo o que já é gasto com hospitais universitários para
a conta da Saúde pública. Para o líder da minoria na Câmara, Otávio Leite (PSDB-RJ), o valor que se pretende sonegar seria
suficiente para manter o funcionamento de pelo menos quatro grandes hospitais pelo período de um ano.
- O que mais nos preocupa é que o governo está propondo uma alquimia contábil para tirar uma fábula de dinheiro
da Saúde com o objetivo de fazer caixa para gastar em outras coisas - afirmou Otávio Leite.
Da base governista, mas um dos mais ativos integrantes da bancada da Saúde, o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS
) considerou lamentável o parecer favorável do relator e garantiu que vai trabalhar para que o texto não seja aprovado.
- Infelizmente, o governo trata o mínimo como o teto para os investimentos em Saúde.
É triste verificar que o (Ministério do) Planejamento não privilegia a área, sabendo que somente neste ano
faltaram quase R$ 2 bilhões no orçamento do SUS - disse Perondi.
O deputado Geraldo Magela (PT-DF), favorável à alteração, argumenta que este é um debate antigo dentro do
governo, que não tem o objetivo de mascarar uma economia com a área. Além disso, como a lei que regulamenta a Emenda 29 -
e especifica o que pode ser considerado gasto em Saúde e o que não pode - ainda não foi aprovada, não há nada que impeça a
migração da contabilidade, segundo o petista.
- Apesar de funcionarem como escolas, os hospitais universitários estão abertos à população como quaisquer
outros e, portanto, devem ser incluídos na conta da Saúde.
O relatório deve começar a ser discutido na Comissão de Orçamento amanhã, com votação prevista para a próxima
semana, a última antes do recesso - o Congresso não pode entrar oficialmente em recesso se a LDO não for aprovada.
Compensação a estados ausente do texto da lei
Outra crítica dos parlamentares ao texto do relator é à ausência na LDO de um compromisso do governo com a
quitação de parte da dívida da União com os estados, estimada em cerca de R$ 1,3 bilhão, referente à compensação do ano de
2007 garantida pela Lei Kandir- que desonera de tributos estaduais os produtos destinados à exportação.
Fonte:O Globo