02/08/2019
Formado pela UFPR em 1939 e descendente de tradicional família de médicos com origem na Bahia, foi 1º delegado efetivo do PR para o CFM e o 8º presidente do CRM-PR, entre 1973 e 1976
Pertencente a uma tradicional família de médicos com origem no Estado da Bahia, o Dr. Pedro Emílio Cerqueira Lima Neto (CRM-PR 109) representa uma geração de médicos de família cuja dedicação à sociedade e àqueles que mais necessitam da Medicina foi sua principal característica. Nascido em 30 de março de 1918, na cidade de Curitiba, era filho do médico e professor Dr. Álvaro Emílio Cerqueira Lima (1882-1940) e sobrinho do médico baiano Dr. Pedro Emílio Cerqueira Lima Júnior.
Filho de Dona Francisca Novaes Cerqueira Lima, Dr. Pedro Emílio Cerqueira Lima Neto formou-se pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) em dezembro de 1939. Ainda acadêmico, ingressou no Hospital de Caridade da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba no ano de 1937, sob a supervisão de seu mentor e amigo, professor Mario Braga de Abreu (CRM-PR 458). Ao longo de quase seis décadas, dedicou-se fielmente à instituição, tornando-se Chefe de Clínica em 1949 e, após a morte de seu mentor, em 1981, sucedendo-o na Chefia do Serviço de Cirurgia.
Conforme relatou em discurso o acadêmico Dr. José Fernando Macedo (CRM-PR 5.584), na ocasião de sua posse como membro titular da Academia Paranaense de Medicina (APM), em março de 1997, o Dr. Pedro Emílio foi um referencial para muitas gerações de médicos que ajudou a formar, compartilhando sua preocupação com o aprimoramento científico e dedicação aos pacientes. “Extrovertido, sempre de bom humor, foi uma dessas figuras que irradiam afetividade, simpatia e respeito”, afirmou. Dr. Macedo é o atual ocupante da cadeira de nº 3 da APM, que já foi ocupada por Dr. Pedro Emílio e cujo patrono é seu pai, o Dr. Álvaro Emílio Cerqueira Lima.
Ao longo de sua carreira, Dr. Pedro Emílio foi docente na Universidade Federal do Paraná (UFPR), atuando como professor assistente de Clínica Cirúrgica e professor adjunto de Cirurgia Geral (a Santa Casa de Curitiba funcionou como hospital-escola da UFPR de 1915 a 1961, passando a apoiar, também, a partir de 1956, os alunos de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná). Foi ainda professor titular de Clínica Cirúrgica da Escola de Enfermagem Madre Léonie (a qual posteriormente deu origem à PUCPR).
Além disso, chefiou o serviço de Cirurgia do Hospital Cajuru entre 1959 e 1969 e o serviço de Cirurgia e Traumatologia do Pronto-Socorro Municipal entre 1965 e 1966. Trabalhou também como médico concursado do Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários (IAPI), onde exerceu a superintendência médica e a chefia do serviço de Perícias Médicas.
O Dr. Pedro Neto também era sobrinho-neto do médico Domingos Emílio de Cerqueira Lima e do dentista Alfredo Emílio Cerqueira Lima, que atuaram em Salvador.
Defesa da profissão
A despeito da intensa atividade profissional, Dr. Pedro Emílio Cerqueira Lima Neto atuou fortemente na defesa da profissão, com preocupação especial no desenvolvimento de um espírito associativo na classe médica. No dia 8 de agosto de 1958, realizou sua inscrição no incipiente Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR). Neste conselho, se tornaria o primeiro delegado efetivo representante do Paraná no Conselho Federal de Medicina (CFM), cuja posse se deu concomitantemente à solenidade de posse do primeiro grupo de conselheiros eleitos para o CRM-PR, ocorrida em 30 de maio de 1959, no auditório da Reitoria da UFPR. No decorrer dos anos seguintes, foi eleito conselheiro efetivo nas gestões 1963-1968, 1973-1978 e 1978-1983, tornando-se o oitavo presidente do CRM-PR entre outubro de 1973 e março de 1976.
Entre os anos de 1958 e 1960, Dr. Pedro Emílio presidiu a Associação Médica do Paraná (AMP), entidade na qual atuou, ainda, como secretário-geral, vice-presidente, presidente da Assembleia de Delegados, membro da Comissão de Defesa Profissional, dentre outras funções. Em sua gestão como presidente da AMP, foi lançado o primeiro veículo informativo de notícias da entidade, em abril de 1958, o “Notícias Médicas”.
