01/04/2014
Programa ampliou o acesso ao primeiro atendimento, mas evidenciou outros problemas: filas e longas esperas para exames, procedimentos e consultas com especialistas
Ao distribuir quase 10 mil profissionais pelo interior do país e periferias de capitais, nos últimos seis meses, o programa Mais Médicos ampliou o acesso ao primeiro atendimento, mas evidenciou outros gargalos: filas e longas esperas para exames, procedimentos e consultas com especialistas.
"O próprio médico cubano está sentindo que 'morre na praia' no Brasil. Outro dia um me disse que [em Cuba] fazia o atendimento no posto, mas conseguia apoio do especialista. E que, aqui, parece que o paciente está parado", diz Kátia Barbosa, secretária de Saúde de Santa Luzia (MG), com 213,3 mil habitantes.
No país, pouco mais de 9.400 médicos atuam pelo programa. O número vai superar 13 mil até o fim de abril.
Lançado em julho de 2013 pela presidente Dilma Rousseff, o Mais Médicos prevê a vinda emergencial, por três anos, de profissionais do exterior e a mudança nos formatos da graduação em medicina e da residência, com expansão de vagas.
A proposta é que, até 2018, a residência esteja acessível a todos os formandos. Hoje, as vagas são suficientes só para 70% dos graduados.
Enquanto a chegada dos estrangeiros foi imediata, as outras mudanças ainda engatinham, já que as metas postas são para 2017 e 2018.
A proposta de alteração do currículo da graduação, com mais espaço para prática em atenção básica, deve ser votada em breve pelo Conselho Nacional de Educação, para então ser homologada pelo Ministério da Educação.
Já a discussão sobre a mudança na grade da residência, com a criação de um ciclo inicial de formação básica, está em fase inicial e ainda não tem definições.
Foram criadas 2.325 vagas de graduação (das 11,4 mil prometidas até 2017) e 2.403 de residência (das 12,4 mil propostas até 2018).
Estrangulamento
"Em muitos lugares, a expansão da oferta da atenção básica aconteceu e hoje a gente vive um estrangulamento exatamente na área da atenção especializada", afirmou o ministro Arthur Chioro (Saúde), durante o Fórum a Saúde do Brasil, promovido pela Folha.
Para Desiré Carlos Callegari, primeiro secretário do Conselho Federal de Medicina (CFM), a demanda reprimida por especialistas e exames mostra que, até aqui, "a resposta do governo foi paliativa" e que falta investimento.
O Ministério da Saúde ressalta que cerca de 80% dos problemas de saúde podem ser resolvidos na atenção básica, mas afirma que está investindo em toda a infraestrutura da rede, incluindo emergências, hospitais, oferta de exames e serviços de especialidade.
Fonte: Folha de S. Paulo