15/10/2021
A nova edição do boletim da Fiocruz é a primeira em que o país não apresenta nenhuma macrorregião de saúde em nível extremamente alto. Contudo, preocupa o grupo etário entre 0 e 9 anos
A nova edição do Boletim InfoGripe, divulgada nesta quinta-feira (14/10), é a primeira em que o país não apresenta nenhuma macrorregião de saúde em nível extremamente alto. Mas, ao contrário do que acontece no Norte, estados de todas as outras regiões brasileiras registraram número elevado de casos semanais dentre as crianças, grupo etário de 0 a 9 anos. O volume de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em alguns lugares foi, inclusive, superior aos picos de 2020. Por outro lado, a análise de casos positivos para diferentes vírus respiratórios, seccionada por idade, também aponta presença considerável de vírus sincicial respiratório (VSR) dentre as crianças. Em 2021, os casos semanais estão em patamar ligeiramente superior ao de casos positivos para Sars-CoV-2 (Covid-19). Os dados são referentes à Semana Epidemiológica (SE) 40, compreendida entre 3 de setembro e 9 de outubro.
Na população adulta — ou seja, indivíduos com mais de vinte anos —, a Covid-19 ainda é predominante nos casos de SRAG. A infecção por Sars-CoV-2 é responsável quase que pela totalidade dos casos com identificação de vírus respiratório por exame laboratorial. Na faixa dos 10 aos 19 anos, assim como para as crianças, foi observada diminuição da positividade (percentual de casos com identificação de vírus respiratório), mas ainda com predomínio marcante de Sars-CoV-2 entre os infectados, com presença relativamente pequena de casos positivos para rinovírus.
O cenário brasileiro é considerado estável, mesmo com sinal de crescimento leve nas tendências de longo prazo (últimas seis semanas) e de curto prazo (últimas três semanas). O sinal de crescimento leve está presente em todas as faixas etárias entre 30 a 69 anos, no entanto, esse índice está fixado em patamar elevado apenas no caso das crianças. “Finalmente, em função do avanço da cobertura vacinal de primeira e segunda dose entre adultos e jovens adultos, é de fundamental importância acompanhar a evolução de casos entre a população de crianças e adolescentes, bem como nos mais idosos, para um acompanhamento da tendência e nível de transmissão comunitária”, diz o pesquisador Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe.
SRAG nos Estados
Aumentou o número de estados com sinal de crescimento na tendência de longo prazo, embora na maioria deles o cenário seja de crescimento lento e ainda compatível com oscilação em torno de patamar estável. A única exceção é o Espírito Santo, que mantém crescimento em idosos de 70 anos ou mais desde agosto. Esse cenário é bem parecido com o início da trajetória do Rio de Janeiro rumo ao forte aumento de casos em idosos entre junho e agosto de 2021. Também é semelhante ao que acontecia no Distrito Federal desde agosto, mas interrompido nesta atualização. “Com o lento avanço da dose de reforço em idosos nos estados, o cenário de crescimento de casos graves na população em geral relatado, embora ainda seja lento, pode desencadear o mesmo efeito. Em função disso, é importante reforçar a necessidade de cuidado especial junto à população idosa frente ao avanço nas flexibilizações das medidas de proteção coletiva”, diz Gomes.
Apenas dez das 27 unidades federativas apresentam sinal de crescimento na tendência de longo prazo (últimas seis semanas): Alagoas, Amapá, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Sergipe. Na maioria desses estados o cenário ainda é compatível com oscilação em torno de um valor estável. Dentre os demais estados, dez apresentam sinal de queda na tendência de longo prazo: Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Paraná, Rio de Janeiro, Rondônia, Roraima e São Paulo. Além disso, três UFs apresentam sinal de crescimento apenas na tendência de curto prazo (últimas três semanas): Minas Gerais, Paraná e Tocantins, porém a maioria em situação compatível com oscilação em torno de valor estável.
Os estados do Amapá, Ceará, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Sergipe apresentaram sinal forte de crescimento (prob. >95%) na tendência de longo prazo e moderado (prob. >75%) na tendência de curto prazo. Esse crescimento está concentrado na população mais idosa e em crianças de 0 a 9 anos. No Sergipe, foi observado crescimento relevante também no grupo etário dos 30 aos 39 anos. Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Pernambuco e Santa Catarina apresentam sinal de crescimento moderado (prob. >75%) na tendência de longo prazo.
Minas Gerais, Paraná e Tocantins apresentam sinal de crescimento moderado apenas na tendência de curto prazo, compatível com cenário de leve oscilação apenas. Contudo, no estado do Paraná, se destaca o crescimento entre crianças de 0 a 9 anos, também relacionado ao VSR, mantendo o número de casos semanais de SRAG em níveis elevados.
SRAG nas capitais
Onze capitais apresentaram sinal de crescimento na tendência de longo prazo. São elas: Aracaju (SE), Cuiabá (MT), Fortaleza (CE), Macapá (AP), Maceió (AL), Natal (RN), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio Branco (AC), Salvador (BA) e Vitória (ES). A análise da evolução temporal por faixa etária sugere que, assim como nos estados, o crescimento leve é compatível com oscilação ao redor de patamar estável. As únicas exceções são Aracaju e Vitória, com sinal mais sugestivo de crescimento especialmente em idosos.
Em 12 capitais, observou-se sinal de queda na tendência de longo prazo: Campo Grande (MS), Curitiba (PR), João Pessoa (PB), Manaus (AM), Rio de Janeiro (RJ), São Luís (MA) e São Paulo (SP). Além disso, Palmas (TO) apresenta tendência de crescimento no curto prazo, também compatível com oscilação.
Fonte: Fiocruz