01/04/2015
Falecido no último dia 23 de março, em Ponta Grossa, Dr. Orlando Moro completaria 100 anos neste 1º de abril
O Conselho Regional de Medicina do Paraná presta sua homenagem in memoriam ao médico Orlando Malucelli Moro (CRM 294), que neste dia 1º de abril completaria o centenário de nascimento. Ele faleceu no último dia 23 de março, em Ponta Grossa, cidade onde exerceu de forma exemplar a profissão, tendo dirigido a Santa Casa e ajudado a fundar a Associação Médica local. No começo de março (7), a região dos Campos Gerais já tinha perdido outro pioneiro, o cirurgião geral e coloproctologista Enny Luiz Fachin, 88 anos, colega do Dr. Orlando na Santa Casa e um dos precursores da Unimed Ponta Grossa. As condolências do Conselho aos familiares de ambos os médicos.
O Dr. Orlando Malucelli Moro também foi um dos pioneiros do CRM-PR, tendo integrado o primeiro corpo de conselheiros efetivos eleitos, empossado em 30 de maio de 1959 e que teve na presidência o Dr. João Vieira de Alencar e como vice Adolfo Barbosa Goes. Atuou ao lado de ilustres pares como Abdon Pacheco do Nascimento, Alceu Fontana Pacheco, Atlântido Borba Côrtes, Ernani Simas Alves, Gastão Pereira da Cunha, Heinz Rüecker, Lysandro Santos Lima, Mário Braga de Abreu, Ney Regattieri Nascimento, Plínio Mattos Pessoa, João Dias Ayres e Ruy Noronha de Miranda.
Formado em 1937 pela Universidade Federal do Paraná, o Dr. Orlando Moro fez parte do terceiro seleto grupo de médicos a receber do CRM-PR o Diploma de Mérito Ético-Profissional. A homenagem ocorreu em 1988. Há aproximadamente 20 anos ele deixou de exercer a profissão.
Orlando Malucelli Moro nasceu em Ponta Grossa, na madrugada do dia 1° de abril de 1915. Deixou a cidade aos 12 anos, em 1927, para morar em Curitiba, onde estudou no internato do Ginásio Paranaense. Em 1932, após concluir o ensino secundário, entrou na Faculdade de Medicina do Paraná. Logo depois retornou à cidade natal. Atendeu famílias de ferroviários no antigo Hospital 26 de Outubro e foi cirurgião pediátrico no Hospital Infantil Getúlio Vargas. Nenhum dos dois continua ativo: o primeiro deu lugar a um centro de ação social e o segundo ao prédio administrativo da 3ª Regional de Saúde.
Mesmo que atendesse em outros estabelecimentos, a grande dedicação da vida de Orlando foi a Santa Casa de Misericórdia. Na centenária instituição,inaugurada no início do século passado, ele atuou por 44 anos. Começou a atender lá em 1939 e se aposentou apenas em 1983. O Dr. Orlando foi aprendiz do médico mais ilustre da história da cidade, Francisco Burzio, cirurgião italiano que fundou a primeira casa de saúde dos Campos Gerais. Foi Burzio quem indicou o nome de Moro para o corpo clínico da Santa Casa. Além disso, a primeira gastrectomia de Orlando foi realizada com auxílio do colega estrangeiro. No salão nobre da Santa Casa, os retratos dos dois estão lado a lado.
O Dr. Orlando residia no penúltimo andar de um dos maiores edifícios de Ponta Grossa. Um dos mais importantes nomes da Medicina ponta-grossense, era afamado pela técnica cirúrgica refinada, pela conduta ética e pela dedicação demonstrada a seus pacientes. Partiu de Orlando e de mais alguns colegas, na década de 1940, a campanha para que os cirurgiões da cidade usassem luvas. Também viu as primeiras aplicações de penicilina, a disseminação dos aparelhos de raios X e a contratação do primeiro anestesista de Ponta Grossa. Esteve envolvido durante toda a sua vida em ações sociais e humanitárias, tendo participação efetiva no Rotary Club.
