08/10/2020
Levantamento do CFM indica que Brasil gasta R$ 3,83 ao dia com a saúde de cada habitante
Nova análise revela que gasto da União, Estados e Municípios com ações e serviços de saúde em 2019 chegou a R$ 292,5 bilhões,
montante considerado abaixo do ideal
R$ 3,83 ao dia: esse é valor per capita que o
governo utiliza – em seus três níveis de gestão (federal, estadual e municipal) – para cobrir
as despesas com saúde dos mais de 207 milhões de brasileiros. Esse é o resultado de uma análise
detalhada das informações mais recentes disponíveis, relativas às contas públicas do segmento
em 2019. Segundo cálculo do Conselho Federal de Medicina (CFM), a partir de dados oficiais, naquele ano, o gasto por
habitante com saúde em todo o País foi de R$ 1.398,53.
As informações levantadas pelo
CFM, com a consultoria da ONG Contas Abertas, consideraram as despesas em Ações e Serviços Públicos
de Saúde (ASPS) declaradas no Sistema de Informações sobre os Orçamentos Públicos em Saúde
(Siops), do Ministério da Saúde. Pela lei, cada ente federativo deve investir percentuais mínimos dos
recursos arrecadados com impostos e transferências constitucionais e legais. No caso dos Estados e do Distrito Federal,
este índice deve ser de pelo menos 12% do total de seus orçamentos. No caso dos municípios, o valor de
base corresponde a 15%. Para a União, a regra prevê aplicação mínima de 15% da receita corrente
líquida, mais a correção da inflação.
Segundo o apurado, em 2019, as despesas nos três
níveis de gestão atingiram a cifra de R$ 292,5 bilhões. O montante agrega a cobertura das ações
e serviços de aperfeiçoamento do Sistema Único de Saúde (SUS), como o custeio da rede de atendimento
e pagamento de funcionários, dentre outras. Na avaliação do presidente da autarquia, Mauro Ribeiro, os
indicadores de saúde e as más condições de trabalho no setor revelam que os valores gastos ainda
estão abaixo do ideal.
Na avaliação dele, embora o número absoluto tenha aumentado
ao longo dos 12 anos avaliados pela autarquia – algo em torno de R$ 85,8 bilhões –, o valor continua abaixo
de parâmetros internacionais e tem sido insuficiente para responder às demandas crescentes da população,
impulsionadas por mudanças nos perfis socioeconômico e epidemiológico.
“É
preciso lembrar que o Brasil e o mundo enfrentam hoje maior incidência de doenças crônicas, o envelhecimento
da população e o impacto crescente das causas externas (acidentes, violência, etc.), o que têm gerado
maior procura por produtos e serviços de média e alta complexidade. Além disso, o aumento da população
de desempregados, que fez com que 3,5 milhões de brasileiros abandonassem os planos de saúde, especialmente
a partir de 2014, repercute na procura por atendimento em cuidados básicos e ambulatoriais na rede pública”,
afirmou o presidente do CFM.
Ribeiro acredita que, seja qual for a perspectiva, é nítido o
subfinanciamento do gasto público em saúde no Brasil. “A gestão financeira do setor é um
desafio crônico para os governos federal e estaduais e será também significativo aos próximos prefeitos
do País” avalia. Segundo ele, sem recursos os gestores terão dificuldades para comprar equipamentos, realizar
obras e reformas, fazer a manutenção adequada dos estoques de medicamentos e outros insumos.
“O prejuízo atinge ainda a atualização da Tabela SUS, que há duas décadas não
passa por uma revisão ampla, fazendo com prestadores de serviço à rede pública percam o interesse
de manter seus contratos. Na prática, são menos leitos, menos UTIs, menos médicos e mais tempo de espera
por cirurgias eletivas, consultas e exames. Ou seja, a população arca diretamente com as medidas adotadas na
esfera governamental”, acrescentou.
FONTE: CFM
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