Agora, neste mês, temos a campanha Janeiro
Roxo – Todos contra a Hanseníase, da Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH). Neste ano, o Dia Mundial
contra a Hanseniase é lembrado em 28 de janeiro. A ação existe em caráter permanente desde 2015,
e é oficializada pelo Ministério da Saúde desde 2016. O Brasil é o 1º no ranking mundial
em taxa de detecção, ou seja, tem o maior número de casos novos em tratamento a cada grupo de 100 mil
habitantes; em números gerais somos o 2º, ficando atrás apenas da Índia.
Esta ação visa conscientizar a população sobre a
gravidade e a prevenção da doença, que é infecciosa, contagiosa e causada pelo bacilo Mycobacterium
leprae. A hanseníase pode afetar a pele e os nervos periféricos, causando lesões neurais e incapacidades
físicas.
Existe uma falsa ideia de que a doença se restringe
às populações mais pobres, porém esta não é a realidade. O bacilo não escolhe
condição social e a hanseníase é diagnosticada em pessoas ricas, pobres, brancas, pretas e pardas,
sem discriminação. A diferença é que pessoas em situação de vulnerabilidade social
têm condições mais precárias de saúde e vivem em aglomerados onde se transmite mais intensamente
o bacilo que causa a hanseníase.
A hanseníase
está na lista das doenças tropicais negligenciadas. São mais de 20 doenças, tratáveis e
curáveis, porém ainda cegam, debilitam, desfiguram, incapacitam as pessoas, tiram crianças da escola,
afastam pessoas do trabalho, do convívio social e de suas famílias. O preconceito é um agravante importante
no enfrentamento à doença.
Há a crença de que a hanseníase
não existe mais e muitas pessoas recusam o diagnóstico. Outras são desdiagnosticadas por profissionais
que não conhecem a doença e milhares passam por vários serviços de saúde públicos
e privados ao longo da vida e, depois de cinco, dez anos ou até mais, recebem o diagnóstico de hanseníase
quando a doença já é muito evidente e o paciente apresenta sequelas muitas vezes incapacitantes e irreversíveis.
A doença
Hanseníase tem cura se chegarmos cedo com o diagnóstico e tratamento.
O problema está em iniciar o tratamento já em uma fase tardia, pois já terá sequelas e incapacidades.
O Bacilo de Hansen, causador da doença, afeta os nervos
e tem lenta evolução. Por vários anos, o paciente sente dores, formigamentos ou fisgadas pelo corpo e
não são raros os casos de internação por infarto. Com a evolução da doença,
o doente pode apresentar manchas esbranquiçadas ou avermelhadas na pele e diminuição ou perda de sensibilidade
ao toque, à dor, ao frio e calor, dentre outros sinais e sintomas.
Casos no Brasil
Até 2019, o Brasil registrava anualmente cerca de 30 mil novos casos de hanseníase – número
semelhante às notificações de HIV/AIDS -, porém, este numero pode ser bem maior, uma vez que nas
áreas que não são endêmicas, o diagnostico demora muito.
Segundo o Boletim Epidemiológico da Hanseníase 2022, 19.963 casos novos
foram diagnosticados no Brasil de 2011 a 2020 com grau 2 de incapacidade física, ou seja, com sequelas irreversíveis
e incapacitantes. O documento ressalta que a proporção de casos novos de hanseníase diagnosticados com
grau 2 é um importante indicador de diagnóstico tardio no país.
Transmissão
A transmissão da hanseníase ocorre por meio das vias aéreas (secreções
nasais, gotículas da fala, tosse e espirro) de doentes que não estão em tratamento. Quando recuperado
ou em tratamento regular, o paciente deixa de transmitir a doença. Dentre as pessoas que entram em contato com os bacilos,
somente uma pequena porcentagem adoecem. Entretanto, o período de incubação da doença (tempo entre
o contágio e o surgimento dos sintomas) é longo, podendo variar de três a cinco anos. É importante
ressaltar que o contato com a pele ou objetos não transmite a doença.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico precisa ser feito quando o paciente tem as primeiras manifestações,
como formigamentos ou dormências no corpo, que, associados a outros sinais característicos, compõem o
diagnóstico da hanseníase em exame clínico.
Exames de laboratório são capazes de detectar o bacilo em apenas 50% dos casos; os outros 50% apresentam
sinais e sintomas que dependem de treinamento profissional para serem identificados. O exame clínico é suficiente.
O Brasil recebe a medicação da OMS e o tratamento é gratuito nas unidades de saúde do SUS.
*Dr. Sergio Paulo Aguilera Machado (CRM-PR 19.780) é especialista em clínica médica
e com área de atuação em hansenologia. É membro da Sociedade Brasileira de Hansenologia e integra
a Câmara Técnica de Dermatologia do CRM-PR.