03/04/2023
Interior tem maioria dos médicos, mas presença é 3 vezes menor que capital
Reportagem da Folha de Londrina mostra que 54% dos profissionais estão em cidades paranaenses fora de Curitiba, que tem o
triplo de médicos por mil habitantes. Conselheiro do CRM-PR conversou sobre o assunto
Mais médicos e menos presença nos atendimentos.
A capital e o interior paranaense vivem um paradoxo
na saúde pública em relação
ao número de médicos e a demanda
populacional pelo serviço. Apesar das
filas nos Prontos-Socorros, seja por convênio ou
pelo SUS (Sistema Único de Saúde), e da longa espera por uma consulta para o paciente que dependente exclusivamente do atendimento público, a presença médica é três vezes maior em Curitiba do que no Interior do Estado, o que segue a tendência nacional confirmada pelo último estudo “Dados da Demografia Médica
no Brasil” da AMB (Associação
Médica Brasileira) em parceria com a USP
(Universidade de São Paulo).
De
acordo com a pesquisa, o interior do Paraná concentra 54% dos 32.525 médicos registrados no Estado, no entanto, o índice por mil habitantes é de 2,24, abaixo da média nacional, que subiu para 2,60 em relação ao último
censo médico realizado no Brasil em 2010, quando o índice nacional era de 1,63. Na
capital, ainda conforme o levantamento, 13.898 médicos
atuam em Curitiba para atendimento de uma população
de 1.963.726 habitantes, o que representa um índice
de 7,08. Já o Paraná apresenta o indicador mais baixo entre os estados do Sul com 2,80 médicos por mil habitantes.
Em
entrevista à FOLHA, o conselheiro e gestor do Departamento
de Fiscalização do CRM-PR (Conselho Regional
de Medicina do Paraná), Carlos Roberto Naufel Junior,
afirmou que o grande problema do deslocamento dos
profissionais para o interior é que “a medicina não é feito só com médicos”, mas necessita de estrutura adequada para o atendimento, não só material, mas também de recursos humanos. “O médico chega em uma pequena cidade, mas não tem condições de exercer o seu trabalho. Há 50 anos, ele ia para o interior com uma maleta e um estetoscópio e resolvia tudo. Mas, houve um avanço enorme na medicina com a tecnologia. Então, as entidades médicas batem nesta tecla há anos, pois precisamos de um programa que melhore as condições de assistência à
saúde como um todo. Não adianta
colocar apenas um médico no local”,
analisou.
Ele lembrou da necessidade de
encaminhamentos seja para exames ou para atendimento
multidisciplinar com profissionais como nutricionista,
fisioterapeuta ou psicóloga, que também são escassos em pequenos municípios que possuem um alto percentual de atendimento via SUS, já que a saúde complementar tem maior atuação por meio dos convênios nos grandes centros. “Além disso, o médico, que está na linha de frente, é o responsável pelo atendimento. Ele é quem está dando a cara a bater, conversando com familiares, assinando receitas, independentemente da estrutura de saúde, lembrando que não está na alçada do médico,
a transferência para uma cidade maior o
que depende de outros serviços como transportes
e disposição de leitos”, acrescentou
Naufel Junior.
MAIS MÉDICOS
Relançado no último
dia 20 pelo presidente Lula, o novo Mais Médicos
promete levar os profissionais para pequenas
cidades do interior e para áreas isoladas no País
para atendimento primário nas UBSs (Unidades Básicas
de Saúde). Mas, o conselheiro do CRM faz ressalvas
sobre a necessidade de investimentos estruturais
e na formação de equipes nos postos de saúde. “Novamente, é só o médico que faz o
atendimento primário? A UBS precisa de
enfermeira, nutricionista, fisioterapeuta e outras
especialidades, como obstetra que acompanha o
pré-natal na saúde básica, no dia a dia, na relação com a comunidade atendida”, ressaltou.
Ele ainda argumenta que sem investimentos nas UBSs, o Pronto-Socorro se tornou a porta de entrada do SUS, o que acarreta uma série de problemas em outros níveis de atendimento na saúde. “Ao longo dos anos desde a criação do SUS, em 1988, o investimento foi concentrado mais na estrutura hospitalar do que na atenção básica”, lembrou. Naufel Junior ainda criticou a falta de exigência do Revalida para diplomas estrangeiros de medicina, o que preocupa as entidades por conta da necessidade de verificar o conhecimento do profissional na área da Saúde e também por causa das diferenças culturais e estruturais no atendimento entre os diferentes países.
Questionado sobre o aumento no número de
médicos e cursos de graduação
no ensino superior, o conselheiro do CRM respondeu
que a relação médico/habitantes nunca foi tão boa e a tendência é aumentar ainda mais no País. A Demografia Médica deste ano aponta que até 2035, Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Santa Catarina, Espírito Santo e Paraná terão mais médicos por 1.000
habitantes do que a taxa nacional. Juntos, vão
concentrar mais de 70% do total de médicos
no País, sendo que apenas São Paulo
deve contar com 22% dos profissionais. A projeção aponta para 5,4% dos médicos formados no Brasil atuando no Paraná.
Atualmente,
são nove cursos públicos com 590 vagas no Estado
na ensino público. A rede privada tem 12 graduações em medicina com 1.656 vagas no Paraná. “O desafio na academia é manter a qualidade na formação médica aliado ao maior número de profissionais que entram na área. Por isso, a nossa preocupação
é colocar médicos para atender
sem o Revalida. No Brasil, nós temos o
Ministério da Educação atuante e não sabemos como funciona em outros países”, ponderou.
FONTE:
Folha de Londrina