23/04/2019

Homenagem aos Pioneiros: Prof. Carlos da Costa Branco (CRM-PR 459)

Anatomista pioneiro de Londrina, fez parte do primeiro corpo de conselheiros eleitos e também ajudou a fundar AML, Unimed e curso médico da cidade

Em 1958, o Dr. Carlos da Costa Branco era um jovem – e promissor ‑ médico que estava havia menos de uma década em Londrina, quando aceitou o convite para integrar a chapa 1, concorrente à primeira eleição para conselheiros do CRM-PR. Eleito como efetivo, tomou posse em 30 de maio de 1959, em solenidade que ocorreu na Reitoria da Universidade Federal do Paraná, em Curitiba. Tinha ao seu lado outros pioneiros de Londrina, os Drs. João Dias Aires, Adolfo Barbosa Gois e João Figueiredo.

clique para ampliarclique para ampliarProf. Carlos com a família. (Foto: Arquivo)

Inscrito no Conselho de Medicina em 24 de setembro de 1958, recebeu o número 459. Em 15 de outubro do mesmo ano, ocorreu a eleição, com a participação de 480 médicos (sendo 87 do interior), representando a grande maioria dos inscritos, que somavam 579 profissionais, embora as estatísticas indicassem que o número de ativos no Paraná já passasse de 1 mil. Além do apoio às atividades do Conselho, teve destacada liderança na classe médica e contribuiu para formação de profissionais de saúde. Participou ativamente da fundação da Associação Médica de Londrina, da Universidade Estadual de Londrina, do Departamento de Morfologia do curso médico e ainda da Unimed de Londrina.

Anatomista de renome

Nasceu em 5 de setembro de 1924, em Ribeirão Preto (SP). Concluiu o curso de Medicina em 1948. Integrava a 31ª turma da USP, Campus São Paulo. Realizou especialização em Cirurgia Geral na mesma escola, na cadeira do renomado Professor Benedito Montenegro, e também foi aluno do Prof. Renato Locchi (1896-1978), então um dos grandes nomes da Anatomia no Brasil. Chegou a Londrina em 1951, onde foi ativo no ensino e na prática médica por toda a sua vida, encerrada prematuramente em 6 de julho de 1976, após acidente automobilístico. Tinha apenas 51 anos.

clique para ampliarclique para ampliarPresença em evento médico há 55 anos. (Foto: Arquivo)

Até hoje é lembrado como excelente didata e anatomista. Em 1962, ministrou a primeira aula de anatomia para o curso de Odontologia, na então Faculdade Estadual de Odontologia de Londrina (FEOL). Também foi o professor pioneiro de anatomia para as turmas de Medicina, cujo curso foi iniciado em fevereiro de 1967, como Faculdade de Medicina do Norte do Paraná. Em 1970, a escola ganhou a nova denominação, com a criação da Universidade Estadual de Londrina.

Como profissional, além da cirurgia geral, o Dr. Carlos Branco também atuou nas áreas de ginecologia e traumatologia. Em sua homenagem, uma das escolas municipais de Londrina recebe o seu nome. Também o Museu Didático de Anatomia, da UEL, foi nomeado em reverência ao pioneiro, em 1997. Foi o Prof. Carlos Branco quem deu início ao museu, em 1962, ao doar pequena coleção de crânios de animais e, em seguida, iniciar a catalogação e etiquetagem ao acervo reunido.

clique para ampliarclique para ampliarDr. Carlos Cunha, em quatro momentos, incluindo palestras em conjunto com Prof. Zapatta. (Foto: Arquivo)

Família

Casado com D. Lidia Marques da Costa Branco, o Dr. Carlos Branco teve quatro filhos, o mais novo, Carlos Augusto Marques da Costa Branco, seguindo seus passos não apenas na Medicina como na docência, na mesma UEL. Nascido em Londrina, o Dr. Carlos Augusto (CRM-PR 8.183) concluiu o curso em dezembro de 1981, tendo obtido título de especialista em urologia. Os outros filhos do professor pioneiro são Lidia Maria, Vera Maria e Carlos José Marques da Costa Branco, engenheiro civil, doutor em mecânica dos solos e professor aposentado da UEL.

clique para ampliarclique para ampliarNo início da carreira acadêmica. (Foto: Arquivo)

O Dr. Carlos Augusto relembra: “Meu pai foi uma pessoa maravilhosa; um grande profissional e um grande homem também. Infelizmente, deixou-nos cedo demais, com apenas 51 anos de idade. Ainda hoje é lembrado pelos colegas médicos e conhecidos com muito carinho e como exemplo de retidão, ética e companheirismo, valores não muito presentes ultimamente. Sem dúvida eu e meus irmãos ficamos muito felizes com mais uma homenagem prestada ao nosso saudoso pai, que trabalhou como cirurgião geral desde a sua chegada em Londrina, no começo dos anos 50 até o seu falecimento”.

Homenagem

O Dr. Lucio Baena de Melo (CRM-PR 16.303), especialista em clínica médica e neurologia, foi aluno do curso médico do filho do ex-conselheiro do CRM-PR, o Dr. Carlos Augusto, no período de 1991-1992, quando conheceu um pouco mais da trajetória do mestre e pioneiro do ensino da anatomia em Londrina, prestando-lhe homenagem na passagem de seu aniversário, quando publicou texto nas redes sociais, convidando para que “os mais novos saibam lembrar a memória dos que dedicaram suas vidas à causa do ensino e da arte hipocrática”.

Formado em junho de 1997 pela UEL, onde é professor, o Dr. Lucio recorda que as aulas para o curso de Odontologia eram ministradas nos porões da Catedral de Londrina e, posteriormente, no Grupo Escolar Hugo Simas. Na época, o Prof. Carlos da Costa Branco tinha como colegas docentes Odila Santiago Eugênio e Máximo Gonzales Donoso. Em sua publicação, o Dr. Lucio relata que, em 1962, o Dr. Carlos instituiu a Missa ao Cadáver, ato em respeito àqueles que, depois da morte, ainda auxiliariam a vida.

clique para ampliarclique para ampliarMuseu de Anatomia, queb recebe o nome do professor. (Foto: Arquivo)

“Recordo que, em 1991, quando iniciava meus estudos no curso de medicina, assisti a Missa ao Cadáver e lembro da bela homenagem lida por minha colega de turma, a Dra. Leda Calil. Seguramente este costume foi adaptado da experiência que Prof. Carlos teve com seu austero professor de anatomia da FMUSP, o Prof. Renato Locchi. Este tinha por hábito, no primeiro dia de aula de anatomia do curso médico, mostrar um cadáver aos calouros e explanar sobre o respeito para com o corpo humano e para o que ele representa. Aquele cadáver indigente, que talvez em vida não obteve dignidade humana, agora, depois da morte, seria ofertado na manutenção da vida. Assim, toda a aura de respeito e de gratidão”, discorreu o Dr. Lucio.

 

Cidade de Londrina

Fundada em 10 de dezembro de 1934, através do Decreto Estadual nº 2519, Londrina experimentou grande desenvolvimento nas décadas de 50 e 60. No ano de 1961, com a região sendo responsável pela metade da produção global do café, Londrina ganhou o título de “Capital Mundial do Café”. A geada negra, em 1975, fez alterar o perfil econômico do Norte paranaense. Londrina, que fica a 381 km da Capital, tem população próxima de 600 mil habitantes, quase dobrando em sua área metropolitana e formando, assim, o segundo maior aglomerado urbano do Estado.

clique para ampliarclique para ampliarFicha de inscrição no CRM, em 1958. (Foto: Reprodução)

O curso médico da UEL foi iniciado em 1967 e concluiu sua primeira turma em 1972, com 38 formandos (confira aqui a lista), dentre eles o Dr. Fahd Haddad, hoje diretor da Santa Casa, que foi o hospital-escola do período da graduação; o Dr. Álvaro Luiz de Oliveira, um dos pioneiros da Delegacia Regional do Conselho em Londrina; e o ex-secretário estadual de saúde Luiz Cordoni Júnior, um dos mais destacados sanitaristas brasileiros e que faleceu em agosto de 2017. O primeiro grupo de formandos foi homenageado pela direção da Santa Casa em dezembro de 2017, na passagem do seu 50º aniversário e dos 45 anos da primeira formatura. A região de Londrina tem hoje 3.114 médicos em atividade, sendo 1.904 homens e 1.210 mulheres.

VULTOS DA MEDICINA

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