Em 16 de abril de 2001, o Paraná perdeu um dos seus mais queridos e renomados pediatras: o Dr. Plínio de Mattos Pessoa. Ele era natural de Curitiba e no próximo ano ocorre a passagem do centenário do seu nascimento. Foi o 2º secretário na primeira gestão eleita do CRM-PR, em 1959, ficando como membro efetivo até 1963.

Um dos seus feitos mais notáveis na pediatria foi a concepção e o incentivo à criação do Hospital Infantil Pequeno Príncipe, referência no Estado, e que foi inaugurado em 1971, precedido do Hospital de Crianças e do Hospital de Crianças Dr. Cesar Pernetta. Fez parte do grupo de oito médicos distinguidos pelo Conselho do Paraná, em 1992, com o Diploma de Mérito Ético-Profissional, na passagem dos 50 anos de exercício da atividade de forma exemplar.

Ele esteve à frente do Departamento Estadual da Criança e por duas vezes foi presidente do Departamento de Puericultura e Pediatria da Associação Médica do Paraná (1955 a 1959), que mais tarde ganharia a denominação de Sociedade Paranaense de Pediatria (SPP). A comenda de Pediatria Clínica da SPP foi batizada em sua homenagem.

Formado pela UFPR, em 1941, Plínio de Mattos Pessoa contribuiu para a criação da UTI do Hospital Pequeno Príncipe e também trabalhou na Associação de Proteção à Maternidade e à Infância Saza Lattes. Nascido em 2 de julho (dia do hospital) de 1919, o Prof. Plínio lavrou em certa ocasião a um de seus alunos: “A única coisa que você não pode fazer é deixar de ser médico. A medicina é a última missão que vai lhe restar”. Entre os descendentes está a neta Ana Beatriz Pessoa Machado (CRM-PR 31.660), que não apenas seguiu seus passos na Medicina como na especialidade, a pediatria. Ela se formou em julho de 2013 pela UFPR. Dentre os familiares médicos estão os sobrinhos Drs. Paulo Ramos David João (CRM-PR 7423) e Miguel Anciutti Pessoa (CRM-PR 3.586), que também seguiram seus passos na Pediatria. O Dr. Paulo é o atual chefe das UTIs geral e cirúrgica do Hospital Infantil Pequeno Príncipe, onde a neta Dra. Ana Beatriz faz residência. O Dr. Miguel, por sua vez, faleceu em julho de 2015, aos 68 anos.

“Obrigado Doutor”

Em artigo publicado no jornal Gazeta do Povo, com o título “Obrigada Doutor Plínio”, a escritora Alzeli Bassetti homenageou o médico, exaltando seu caráter ilibado e sua humanidade na relação com os pacientes. Reproduzimos abaixo trecho da coluna publicada por Alzeli Bassetti, premiada em primeiro lugar no concurso de monografia de ética médica do CRM-PR de 1993, que versou sobre o tema “A importância do relacionamento médico-paciente”:

“Era homem de grande paz; homem de muita vida. Que tratava a um só tempo da vida espiritual e do frágil, porém potencialmente grandioso organismo infantil. Que amava, atendia, mitigava e apascentava seus pequeninos clientes, tal como o Nazareno agia com as crianças que o seguiam nas circunvizinhanças da terra natal. Como esse na evangelização, também ele no desempenho da Medicina estabelecia com os pacientes um vínculo firme, sadia cumplicidade entre aquele que sofre e aquele que consola. Eram cidadãos de menor idade, dignos de direitos, respeitadas as muitas diferenças e humores.”

“Fez do pouco falar e do muito escutar características notáveis. Sabia que o afeto penetrava nos seres humanos pelo ouvido. Assim ouvia os pequeninos, interpretando gestos, decodificando resmungos, traduzindo choros, apesar da parca comunicação que lhes era própria. Através da acurada ausculta e não menos aprimorada apalpação, extraía o conteúdo para o diagnóstico e terapêutica corretos. Depois, valendo-se da dileta verdade, desprovido de qualquer demagogia ou mistério, expunha com serenidade e clareza aos familiares a realidade sempre objetiva. Correspondia em plenitude ao conceito de outro esculápio, Walter Benevides: ”Quem é bom médico? Não é necessariamente aquele que cura, muito menos aquele que mais sabe. Bom médico certamente é aquele em quem o paciente confia”.

Prosseguia o artigo: “Por isso foi muito amado e respeitado. Confiança, credibilidade, respeito e amizade foram semeados e colhidos por ele ao longo de nobre vivência, na diuturna missão de abrandar aflitos de todas as idades. Pois havia o cliente e suas circunstâncias! Do raiar do sol ao findar do dia, não raro avançando a noite ou adentrando a madrugada, o grande e humanista clínico atendia os pequenos. Gerações devem-lhe a vida, a integridade física, o amparo moral, o modelo ético, a competência profissional. Honesto, solidário, modesto, humilde, era um autêntico. Tinha plena consciência da obrigatoriedade do cidadão ser o que deve ser, caso contrário não se estima e não grangeia estima, não é feliz e a ninguém faz feliz.”

E mais adiante assinalou: “Raríssimos levaram a lares e a quartos hospitalares tanta e tamanha doação, tanta esperança, tanto consolo, tanta felicidade. Cidadão exemplar, profissional ilibado, mestre formador de notável equipe, amigo leal, esposo, pai, avô e genro devotado, por onde atuou deixou lastro indelével de probidade e ampla visão.”

O Centro Médico Plínio Mattos Pessoa, que funciona no bairro Batel, em Curitiba, é outra homenagem ao Dr. Plínio. Também uma rua no bairro Cidade Industrial de Curitiba reverencia o ilustre médico. O seu nome também designa a UTI Geral do Hospital Pequeno Príncipe. A Comenda Dr. Plínio Mattos Pessoa é entregue anualmente pela Sociedade de Pediatria, na passagem do Dia do Pediatra. Quando do falecimento do médico e professor, em abril de 2001, o então governador Jaime Lerner decretou luto oficial no Estado.

VULTOS DA MEDICINA

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