Na Associação Médica Brasileira (AMB), exerceu os cargos de 3º tesoureiro (1959/1961), vice-presidente para a Região Sul (1963/1965), presidente da Subcomissão Eleitoral e de Estatuto (1965), e foi também membro da Comissão de Medicina Assistencial (1965/1967). Todas essas contribuições renderam-lhe o título de Sócio Benemérito da AMB, concedido em 1969. Na Academia Paranaense de Medicina, foi presidente de 1989 a 1991. Faleceu no ano de 1995, aos 77 anos, na mesma Santa Casa à qual dedicou sua vida profissional.
De acordo com relato do acadêmico Dr. José Fernando Macedo, o Dr. Pedro Emílio considerava a Santa Casa a família que não constituiu, por ter sido um celibatário convicto. Mesmo dedicando mais de meio século à Medicina, morreu na pobreza, fato sobre o qual se referia com bom humor, dizendo que a “aposentadoria compulsória” era, de fato, “expulsória”. Seu rico legado, todavia, segue como inspiração atemporal àqueles que escolhem seguir a Medicina.
Dr. Álvaro Emílio Cerqueira Lima
Segundo o Almanak Administrativo Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, o Dr. Álvaro Emílio de
Cerqueira Lima (1882-1940), pai do Dr. Pedro Emílio Neto, era um dos 45 médicos que atuavam na capital paranaense
ao final da década de 1930. Dr. Álvaro era filho do coronel Pedro Emilio de Cerqueira Lima (1831-1913), político
baiano que, por sua vez, era descendente do português José de Cerqueira Lima (1755-1812), traficante de escravos.
Dr. Álvaro chegou ao Paraná no ano de 1912 em busca de um clima melhor para a saúde. Casado com
D. Francisca Novaes Cerqueira Lima, atuou na mesma Santa Casa de Misericórdia de Curitiba (inaugurada em 1880) a que
anos depois seu filho se dedicaria. Foi professor da Faculdade de Medicina, dirigindo a Saúde Pública e o Serviço
Médico da Força Militar. Foi também deputado estadual pelo Paraná nos biênios 1921-1922
e 1922-1923.
Conforme ainda o discurso do Dr. José Fernando Macedo, o Dr. Álvaro percorreu o interior do Estado para levar atendimento à população mais afastada da capital, algo bastante incomum à época: “No lombo do cavalo, enfrentou o isolamento e o desconforto do interior, a falta de vias de comunicação e de transportes. Enfim, a penúria das grandes viagens até os lares mais humildes, onde sua presença era uma verdadeira caridade”. Assim, Dr. Álvaro Emílio construiu seu legado de abnegação em prol dos pacientes e da saúde pública.
Dr. Pedro Emílio Cerqueira Lima Júnior
Nascido em 30 de abril de 1868, o Dr. Pedro Emílio Cerqueira Lima Júnior era o irmão mais velho do Dr. Álvaro Emílio e casado com Amalia de Souza Monteiro. Formou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia – a primeira do Brasil, fundada em 1808, logo após a chegada da Família Real ao País – em 1890, e em Farmácia em 1897. Foi professor da mesma instituição em que havia estudado, que passou a ser denominada Faculdade de Medicina e Pharmácia da Bahia (1897). Trabalhou no Hospital Português da capital baiana entre 1890 e 1906.
Entre 1896 e 1897, serviu em hospitais provisórios de Salvador no atendimento às vítimas da Guerra de Canudos, que ocorria no interior do estado, resultando em milhares de mortos e falecidos. Assim, foi professor do Hospital Dupuytren – Arsenal de Guerra, que era destinado aos pacientes em estado mais grave, por ser o mais próximo da estação ferroviária onde eram desembarcados. Ali, foi o professor assistente responsável pela Enfermaria Lannelongue. Também atuou como assistente da 2ª Cadeira de Clínica Médica em 1891 e preparador da 2ª Cadeira de Clínica Cirúrgica, em 1895.
Foram suas colegas de turma a Dra. Amélia Pedrosa Benebien, que foi a segunda mulher diplomada pela Faculdade de Medicina da Bahia, e ainda a Dra. Ephigênia Veiga.