Gazeta do Povo
Na edição desta quarta-feira, dia do centenário de nascimento do ilustre médico, o jornal Gazeta do Povo, de Curitiba, publicou uma matéria especial sobre o Dr. Orlando no espaço do obituário. Confira a íntegra do material jornalístico:
Orlando Malucelli Moro: o “Professor” da Santa Casa de Ponta Grossa
“Contar que um médico chegou a fazer uma cirurgia de remoção do apêndice na mesa de jantar do paciente pode parecer mais uma das mentirinhas que estão sendo contadas neste 1.º de abril, mas não é. Também não é mentira que o protagonista desta cena real, Orlando Malucelli Moro, completaria 100 anos justamente hoje. A filha Rosita conta que o histórico cirurgião-geral de Ponta Grossa, nos Campos Gerais, estava conformado que teria de partir pouco antes de completar seu centenário. Foi exatamente isso o que aconteceu. Essa foi uma das raras vezes em que Orlando se conformou com alguma coisa na vida.
No seu dia-a-dia como médico, ele não hesitava em criticar as situações de falta de higiene e de cuidado com as quais se deparou. “Ele teve brigas homéricas com pessoas que insistiam em não lavar as mãos”, lembra Rosita.
Até os 95 anos, ele ainda lia publicações da área de Medicina. Esse era um hábito, por sinal, que sempre fez parte da sua vida. “Não importa quantas vezes o meu pai já tivesse feito determinada cirurgia, ele sempre a estudava novamente a cada vez que realizava”.
Muito antes de receber o epíteto de “Professor” - como era chamado pelos colegas da Santa Casa de Ponta Grossa - Orlando fora um menino que sonhava ser médico da Marinha do Brasil. Mas o filho único de José Ângelo Moro, gerente antiga da Casa Osternack, e da dona de casa Stella Malucelli Moro teve que abrir mão da parte mais “marítima” do seu sonho. O motivo foi que os pais não queriam que ele fosse para muito longe.
Depois de estudar no Liceu dos Campos, em Ponta Grossa, Orlando passou a ser interno do antigo Ginásio Paranaense, em Curitiba, no fim da adolescência. Passou a viver em pensionatos quando começou o curso de Medicina na Universidade Federal do Paraná (UFPR), pois a família não tinha muitos recursos. Formado em 1937, ele partiu para a capital do estado de São Paulo e lá fez residência médica no Hospital São Lucas. “Apaixonado pela família, ele preferiu voltar ao seu ninho, em Ponta Grossa”, afirma a filha.
Sua primeira esposa, Rosa Faria, faleceu precocemente. Alguns anos mais tarde, uma “fofoca” o aproximou de Dora Maria Xavier, a mulher com quem ficaria casado por quase 60 anos. “Meu pai atendia minha vó materna, Lila, em casa, mas nesse época ele e minha mãe não se relacionavam. Certo dia, uma vizinha da vó Lila resolveu perguntar para a minha outra avó, Stella Moro, se meu pai estava namorando a minha mãe, já que ele “vivia” na casa da família dela. O engraçado é que foi depois desse episódio que meu pai sentiu que podia estar começando um namoro”.
Na década de 1950, Orlando passou mais uma temporada em São Paulo e aprimorou seus conhecimentos sobre cirurgia. Entre outros grandes nomes da Medicina no Brasil, ele trabalhou com o famoso cardiologista Dr. Zerbini - que realizou o primeiro transplante de coração no Brasil.
“Ele era um homem bastante rígido, mas não era difícil entendê-lo. Meu pai vivia cansado, pois o chamavam para fazer cirurgias em qualquer horário e ele ia”, relata.
Fanático por longas viagens, ele estava numa pescaria em família no Rio Araguaia quando foi procurado por índios de uma tribo Carajás. “Havia uma índia com tuberculose na aldeia e eles só nos deixaram meu pai entrar porque era médico e podia ajudar a moça a se recuperar”.
Ele também foi o primeiro cirurgião paranaense a abrir o peito e massagear o coração de um paciente em céu aberto, já que não havia tempo de levá-lo até uma sala de cirurgia. “Só que ele nunca nos contou isso, pois era modesto. Ficamos sabendo através de um colega dele”. Deixa a esposa, cinco filhos e quatro netos.”