21/09/2015

Igualdade social e educação podem ser armas contra doenças

Para o professor norueguês Jan Helge Solbakk, a desigualdade determina a forma de a sociedade se prevenir

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            para ampliarJan Helge Solbakk é médico norueguês, teólogo e professor de Medicina Ética da Universidade de Oslo (Noruega) (Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo)

Não há como dissociar bem-estar social e econômico de uma população saudável. Para um dos mais conceituados bioeticistas da atualidade, o professor norueguês Jan Helge Solbakk, a desigualdade determina a forma de a sociedade se prevenir. Uma boa educação dá melhores condições para que parte das pessoas saiba como evitar determinadas doenças. Soma-se a isso o acesso desigual da população aos insumos da saúde pública.

Solbakk, que é médico norueguês, teólogo e professor de Medicina Ética da Universidade de Oslo (Noruega), cita a dicotomia entre a produção tecnológica de novos medicamentos e a falta de acesso de parcela da população a remédios básicos.

Outro ponto abordado pelo professor, que participou nesta semana do XI Congresso Brasileiro de Bioética, em Curitiba, é o uso de animais em pesquisas científicas. “Temos que respeitar o meio ambiente, mas infelizmente é inviável produzir medicamentos sem utilizar animais em pesquisas.” Confira a entrevista dada à Gazeta do Povo.

O rápido avanço tecnológico e das pesquisas impõe novas barreiras éticas no campo da medicina?

A tecnologia é uma questão ambígua no sentido de que os avanços podem criar novos valores e mudar outros, provocando danos em valores cruciais. Outra questão é que não se pode voltar no tempo e não produzir tecnologia. É preciso pensar em que medida a tecnologia pode influir nos nossos valores sociais. Outro ponto da tecnologia é que ela é distribuída de forma desigual. A investigação de medicamentos é uma aspiração que temos sempre e este é um caminho. Mas muitas pessoas não têm acesso a medicamentos essenciais. É preciso não só focar no desenvolvimento de medicamentos, mas também em como estabelecer uma distribuição equitativa.

Como o senhor analisa o Brasil nesse cenário de acesso a saúde pública?

Nos últimos 15 anos, o Brasil avançou economicamente, mas a desigualdade permaneceu grave. As pessoas mais ricas desse país são mais ricas que há 15 anos. E há milhões que vivem um sistema de pobreza inaceitável. O desafio é encontrar como distribuir as melhorias da saúde de modo equitativo. A indústria farmacêutica tem demasiado poder no Brasil. Essas empresas não ajudam a reduzir a desigualdade. O objetivo delas é o lucro.

Como tentar solucionar esse dilema?

Governo e políticos têm que implantar medidas que reduzam a desigualdade.

Qual é a sua opinião sobre o dilema ético de usar animais em pesquisas científicas?

É muito difícil desenvolver medicamentos sem utilizar animais. Ao mesmo tempo, há uma responsabilidade em tentar reduzir o uso de animais nas pesquisas. Há uma aspiração de substituir alguns animais por células-tronco em algumas pesquisas, assim trocaríamos animais por modelos artificiais. Mas infelizmente é sonho não usar animal algum nas pesquisas.

A medicina tem que estar aliada a outras áreas para resultar em efeitos práticos na saúde da sociedade?

A educação é uma delas. A população pobre, sem oferta de educação de qualidade, não consegue determinar a própria vida, o que fará diferença em questões fundamentais de saúde do país.

Fonte: Gazeta do Povo

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