06/11/2018

Homenagem aos Pioneiros: Prof. Dr. Carlos Cunha (CRM-PR 119)

Um dos fundadores da Sociedade de Dermatologia, compôs o primeiro corpo de conselheiros eleitos. Dos filhos, quatro seguiram a Medicina, profissão também escolhida por duas netas

O Dr. Carlos Cunha (CRM-PR 119) era um dos dermatologistas mais respeitados e reconhecidos do Paraná. Nascido em 2 de novembro de 1905 na Fazenda Samambaia, em Jaguariaíva (interior do Paraná), foi o quinto filho do político e fazendeiro Eurides da Cunha. O patriarca foi prefeito da cidade interiorana, prefeito de Curitiba, deputado estadual e federal e vice-governador do estado.

Dos 12 irmãos de Carlos Cunha, Ruy e Renato seguiram o caminho do pai, se formando em Direito e depois atuando como deputados estaduais. Já ele e outro irmão, Domingos Cunha, seguiram por outro caminho: a Medicina. Ambos se formaram em 1930 foram diplomados pela Faculdade Nacional de Medicina no Rio de Janeiro.

clique para ampliarclique para ampliarDr. Carlos Cunha, em quatro momentos de sua trajetória. (Foto: Arquivo)

Os recém-formados criaram então a “Sociedade dos Doutorandos de 30”, que se reunia periodicamente e organizava viagens no Brasil e no exterior. Domingos atuou em Minas Gerais, contraiu tuberculose e faleceu moço. Carlos permaneceu no Paraná, mas durante a revolução de 1932 foi convocado e serviu como médico em São Paulo, tendo “dado baixa” como capitão-médico.

Retornando a Curitiba, logo começou sua carreira na função de médico dos servidores da Rede Ferroviária Federal. Ali vinha à tona sua essência humanitária e de cuidado com os mais humildes. Percorria os lugares mais distantes, madrugadas adentro, sem se abalar pela falta de recursos e dificuldades que o meio lhe impunha. Também atendeu em ambulatórios de Curitiba, realizando consultas domésticas e no meio rural.

Em 1938, retornou à UFPR, dessa vez como doutor, docente livre em dermatologia, atividade que exerceu por mais de 40 anos, se aposentando quando chegou à sua sétima década de vida. Registros da época e depoimentos de estudantes demonstram que ele sempre foi um mestre humilde, ético e bondoso com seus pupilos, adotando uma postura que evitava o castigo, prezando sempre o diálogo, a compreensão e a orientação rumo ao conhecimento

clique para ampliarclique para ampliarCarlos Cunha e a esposa. (Foto: Arquivo)

O Dr. Carlos Cunha também teve importante participação na representatividade da classe médica. Foi conselheiro do CRM-PR de 1959 a 1963, no primeiro quadro eleito pelo voto, e presidente da Secção do Paraná da Sociedade Brasileira de Dermatologia e Sifilografia, nas gestões de 1954 e 1968, tendo participado de sua fundação, em 1952, junto de outros vultos da Medicina paranaense.

FAMÍLIA DE MÉDICOS

A família foi parte essencial da trajetória do Dr. Carlos Cunha, especialmente sua esposa, D. Laura Munhoz Cunha, que era filha de Iphigenia de Macedo Munhoz e de Alcides Munhoz, que se destacou nas letras e na vida pública do Paraná. D. Laura, professora concursada do Instituto de Educação do Paraná, preferiu, no entanto, o árduo ofício de mãe de família. Foi com ela ‑ que era irmã do Dr. Milton de Macedo Munhoz, o primeiro presidente do CRM-PR ‑ que o Dr. Carlos Cunha compartilhou 66 anos de sua vida e teve oito filhos ‑ quatro dos quais se tornaram médicos.

clique para ampliarclique para ampliarDr. Carlos Cunha com Dr. Macedo, no Jubileu de Ouro. (Foto: Arquivo)

O Dr. Carlos Alberto Munhoz da Cunha (CRM-PR 1.098) foi o primeiro a ingressar na Medicina, graduando-se em dezembro de 1960 pela UFPR. Foi seguido do Dr. Eurides Cunha Neto (CRM-PR 1.245), que se formou pela UFPR em 1962 e se especializou em radiologia e diagnóstico por imagem. O Dr. Pedro Henrique Munhoz da Cunha (CRM-PR 2.303) concluiu a graduação na Federal em 1968 e obteve título de especialista em Pediatria, sendo que sua filha Mariana Faucz Munhoz da Cunha (CRM-PR 17.994) também seguiu seus passos e do avô, atuando hoje como nefropediatra. Por fim, o Dr. Luiz Antônio Munhoz da Cunha (CRM-PR 4.698) concluiu os estudos em 1975. Hoje, é professor titular da cadeira de ortopedia da Faculdade de Medicina da UFPR. Sua filha Ana Laura Loyola Munhoz da Cunha (CRM-PR 21.395) também é especialista em ortopedia e traumatologia.

DIPLOMA DE MÉRITO E FALECIMENTO

O Dr. Carlos Cunha faleceu em casa no dia 6 de agosto de 2000, cercado da família. Tinha 95 anos. Sua esposa faleceu em 2011, aos 98 anos, também cercada dos entes queridos. Eles deixaram oito filhos, 23 netos e 21 bisnetos.

clique para ampliarclique para ampliarInício da carreira. (Foto: Arquivo)

Inscrito no CRM-PR em agosto de 1958, o Dr. Carlos Cunha não foi apenas integrante do primeiro corpo de conselheiros eleitos, mas também compôs o primeiro grupo de 10 ilustres médicos paranaenses que recebeu, em 1986, o Diploma de Mérito Ético-Profissional por terem mais de 50 anos dedicados à atividade de forma exemplar.

Seus filhos também o seguiram no exemplo ético, sendo que os três primeiros a se formar já foram distinguidos com a comenda pelo Jubileu de Ouro. O Dr. Carlos Alberto, que faleceu em 2013, recebeu três anos antes a homenagem (2010). A honrosa deferência alcançou o Dr. Eurides em 2012, enquanto seu irmão, Dr. Pedro Henrique, foi homenageado em 2018.

VULTOS DA MEDICINA

O CRM-PR agradece os familiares do Dr. Carlos Cunha pela prestimosa cooperação na elaboração deste material jornalístico, bem como pela cessão de fotos.

Saiba mais sobre a motivação da série e os vultos da medicina paranaense clicando aqui.

 

clique para ampliarclique para ampliarConfraternização dos 50 anos dos doutorandos de 1930. (Foto: Arquivo)

 

Notícia da Gazeta 1989

Professor da cadeira de Dermatologia da UFPR, foi dos maiores especialistas nesse campo.

Moço ainda, professor da universidade, misturou-se aos calouros que se submetiam a prova escrita. Confundido pelos demais, dada a sua adolescência, foi convidado por um deles a sentar-se numa das cadeiras vazias, oferecendo-lhe cola. Imperturbável, o professor levantou-se e tomou assento na cadeira de examinador, seu lugar apropriado.

O calouro enrubesceu. Entregou a prova, encabulado e perdido. Compreensivo, o professor fulminou-o: “Se você colou direito, dou-lhe a nota, mas se cometeu erros, não passa!”.

Foi sempre, na cátedra ou no exercício da medicina, profundamente humano e tolerante.

 

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