12/12/2019

Homenagem aos Pioneiros: Dr. Roaldo Amundsen Koehler (CRM-PR 324)

Formado pela UFPR em 1938, radiologista curitibano dedicou-se à prática médica e a importantes cargos públicos, tendo ainda atuado em sua segunda paixão, o jornalismo

Nascido em Curitiba em 1915 e formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) em 1938, o médico radiologista Roaldo Amundsen Koehler (CRM-PR 324) era filho de Leopoldo Koehler e Maria Amália de Souza Koehler. Seu nome é uma homenagem ao norueguês Roald Amundsen, que liderou a primeira expedição a chegar ao Polo Sul, no ano de 1911. Frequentou o antigo Instituto Santa Maria durante a educação fundamental, acolhendo a religião católica como fundamento que o acompanhou durante toda a sua vida pessoal e profissional.

clique para ampliarclique para ampliarFicha de inscrição do Dr. Roaldo no Conselho. (Foto: Reprodução)

Durante os anos na Faculdade de Medicina do Paraná, frequentou as enfermarias cirúrgicas e o contato com a Patologia Digestiva despertou seu interesse pela Radiologia. Após se graduar, mudou-se para o Rio de Janeiro para se especializar no serviço do médico curitibano Carlos Osborne da Costa. Na capital carioca, conheceu sua futura esposa, Lea de Castro Soares Koehler, então funcionária do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mudaram-se para Curitiba e casaram-se em 1945, tendo sete filhos: Eduardo, Paulo (que é fotógrafo e psicanalista), Marcos, Henrique (engenheiro florestal e professor da UFPR), Leopoldo, Maria e Denise.

Ao retornar à capital paranaense, Dr. Roaldo instalou um consultório particular de serviços médicos na área Radiológica, tornando-se um dos mais procurados da cidade. Como relata a obra “Patronos da Academia Paranaense de Medicina”, da qual o médico detém a cadeira de número 60, Dr. Roaldo instalou o Serviço Radiológico do Serviço Social da Indústria, tendo sido, ainda, um dos radiologistas do Núcleo Profilático Professor Pereira Filho, que cadastrava os casos de tuberculose pulmonar entre os universitários da cidade.

clique para ampliarclique para ampliarA vida com jornal era outra paixão do Dr. Roaldo. (Foto: Reprodução)

Atuação na esfera pública

Além da prática médica, o radiologista atuou em muitas frentes, ocupando posições de destaque. Secretário de Estado da Saúde no governo de Bento Munhoz da Rocha Neto, nos anos 50, foi também diretor clínico do Hospital Nossa Senhora das Graças. “O Hospital foi fundado pelas irmãs Vicentinas e iniciou o funcionamento em 1950. Roaldo assumiu a direção em 1956 e entregou-se com energia à tarefa de dotar o Hospital com uma estrutura moderna e eficiente. Reuniu um corpo clínico integrado por alguns dos mais renomados médicos da cidade pelo desempenho profissional e ético. Permaneceu na direção, ocupando diversos cargos, até 1977”, relata a Academia Paranaense.

Dr. Roaldo foi também conselheiro efetivo do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) na primeira gestão da autarquia, entre 1959 e 1963. Na Associação Médica do Paraná (AMP), ocupou o cargo de secretário-geral no biênio 1950-1951, sendo delegado à Assembleia Geral da Associação Médica Brasileira (AMB) em 1966 e 1967. Foi ainda membro do Conselho Científico da AMB por várias gestões e da Sociedade Brasileira de Radiologia.

clique para ampliarclique para ampliarArquivos do jornal Voz do Paraná, do qual foi editor. (Foto: Reprodução)

‘Voz do Paraná’

Foi por meio de sua atuação como médico, todavia, que o radiologista subsidiou talvez o seu maior sonho: publicar o jornal “Voz do Paraná”. O semanário havia sido criado pela arquidiocese de Curitiba por Dom Manuel da Silveira D´Elboux em 1956 e adquirido posteriormente por Koehler juntamente com os médicos João Átila Rocha, Amaury Munhoz da Rocha e Giocondo Villanova Artigas, além do engenheiro Euro Brandão, do empresário Marcos Baggio Filho e do escritor Geraldo Dallegrave.

