03/08/2009
Influenza H1N1 - Acesso livre a antiviral
Defensor público da União prepara ação para permitir que médicos prescrevam medicamentos contra a doença sem restrição
do Ministério da Saúde
O defensor público da União no Rio de Janeiro André da Silva Ordacgy vai ajuizar amanhã uma ação civil pública em que
busca liberar o acesso livre ao antiviral usado no tratamento da influenza A (H1N1). O Ministério da Saúde tem controlado
há quatro meses a distribuição do Tamiflu (fosfato de oseltamivir) para pessoas que se encaixam no grupo de risco (1) ou nos
casos graves de contaminação pelo vírus da chamada gripe suína. Depois de ter consultado especialistas, Ordacgy decidiu propor
a ação por entender que não é "compatível com o estado de democrático" o monopólio do estado na liberação do medicamento.
"É necessário que esse medicamento esteja acessível em toda a rede pública de saúde e na rede privada também, por uma
questão de vida ou morte", afirmou ontem Ordacgy ao Correio. "O número de óbitos tem crescido muito." Se julgada procedente,
a ação terá validade em todo o país.
O defensor público elenca três principais razões para permitir que quaisquer médicos possam prescrever o Tamiflu em qualquer
estágio da doença. O primeiro deles é que o remédio tem eficácia reduzida quando ministrado após as primeiras 48 horas de
contaminação pelo vírus. Isso depõe contra o entendimento do Ministério da Saúde de que a medicação só pode ser passada para
pacientes graves, cujas complicações se manifestam geralmente após esse período. Em segundo lugar, tanto os casos graves como
os grupos de risco, segundo o defensor público, são as pessoas mais suscetíveis a desenvolver resistência ao medicamento.
Não seria o caso das pessoas saudáveis, segundo Ordacgy. Por último, as pessoas que desenvolverem resistência podem usar outro
medicamento, o Relenza, ou ser colocadas em quarentena para não contaminar outras.
O Ministério da Saúde segue as recomendações feitas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para tratamento e prevenção
da influenza A ao recolher das farmácias e controlar a distribuição do Tamiflu. O governo conta com 9,5 milhões de kits para
tratamento da doença. Até o sábado, 76 pessoas morreram em decorrência de complicações do H1N1. Países como a Argentina, a
Inglaterra e os Estados Unidos têm tido uma política mais flexível de acesso ao medicamento. Na Inglaterra, o remédio é prescrito
preventivamente pela autoridade de saúde local a familiares do infectado. Nos EUA e na Argentina, podem ser comprados em farmácias.
Duas cidades do Rio Grande do Sul atingidas pela doença, Foz do Iguaçu e Passo Fundo, quebraram a recomendação do Ministério
da Saúde e estão prescrevendo o Tamiflu para casos suspeitos.
Para o infectologista Edimilson Migowski, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), muitas das 76 mortes por gripe
suína poderiam ter sido evitadas. "Se déssemos o remédio em até 48 horas, poderíamos modificar a evolução da doença para não
levar a todos esses óbitos", avalia Migowski, um dos estudiosos consultados pelo defensor público. O médico sanitarista Pedro
Tauil, da Universidade de Brasília (UnB), discorda da tentativa de se liberar a medicação do Tamiflu. "É um absurdo a interferência
da Justiça", critica.
Segundo Tauil, o Ministério da Saúde tem agido com prudência, porque, principalmente, não há em escala mundial medicamento
para consumo em massa. Os laboratórios, diz, não dispõem de estoques do remédio. "Vejo que a liberalização desse medicamento
pode resultar em mais malefícios do que benefícios", afirmou Tauil. (leia mais no ponto crítico)
O médico sanitarista da UnB afirma que já foram registrados casos de resistência do vírus em países que adotaram uma política
liberal de acesso ao medicamento, como Japão, Dinamarca e a Inglaterra. "Temos que discutir bem, pois o momento é de escassez
(do medicamento). Precisamos trabalhar com prioridades", destacou.
O temor da gripe suína fez cinco estados adiarem a volta às aulas dos estudantes da rede pública, marcada para hoje. Minas
Gerais e Paraná começam o semestre letivo na próxima segunda. Os alunos de São Paulo e do Rio Grande do Sul retornam apenas
daqui a duas semanas.
1 - GRUPO DE RISCO
Considera-se grupo de risco idosos com mais de 60 anos, crianças até dois anos, gestantes e lactantes, hipertensos e diabéticos.
As pessoas com deficiência respiratória, cardiopatia e que apresentam doenças que abaixam a resistência do organismo, como
o HIV, também se enquadram.
Fonte: Correio Braziliense