28/08/2009
Homens ganham política de saúde no SUS
Primeiro modelo na América Latina, programa eleva número de exames e de procedimentos para o público masculino.
Quatro anos após a divulgação de que o país teria um programa de saúde masculina, o governo Lula lançou ontem a "Política
Nacional de Saúde do Homem", a primeira do gênero na América Latina. Além de aumentar o número de exames e cirurgias no SUS,
a iniciativa quer fazer com que 2,5 milhões de homens entre 20 e 59 anos procurem o serviço de saúde ao menos uma vez por
ano -hoje não se sabe qual é o número.
Há cerca de 50 milhões de homens nesta faixa etária, sendo que 75% deles dependem do SUS. Para o Ministério da Saúde,
o fato de não ir ao médico faz com que o homem descubra a doença no estágio mais avançado, o que colabora para o aumento da
mortalidade.
A cada três adultos que morrem no Brasil, dois são homens. A expectativa de vida masculina, de 69 anos, está 7,6 anos
abaixo da média das mulheres, segundo o IBGE. A principal causa de mortes dos homens são as doenças isquêmicas do coração,
entre elas o infarto.
A nova política envolve um investimento de R$ 613,2 milhões até 2011. O ministério informa que aumentará em até 570% o
valor pago a hospitais e postos de saúde para a execução de procedimentos urológicos e de planejamento familiar. Haverá, por
exemplo, uma ampliação em 20% do número de ultrassonografias de próstata.
Hoje, o homem encontra muitas barreiras no atendimento no sistema público. "Há filas grandes para operar a próstata. Tem
pacientes usando sonda, às vezes anos a fio, esperando uma cirurgia, uma resseção de próstata. Existem cidades com 300, 400
pacientes esperando", afirma José Carlos de Almeida, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia.
O acesso às tecnologias mais modernas também é difícil. Uma cirurgia de cálculo renal, por exemplo, pode ser feita de
forma menos invasiva, por via endoscópica. Mas, por falta de infraestrutura, muitos serviços de saúde ainda optam pelas cirurgias
abertas, que são mais traumáticas e têm mais riscos de infecções, segundo Almeida.
Na opinião do urologista Miguel Srougi, professor titular da USP, por mais boas intenções que tenha o ministério, não
há verba suficiente nem ao menos para o diagnóstico e tratamento dos problemas da próstata, que envolveria uma investigação
de mais de 12 milhões de homens acima de 50 anos.
"Se a gente fosse submetê-los a um estudo específico da próstata, fazer PSA, biopsia, cirurgia e outros tratamentos e
também tratar as possíveis complicações desses tratamentos, esse programa envolveria R$ 2 bilhões. Em um país em que o Ministério
da Saúde gastou, em 2008, R$ 43 bilhões com toda a saúde, simplesmente não dá. O país não tem recursos para bancar uma campanha
oficial de saúde do homem", diz ele.
Campanha
Para atacar o fato de que o homem não vai ao médico, o ministério decidiu incluir no seu calendário de campanhas para
incentivar o homem a cuidar da saúde. Ela será realizada todo mês de agosto. Serão feitas ainda parcerias com 50 grandes empresas
com foco nos trabalhadores homens.
Segundo o ministério, o objetivo é dar condições aos serviços de saúde de reduzirem as filas já existentes. Ainda assim,
o governo reconhece que a espera não vai acabar imediatamente. "A ideia é que, com maior remuneração, o serviço vai se estruturar
melhor. Isso vai acontecer amanhã? Não. Tem um prazo de maturação, e a gente espera que, ao longo do tempo, isso traga resultados",
afirma o secretário de Atenção à Saúde, Alberto Beltrame.
Para o ministro José Gomes Temporão, a "mudança cultural" que a campanha do ministério se propõe a incentivar precisa
ser desenvolvida também pelos sistemas de saúde. "Muitas vezes, pelo horário de funcionamento, pela maneira como o posto de
saúde está organizado, ele está mais voltado para atender mães e crianças."
Fonte: Folha de São Paulo