O grupo fundou a gráfica Editora Voz do Paraná (Evopar), localizada no bairro Ahú. A publicação, que antes de ser vendida ao grupo era comandada por missionários claretianos, foi profissionalizada sob a gestão de Dr. Roaldo, tornando-se um importante veículo de notícias em plena época militar. Segundo o livro “Jornal Voz do Paraná – Uma história de resistência”, o médico possuía alma e coração de jornalista: “Dono de uma rede de contatos infindável, ele, com muito afinco, conseguiu se tornar um grande publisher da imprensa paranaense.”

Ao assumir a direção do semanário, em 1968, o médico liderou seu processo de modernização. Contratou os jornalistas Aroldo Murá e Celso Nascimento, além de outros profissionais que estavam sob a mira dos militares, como a ex-presa política Teresa Urban. Com origem e viés claramente católicos, o jornal ficou conhecido por sua abordagem social e humana da realidade. Para tanto, boa parte das despesas com a publicação era bancada com o trabalho de Dr. Aroldo como radiologista, à base de muitas abreugrafias, método brasileiro para examinar os pulmões dos pacientes com suspeita de tuberculose.

clique para ampliarclique para ampliarO médico tinha estreita ligação com a Igreja Católica. (Foto: Arquivo)

Paixão pelo Jornalismo

Conforme relata a obra sobre o jornal “Voz do Paraná”, o interesse do Dr. Roaldo pelo jornalismo já era visível nos anos de colégio, quando foi um dos coordenadores de uma publicação artesanal produzida pelos estudantes do Santa Maria chamada “Fura-Fura”. Sempre com um pé na Medicina e outro no Jornalismo, Dr. Roaldo foi também um dos responsáveis pela produção de boletins noticiosos da Associação Médica do Paraná (AMP).

Após o falecimento de seu diretor, o “Voz do Paraná” passou a ser comandado pelo jornalista Aroldo Murá e, depois, pelo advogado e também jornalista Antônio Senival Silva, que finalmente o vendeu para a Universidade Católica. A publicação – que recebeu novos nomes e formatos ao longo dos anos seguintes – saiu definitivamente de circulação em 2004, um ano após o falecimento da esposa de Dr. Roaldo, D. Lea, aos 89 anos.

Justiça social

Detentor de nobre personalidade, Dr. Roaldo possuía aguçado senso de justiça social, evidente em diferentes passagens do livro “Voz...”. Na época em que atuou como secretário de Saúde, o livro relata que o médico recusava presentes ou agrados enviados por empresas privadas, assim como não aceitava utilizar o carro ou o motorista cedido pelo governo. Trabalhava com o próprio veículo para economizar o dinheiro público.

“A preocupação social de Roaldo se mostrava em pequenos gestos. Na sala de espera de sua clínica, pobres e ricos ficavam no mesmo recinto. Pessoas da alta sociedade curitibana dividiam espaço com aqueles que muitas vezes viajavam por dias e dias, alguns sem condições de tomar banho, até chegar à capital para serem atendidos. Um de seus sócios pediu para que ele fizesse duas salas separadas. Roaldo recusou-se com veemência. Não tinha motivos para discriminar ninguém.”

clique para ampliarclique para ampliarDr. Roaldo (esq.), um dos pioneiros do Conselho. (Foto: Arquivo)

Saúde

Diagnosticado com diabetes desde os 40 anos de idade, Dr. Roaldo chegou a buscar tratamento nos Estados Unidos. Apesar disso, faleceu aos 68 anos, no dia 30 de janeiro de 1984. Em reportagem publicada pela “Gazeta do Povo”, em 2014, o jornalista José Carlos Fernandes resgata parte da história do “Voz do Paraná”, traçando impressões sobre o radiologista que usou os recursos adquiridos por meio da Medicina para financiar seu grande sonho.

“Na vida comum, era homem de leitura, piedade, trabalho pesado (...). O que ganhava em espécie fazendo abreugrafias ia para seu sonho – o jornal Voz do Paraná, obra que lhe consumiu todas as energias e economias. Quando se desfez da empresa, nos anos 1980, não tinha mais de onde tirar dinheiro.”

“Para muitos que apenas o conheciam superficialmente, o médico radiologista Roaldo Koehler poderia ser tido como um ‘cabeça dura’, tal a obstinação com que defendia seus pontos de vistas. Na verdade, ele era um homem de diálogo e dono de um dos corações mais moles que já conheci em minha vida”, relatou o jornalista Aroldo Murá em sua coluna no Diário Indústria & Comércio.

Vultos da Medicina

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