26/02/2010
Mais responsabilidade com a saúde e a Medicina
Voltaram a figurar na imprensa, nos últimos dias, notícias relacionadas à interiorização da Medicina. Todos sabemos que o
Brasil tem carência enorme de profissionais médicos em áreas de difícil acesso. Seria perfeito se, entre as reportagens, houvesse
alguma dando conta de que o governo elaborou política consistente e responsável para resolver o problema.
Porém, não é o que ocorre. Podemos citar como exemplo a política anunciada no fim de 2009 que sugeriu a criação de facilidades
para a convocação de médicos ao serviço militar obrigatório, mesmo após dispensados anteriormente por excesso de contingente.
Mais recentemente, também foi apontada a possibilidade de financiamento do estudo de alunos em escolas particulares de Medicina,
tendo como contrapartida a prestação de serviços em áreas remotas após a graduação.
Ora, são propostas irresponsáveis e que não tratam a Medicina e a saúde com o respeito que merecem. As entidades médicas
brasileiras, entre elas a Sociedade Brasileira de Clínica Médica, já se posicionaram firmemente contra tais sandices. No caso
do serviço militar obrigatório, é um absurdo achar que é possível transformar o recém-formado em mão de obra remanejável apenas
porque o governo não tem capacidade de equacionar os problemas da assistência aos cidadãos.
Já o financiamento de bolsas nos moldes propostos, acabaria, de fato, enriquecendo os maus empresários da educação. Colocar
dinheiro em escolas que oferecem formação de má qualidade e não possuem estrutura adequada é um atentado contra a população.
Um médico mal formado não é alento à comunidade; pode representar grave risco à saúde.
Para resolver esse gargalo do sistema de saúde, precisamos de uma política transparente, racional, que considere as necessidades
da população e trate com respeito os recursos humanos. São necessários remuneração adequada, possibilidade de educação continuada
permanente, boas condições para o exercício profissional, entre outros pontos.
Enfim, precisamos urgentemente de bom senso. Não será com encaminhamentos esdrúxulos e equivocados que pagaremos a dívida
social que temos com os desassistidos. Precisamos, sim, é de postura pública e dignidade, o que envolve o resgate do Sistema
Único de Saúde e o plano de carreira dos seus médicos.
Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica