08/10/2018
Integrante do primeiro grupo de conselheiros, foi fundador e primeiro presidente da Sociedade Paranaense de Cardiologia; também dirigiu a Associação Médica do Paraná e teve dois filhos que seguiram seus passos na Medicina
O Prof. Dr. Arnaldo Moura (CRM-PR 23) fez parte do primeiro grupo de conselheiros eleitos para conduzir as atividades do CRM-PR, no período entre 1959 a 1963, e foi um dos grandes cardiologistas do Estado, tendo sido fundador e primeiro presidente da Sociedade Paranaense de Cardiologia, em 1966. Também foi presidente da Associação Médica do Paraná. Além disso, trabalhou por 40 anos na Santa Casa de Misericórdia de Curitiba e na Universidade Federal do Paraná, instituições para as quais muito contribuiu e teve profundo envolvimento na formação de profissionais médicos. Faleceu em 1991, aos 68 anos.
Era natural de Franca (SP), onde nasceu em 8 de maio de 1923, tendo se formado em dezembro de 1947 pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, então Capital Federal. Radicou-se no Paraná logo depois, tendo consolidado a sua carreira como médico e professor em Curitiba. Um dos filhos seguiu seus passos não só na Medicina e na especialidade, como também na docência e na representatividade do CRM-PR. O Dr. Álvaro Vieira Moura (CRM 9.444) formou-se em 1984 pela UFPR, especializou-se em Cardiologia e fez doutorado e pós-doutorado. É professor do curso de Medicina da Federal e foi eleito conselheiro em 2013 para a gestão até o fim de setembro de 2018, tendo ocupado a função de primeiro corregedor. A exemplo do pai, ele também presidiu a Sociedade Paranaense de Cardiologia (2012-2013).
O Dr. Arnaldo Moura, casado com D. Ruth Vieira Moura –
residente em Curitiba e com 92 anos ‑, teve cinco filhos. Além do Dr. Álvaro Vieira Moura, também a irmã Dra. Marina
Vieira Moura Lebbos (CRM-PR 6.247) seguiu a Medicina. Ela se formou em 1978 pela Evangélica do Paraná, optando pela Oftalmologia.
Três dos netos são médicos e tem ainda Andrea Moura, filha do Dr. Álvaro, que está cursando o terceiro ano da Universidade
Positivo. O primeiro a se formar foi Arnaldo Moura Neto (CRM-SP 119.940), pela Universidade Estadual de Campinas, em 2005,
e que é especialista em Clínica Médica e Endrocrinologia e Metabologia, além de títulos de mestre e doutor. A exemplo do avô,
também é professor de curso de Medicina. Raphael Moura Garcia (CRM-PR 23.594) formou-se pela Universidade Federal de Pelotas
(RS), em 2006, tendo obtido título em Cardiologia. A irmã do Dr. Raphael, Dra. Annelisa Moura Garcia, já atuou em Santa Catarina
e Paraná e atualmente exerce a atividade em São Paulo (CRM-SP 147.794). Ela se formou pela Federal do Paraná em julho de 2009.
Trajetória e pioneirismo
Na Universidade Federal do Paraná, o Dr. Arnaldo Moura foi professor de Clínica Médica, Clínica Propedêutica, organizador e primeiro chefe da disciplina de cardiologia e angiologia. Também foi chefe do departamento de Clínica Médica entre 1971 e 1973, período em que participou ativamente da reforma universitária (1971) e organização dos currículos plenos (1974).
Na Santa Casa de Curitiba (1949-1991), atuou como médico assistente e, eventualmente, chefe do serviço de Clínica Médica de Homens, além de ter sido vice-diretor clínico, de 1966 a 1967. Sua dedicação ao hospital era sem precedentes, tanto que alguns de seus maiores projetos foram destinados à instituição, como a Clínica de Emergências 24 Horas (que leva seu nome) e o Centro Coronariano Misericor ‑ um centro de tratamento intensivo para pacientes cardíacos.
Ele também teve influência decisiva na implantação da Residência Médica em Cardiologia. Ministrou aulas, dirigiu reuniões de revisão bibliográfica e supervisionou os trabalhos dos residentes e dos médicos integrantes da equipe responsável pela Residência, até as vésperas do seu falecimento. Quando faleceu, em 23 de dezembro de 1991, aos 68 anos, ainda trabalhava em outros dois projetos ambiciosos: a formação do Instituto de Cardiologia da Santa Casa e a Cidade da Fraternidade.
O Instituto teria como metas essenciais o aprendizado, aperfeiçoamento e especialização em Cardiologia, a serviço de médicos e de estudantes; desenvolvimento da pesquisa científica e tecnológica, cooperação a realização de estudos e pesquisas em saúde pública, assim como a prestação de serviços de assistência, na área da Cardiologia. A Cidade da Fraternidade, por sua vez, previa a criação de instalações adequadas para a assistência aos idosos e crianças, com atendimento global de todas as suas necessidades biopsicossociais, em sistema integrado.
Além da Santa Casa e da UFPR, ele foi bastante envolvido com a Associação Médica do Paraná, na qual foi 1º Secretário (1954), presidente da seção de cardiologia (1954 e 1958) e vice-presidente (1969-1971), chegando à função de presidente no mandato seguinte (1971 a 1973), tendo a sua foto na galeria dos dirigentes da instituição.
Dr. Arnaldo Moura era um médico que inspirava respeito, dono de um coração bondoso e pontualidade britânica - como bem sabiam seus alunos. Em vida, exerceu um trabalho silencioso, sem alarde, e sempre humilde, justo e com profundo sentido ético em relação aos doentes, aos fatos e às instituições.
Essa trajetória ilibada de dedicação humana à Medicina
lhe rendeu diversas homenagens. Entre elas, o título de cidadão honorário do Paraná (1975), diploma de Honra ao Mérito em
reconhecimento aos trabalhos prestados durante 25 anos de funcionamento do Hospital de Clínicas da UFPR (1986), diploma de
reconhecimento pelos 25 anos de dedicação à Pontifícia Universidade Católica (1984) e diploma de reconhecimento pelos 40 anos
de relevantes serviços prestados à Santa Casa de Misericórdia de Curitiba (1991). Ele prestigiou a solenidade inaugural de
entrega do Diploma de Mérito Ético-Profissional do CRM-PR, em 1986. Apesar de ter sido um dos grandes incentivadores do título,
ele faleceu antes de completar o jubileu de ouro. Além de vulto da Academia Paranaense de Medicina, ele mereceu uma das edições
da Galeria Médica, da Fundação Santos Lima. "Arnaldo Moura, um mestre da cardiologia paranaense" é o título da obra, assinada
pelo também médico Eduardo Corrêa Lima.
O duro caminho até a Medicina
Vindo de humilde família sergipana, ele nasceu em Franca (SP), em 1923, mas sua infância e adolescência se dividiram entre o município de Cascadura (RJ) e Juiz de Fora (MG). As frequentes mudanças de cidade se deviam ao trabalho de seu pai, Epaminondas Moura, pastor metodista que realizava pregações Brasil afora.
Mesmo a falta de condições financeiras não foi um impedimento para que o jovem Arnaldo Moura se destacasse nos estudos. De natureza dedicada e persistente, ele conseguiu uma bolsa no colégio Anglo-Americano, em Cascadura, com a ajuda dos professores da instituição em que estudava anteriormente. E, assim, quando terminou o colegial, ele e a família seguiram rumos diferentes.
Arnaldo e seu irmão, Erasmo Moura, resolveram se estabelecer em Juiz de Fora, enquanto os pais voltaram à estrada. Responsáveis agora pelo seu próprio sustento, os irmãos se dividiam entre os estudos no colégio Granbery e o trabalho. Arnaldo Moura, por exemplo, ajudava os professores com a correção de exercícios e quando chegou ao quarto ano do propedêutico já estava dando aulas particulares.
Terminada essa etapa, começou a se preparar para a carreira de médico. Durante o dia trabalhava como professor e à noite ia para um curso noturno complementar de Medicina. Essa rotina puxada e a condição financeira apertada, muitas vezes fizeram com que sua janta se resumisse a uma gema de ovo cru, a qual separava da clara, improvisadamente, na pia do banheiro de seu dormitório.
Em 1940, após terminar o segundo ano complementar de Medicina, vai ao Rio de Janeiro, onde conclui o Serviço Militar no CPOR que havia iniciado em Minas Gerais e se inscreve na Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil, na qual ingressou em 1941, aos 18 anos de idade - já portando uma experiência invejável na arte da sobrevivência e no conhecimento dos valores humanos.
Foi com esse currículo que, no mês de março de 1944, o terceiranista de Medicina chegou a Curitiba convocado como aspirante da reserva do Exército, para servir no corpo de intendência do 5º Regimento de Cavalaria de Curitiba – 5º RCD. Durante o ano que passou na cidade, conheceu aquela que seria sua esposa até o final de sua vida, Ruth Vieira, e decidiu que ali faria sua morada.
No ano seguinte voltou ao Rio de Janeiro, licenciado do Exército, e concluiu o curso de Medicina para, em 1948, iniciar sua carreira como médico na capital paranaense, quando ficou em primeiro lugar no concurso para médico do Instituto dos Comerciários. Em setembro de 1949, casou com D. Ruth e, dias depois, recebeu o convite para atuar como Professor Assistente da Faculdade de Medicina do Paraná, na cadeira de Clínica Médica. Era o início de uma longa jornada.
VULTOS DA MEDICINA
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